Por Rodrigo Costa*
A capacidade de Jair Bolsonaro de se meter em confusões com declarações que não lhe ajudam a aglutinar o imprescindível apoio para aprovar reformas essenciais ao Brasil impressiona e levanta preocupações sobre as chances de executar a agenda liberal prometida em campanha, a qual Paulo Guedes tem comandado com embates difíceis.
O presidente, ao falar e tuitar demais, fornece munições para seus adversários, os quais estão mais preocupados no poder do que fazer algo sustentável a longo prazo para a economia do País e para a população.
Olhando para o mercado de café, o receio é a conjuntura permitir a reconstrução de um quadro de dar arrepios, como, por exemplo, o de 2001/2002, quando uma maxidesvalorização do Real e a proximidade de uma safra brasileira recorde – acima de 52 milhões – levou Nova Iorque e Londres para mínimas históricas, US$ 41.50 centavos por libra-peso e US$ 345 por tonelada, respectivamente.
Não estou dizendo que veremos níveis tão baixos, na verdade neste momento acredito que o chão do mercado fique entre US$ 80 e 85 centavos por libra-peso no arábica e US$ 1100 a 1200 por tonelada no robusta. Entretanto, se o Real entrar em uma espiral de desvalorização descontrolada, podemos ter de revisar estes níveis.
A melhora no fluxo de negócios, principalmente no Brasil, ajudou o contrato “C” a voltar a cair, também empurrado pela queda acentuada de Londres.
Com a colheita avançando por aqui, assim como na Colômbia e no Peru, a necessidade de vendas incrementa e o dólar americano firmando coloca um teto provisório nos mercados futuros, dando aos fundos mais confiança em renovar suas apostas de baixa.
Chuvas no cinturão de café brasileiro podem prejudicar a qualidade, caso se prolonguem muito nesta época, entretanto, agora a demanda por dinheiro para pagar o item mais custoso da produção está pesando mais.
Em meio à firmeza do basis, os agentes que precisam cobrir suas vendas e suas necessidades naturais de compras têm sido forçados a pagar diferenciais historicamente caros, após terem cansado de aguardar uma janela de enfraquecimento na reposição/exportação que não aconteceu.
O congresso colombiano aprovou uma contribuição de US$ 6 centavos por libra-peso sobre a exportação de café do país e subiu os requisitos de umidade para importações do produto, medidas que tentam amenizar a crise sofrida pelos seus produtores.
Em sua segunda estimativa para a safra 2019/2020, a Conab aponta uma produção total de 50,92 milhões de sacas, sendo 36,98 milhões de arábica e 13,9 milhões de conilon – grande parte do mercado trabalha com uma expectativa para o conilon entre 18 e 20 milhões de sacas.
Tecnicamente, o contrato de julho da ICE precisa respeitar 87,60 para evitar que os especuladores pressionem as cotações para os US$ 84,00 centavos por libra que vimos pela última vez em 15 de novembro de 2004 – ano cuja mínima foi 66,00 no dia 5 de janeiro.
Um fechamento acima de 92,25 pode trazer alguma recompra dos fundos, mas para tanto talvez precisemos ver o Banco Central entrando para diminuir a volatilidade e a depreciação do Real.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting