Por Williams Ferreira e Marcelo Ribeiro*
No último mês, o tempo seco e o calor anômalo no inverno têm dominado a maioria das áreas agrícolas do Brasil. Tal condição climática deverá passar por mudanças a partir do próximo dia 22 de setembro, quando ocorrerá às 16h21 (horário de Brasília) o Equinócio de Primavera, dando início à estação que deverá estender-se por 89 dias.
A Primavera
O “Primeiro Verão”, ou Primavera, é a estação caracterizada pelo aumento gradual das temperaturas e pelo início da estação chuvosa em muitas regiões brasileiras. Essa estação pode representar o que se espera, climaticamente falando, do Verão que irá sucede-la, mas isso nem sempre é verdade. Com característica de temperaturas mais amenas, algumas primaveras podem ser mais quentes que as outras. Nessa estação a umidade relativa do ar se torna bem mais agradável do que no inverno, quando fica bem reduzida, e o tempo de duração dos dias e das noites são mais próximos.
O fenômeno ENOS
Os modelos do Grupo Multi-Model norte-americano, divulgado pelo Instituto Internacional de Pesquisa para o Clima e a Sociedade-IRI em parceria com o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA (NOAA), prorrogaram para dezembro a possibilidade de confirmação de um evento La Niña fraco, decorrente de um resfriamento do oceano que deverá ser seguido por um retorno as condições ENOS-neutras no próximo ano.
Na Figura 1 é possível observar esse resfriamento anômalo que tem se formado desde julho na porção mais centro-leste do Oceano Pacífico equatorial próximo a linha de data (longitude 0 graus, Figura 2). Tal condição deverá influenciar principalmente as condições térmicas da próxima primavera.
As chuvas nos próximos meses
Para Minas Gerais, no mês de outubro, a probabilidade é de que o volume de chuvas ocorra acima da média. Nas mesorregiões do Triangulo Mineiro/Alto Paranaiba e Sul/Sudoeste de Minas essa probabilidade é um pouco menor, ainda assim são esperadas chuvas acima da média. Nas messorregiões Norte e Nordeste do Mato Grosso; nas microrregiões de Rio Formoso, Gurupi e Dianópolis, no Tocantins; no Extremo Oeste e no Sul Baiano, e nos Estados de Rondônia, Goiás, Rio de Janeiro e Espírito Santo também são esperadas chuva acima da média em outubro.
Em novembro, as chuvas devem continuar a ocorrer acima da média em todo o estado de Minas Gerais, com exceção das mesorregiões do Triangulo Mineiro/Alto Paranaiba e Sul/Sudoeste de Minas. Em todo o Estado, a maior probabilidade é esperada para as mesorregiões dos Vales do Mucuri e do Rio Doce, Zona da Mata, Campo das Vertentes e Metropolitana de Belo Horizonte. Nas porções mais extremas do Sudoeste e Sudeste do Pará e do Norte e Nordeste do Mato Grosso, no Matopiba, na mesorregião Centro Sul e Sul baiana, na porção mais ao Sul do Vale do São Francisco da Bahia, nos estados do Tocantins e do Espírito Santo, também são esperadas chuvas acima da média no mês. Em toda a região Sul do Brasil e em grande parte do estado de São Paulo são esperados volumes de chuva abaixo da média.
Em dezembro, o estado do Tocantins e toda a região Nordeste, com exceção do Rio Grande do Norte, apresentam probabilidade de que as chuvas fiquem acima da média. Especialmente nas mesorregiões Sudeste, Centro Norte e Norte do Piauí; Centro Norte e Nordeste baiano e para a porção mais ao Norte do Vale do São Francisco da Bahia. Em Minas Gerais, a maior probabilidade de chuvas acima da média é esperada para os Vales do Rio Doce e Mucuri. Neste mês o volume de chuvas deve ficar abaixo da média no Rio Grande do Sul.
Considerando o trimestre outubro a dezembro, a probabilidade é de que as chuvas fiquem acima da média para a maior parte do Brasil. A exceção ocorre na região Nordeste nas microrregiões do Vale do Ipanema, Sertão de Moxotó e Pageú, em Pernambuco; na mesoregião de Borborema e do Sertão Paraibano, Jaguaribe e o Norte cearense, bem como em todo o estado do Rio Grande do Norte. Na região Norte, a exceção ocorre para o Baixo Amazonas, no Pará, em São Paulo, no Mato Grosso do Sul e no Sudoeste de Goiás. Nos estados da região Sul é esperado que o volume de chuvas ocorra abaixo da média do trimestre.
