Por Williams Ferreira e Marcelo Ribeiro*
No último mês de janeiro, grande parte das lavouras do Centro Norte do Brasil, abrangendo os estados do Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Bahia registrou volumes de chuvas acima da média. Já a Região Sul do país tem experimentado eventos de seca prolongada, com temperaturas acima da média do período.
O fenômeno ENOS
As temperaturas abaixo da superfície do oceano, em janeiro, estavam acima do normal partindo do Oeste em direção à região Central, e abaixo do normal na parte Leste do Pacífico Equatorial (Figura 1).
A intensidade dos ventos alísios que convergem no Pacífico Equatorial, soprando do Leste na parte mais baixa da troposfera, ainda se encontram próximo do normal, e as atividades convectivas no entorno da linha de data (posição de 180º na Figura 1) se encontram somente um pouco abaixo do normal. Tais condições atmosféricas e oceânicas são semelhantes àquelas observadas no início de um evento La Niña. Portanto, considera-se que o La Niña ainda se mantém na atualidade. Os principais centros de previsões climáticas do mundo estimam o fim do La Niña para a segunda metade do outono, com previsão do retorno para as condições de neutralidade (quando não ocorre um evento El Niño ou La Niña).
As temperatura nos próximos meses
Na Figura 2 as áreas em tons azuis, vermelhos, laranja e amarelo representam as anomalias das temperaturas com base na média desse elemento meteorológico para o período considerado. Os tons azuis representam as áreas que têm probabilidade aumentada (superior a 40%) das temperaturas ocorrerem abaixo do tercil superior, e os tons variando entre o amarelo e o vermelho representam as áreas que têm probabilidade aumentada (superior a 40%) das temperaturas ocorrerem acima do tercil superior ao longo de março até maio. Objetiva-se, com a Figura 2, destacar apenas as áreas com a probabilidades superiores a 40%, sendo portanto, que as demais regiões em branco não representam valores dentro da média.
Em março, as temperaturas devem permanecer acima da média na região Sul do Brasil e na parte litorânea entre o Pará e Alagoas. Em abril e maio é esperado que em quase todo o Brasil as temperaturas ocorram dentro da média do período. Sendo que na parte Leste de Minas e no Espírito Santo são esperadas temperaturas abaixo da média do período.
As chuvas nos próximos meses
Na Figura 3, as áreas em tons marrom, bege e verdes representam as anomalias das precipitações com base média das chuvas para o período considerado. Os tons marrons e bege representam as áreas que têm probabilidade aumentada (superior a 40%) das chuvas ocorrerem abaixo do tercil superior, e os tons variando em verde representam as áreas que têm probabilidade aumentada (superior a 40%) das chuvas ocorrerem acima do tercil superior ao longo de março até maio.
Nos meses de março a maio é esperado que a “falta de chuvas” se intensifique em toda a região Sul chegando até ao Mato Grosso do Sul. A tendência é que em março ocorra redução das chuvas também no Sul de Minas, Rio de Janeiro e no Espírito Santo.
Diferentemente do que tem ocorrido nos últimos meses, em abril o volume de chuvas será reduzido nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo e Goiás, que poderão apresentar chuvas dentro da média do período. Em maio, as chuvas poderão ficar dentro da média em quase todo o Brasil, sendo previstas chuvas acima da média somente na faixa litorânea do Nordeste brasileiro, no Noroeste do Pará, no Nordeste da Amazônia e em Roraima.
A chuva nos próximos dias
Até o início de março, o volume acumulado de chuvas deve diminuir na região Sudeste do Brasil, sendo que o maior volume de chuvas deve ocorrer em Goiás, na parte Centro-Sul de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Norte de São Paulo.
Umidade do solo
Até o dia 13 de fevereiro em Minas Gerais, solos com umidade variando entre 90 e 100% foram identificados nas regiões: de Paracatu, que fica no Noroeste; de Patrocínio, Patos de Minas e Araxá e na porção Leste de Uberlândia e Uberaba, que ficam no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba; na porção Oeste de Bom Despacho, na região Central Mineira; em Piumhi e Campo Belo, no Oeste de Minas; em Passos, Varginha, Alfenas e São Lourenço, Sul de Minas; em Lavras, que fica no Campo das Vertentes; e em Juiz de Fora e Manhuaçú, na Zona da Mata.
Já os solos que se encontravam com umidade variando entre 40 e 60 % foram identificados em Frutal e Ituiutaba, que ficam no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba; Salinas, Janaúba e Grão Mogol, que ficam no Norte de Minas; Araçuai e Pedra Azul e a porção mais ao Norte de Capelinha, que ficam no Vale do Jequitinhonha; em todo o Vale do Mucuri; e em Governador Valadares e Aimorés, que ficam no Vale do Rio Doce.
Destaca-se que as localidades mais secas no estado com a umidade do solo variando entre 30 e 40% são: Pará de Minas e Florestal, que ficam na microrregião de Pará de Minas; em Rio Pardo de Minas, que fica na microrregião de Salinas, e em Ataláia, que fica na microrregião de Teofilo Otoni. Porém, as fortes chuvas ocorridas após 13 de fevereiro devem contribuir para mudar esse cenário.
Café
O excesso de chuvas nas principais regiões produtoras de cafés do país nos últimos meses contribuiu para que o controle de plantas espontâneas, as pulverizações e outros tratos culturais fossem prejudicados, dificultando, assim, a recuperação dos cafezais. Por outro lado, as chuvas acima da média podem favorecer o período de enchimento dos grãos e, consequentemente, a qualidade final dos frutos da próxima safra.
O produtor deve estar mais atento àquelas lavouras que foram podadas, sendo, portanto, necessário atenção redobrada nas “desbrotas”, nas pulverizações para controle das deficiências, principalmente de boro e zinco, bem como também no controle de pragas e doenças.
Nos plantios novos a atenção deve se voltar para o “pegamento” das mudas, pois existe a possibilidade de morte destas, sendo necessário o replantio o mais rápido possível, enquanto os solos ainda estão úmidos.
Considerando que ainda estamos no meio do verão, a probabilidade de ocorrência de chuva de granizo diminui cada vez mais, entretanto,esse fenômeno ainda pode, eventualmente, ocorrer de modo isolado. Nesse caso, se constatada a ocorrência de perdas, o produtor que contratou uma apólice de seguro rural deve acionar esse instrumento de política agrícola que o protege, principalmente, na ocorrência das adversidades climáticas. O produtor que já possui um contrato de crédito rural, na ocorrência desse sinistro, deve procurar a sua instituição financeira e fazer a notificação, bem como solicitar a prorrogação do contrato de crédito rural já existente.
Normalmente, o custo do seguro é alto e de pequena adesão, mas, diante de situações climáticas indesejáveis pode amenizar perdas maiores. Nos últimos dias os preços do café voltaram a subir e existe a tendência de serem melhores nos próximos meses. Diante do atual cenário, os produtores devem ponderar sobre a possibilidade de fazerem suas vendas parceladas, de acordo com suas necessidades, retendo os cafés de melhor qualidade para serem vendidos posteriormente.
Prognóstico
As análises e os prognósticos climáticos aqui apresentados foram elaborados com base nas estatísticas e nos históricos da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se, também, as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; pelo Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; pelo Met Office Hadley Centre; pelo Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; pelo Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (Divmet) do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET. (5º Disme) / CPTEC-Inpe.
O prognóstico climático faz referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas. Desta forma, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano ou prejuízo que o leitor possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas no texto. Portanto, é de total responsabilidade do leitor o uso das informações aqui disponibilizadas.
*Williams Ferreira é pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG Sudeste na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais e cafeicultura. - williams.ferreira@embrapa.br .
*Marcelo Ribeiro é pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. mribeiro@epamig.br.