As temperaturas nos próximos meses
Em razão da a chegada das chuvas e da influência do resfriamento da região central do Atlântico Norte neste período do ano, no mês de outubro em Minas Gerais a probabilidade é de que as temperaturas ocorram abaixo da média nas mesorregiões do Vale do Rio Doce, Zona da Mata, Campo das Vertentes, Oeste, Central, Noroeste e Metropolitana de Belo Horizonte. Em Goiás, temperaturas abaixo da média são esperadas no Norte e no Leste. No estado do Tocantins e nas mesorregiões sudoeste e sudeste do Pará e Norte do Mato Grosso, bem como na microrregião do Norte Araguaia, também no Mato Grosso, as temperaturas também poderão ocorrer abaixo da média no mês.
Em novembro, é esperado que as temperaturas ocorram um pouco abaixo da média do mês na parte mais ao Sul da Zona da Mata mineira e nos municípios de Andrelândia, São Lourenço, Itajubá e Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas, e também na região do Campo das Vertentes. Considerando o trimestre de setembro a novembro, é esperado que as temperaturas ocorram um pouco abaixo da média nos municípios de Ubá, Cataguases e Viçosa, na região da Zona da Mata Mineira. Uma área mais central do Brasil envolvendo grande parte dos estados do Pará e do Maranhão, todo o Tocantins e a mesorregião Nordeste do Mato Grosso, Sudoeste Piauiense, Extremo Oeste baiano e Norte de Goiás, também poderão apresentar temperaturas abaixo da média no mês.
Em dezembro, temperaturas abaixo da média do mês são esperadas somente nos estados do Maranhão e Piauí, bem como na messoregião do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. No Pará, Amazonas, Mato Grosso, Tocantins e Goiás são esperadas temperaturas dentro da média do mês.
As próximas semanas
É esperado que até o final de setembro, o maior volume de chuvas ocorra no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, nas regiões Metropolitana de Curitiba e litorânea de São Paulo, nos estados do Rio de Janeiro, do Espírito Santo e no Sul da Bahia.Em Minas Gerais, o maior volume de chuvas será acumulado nas mesorregiões Sul/Sudoeste, Zona da Mata e Campo das Vertentes.
Café
A má distribuição das chuvas vêm provocando déficit hídrico em regiões produtoras de café, pelo segundo ano consecutivo. Os cafeeiros se encontram, atualmente, muito desfolhados em função do prolongado período sem chuva, da geada ocorrida em algumas regiões e do ataque de pragas e doenças. Para garantir o vingamento das floradas e dos chumbinhos, alguns fatores importantes devem ser considerados, em especial o controle fitossanitário, que mantém a planta sadia e enfolhada. Isso, principalmente, no atual momento em que tem sido observadas lavouras com aumento da incidência de ferrugem tardia e grande infestação de bicho mineiro, além do ácaro.
Com a possibilidade de ocorrência de chuvas com volume acima da média a partir do início da primavera e a probabilidade de que as temperaturas ocorram abaixo da média, os produtores devem aproveitar o período seco de fim de inverno para preparar os solos para o plantio da próxima safra no início da estação chuvosa. Recomenda-se a coleta e a análise de solos para o planejamento das futuras adubações. Outra atividade que deve ser realizada com base nos resultados obtidos a partir de uma análise de solos é a calagem. Nesta atividade o produtor deve estar atento para que o calcário seja distribuído principalmente sob a saia do café. A calagem de cobertura é um manejo para fornecer suprimento de nutrientes, cálcio e magnésio, para as plantas.
Prognóstico
As análises e os prognósticos climáticos aqui apresentados foram elaborados com base nas estatísticas e nos históricos da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se, também, as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; pelo Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; pelo Met Office Hadley Centre; pelo Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; pelo Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (Divmet) do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET. (5º Disme) / CPTEC-Inpe.
O prognóstico climático faz referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas. Desta forma, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano ou prejuízo que o leitor possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas no texto. Portanto, é de total responsabilidade do leitor o uso das informações aqui disponibilizadas.
*Williams Ferreira é pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG Sudeste na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais e cafeicultura. – williams.ferreira@embrapa.br.
*Marcelo Ribeiro é pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. mribeiro@epamig.br.