Por Aldir Alves Teixeira*
Dependendo do ano, das condições climáticas e do número de floradas poderemos ter ou não uma maturação homogênea, ideal para produzir um café de qualidade. Todos nós sabemos que, para a produção de cafés descascados, o momento ideal para iniciar a colheita seria aquele em que o cafezal apresente porcentagem elevada de frutos maduros, mínima de frutos verdes e antes que haja uma queda acentuada de frutos passas e secos no chão.
Na prática, porém, a maioria dos cafeicultores não inicia a colheita nesse momento ideal. Isso ocorre por uma série de motivos, sendo que os principais estão relacionados com a mão-de-obra disponível, a maturação heterogênea dos frutos e a infraestrutura existente na propriedade para o preparo e a secagem do café.
Porém, o que pouca gente sabe é avaliar e exprimir em números os prejuízos sofridos pelo cafeicultor em função da maior ou menor porcentagem de frutos verdes colhidos.
Para quantificar esses valores e os prejuízos causados aos produtores, coletamos amostras das principais regiões cafeeiras. Os cafés depois de secos foram beneficiados, separados por peneiras em grãos normais, verdes (imaturos), ardidos, pretos e seus pesos foram calculados, como pode ser visto na tabela abaixo:
Esse quadro mostra que grãos de uma mesma peneira, com formas e tamanhos iguais, têm pesos diferentes. A diferença de pesos entre os grãos normais, verdes, ardidos e pretos é altamente significativa quando se considera o prejuízo que ocasiona ao cafeicultor em uma safra.
Para quantificar esse prejuízo, tomou-se como base o peso médio dos grãos normais, verdes, ardidos e pretos e a porcentagem média de ocorrência desses defeitos nas amostras analisadas. A porcentagem média dos defeitos encontrados foi a seguinte: verdes = 8,52%, ardidos = 2,86% e pretos = 0,46%, num total de 11,84%.
Tomando por base esse exemplo de média dos defeitos encontrados e a diferença de peso entre os grãos normais e grãos verdes, ardidos e pretos, verificou-se que tal fato ocasionou um prejuízo por diferença de peso, por saca beneficiada, na ordem de 2,524kg.
Essa perda total de 2,524kg é dada pela somatória representada por 1,312kg (grãos verdes), 0,984kg (grãos ardidos) e 0,228kg (grãos pretos).
Considerando-se somente o defeito verde e a sua diferença de peso em relação aos grãos normais, verificou-se que os prejuízos aumentaram consideravelmente à medida que cresce a porcentagem de frutos verdes colhidos.
Tal fato pode ser facilmente comprovado na tabela abaixo, com as perdas resultantes do menor peso dos grãos imaturos, em diferentes porcentagens, em 1.000, 5.000 e 20.000 sacas.
Esses prejuízos são ocasionados apenas pela diferença de peso, que o cafeicultor não vê, mas aumentam significativamente se considerarmos também o custo do rebenefício necessário para que um determinado lote de café seja enquadrado no padrão illy (tipo 3).
Se tomarmos como exemplo um café colhido com 25% de defeitos verdes (considerando-se só esse defeito), ele seria classificado como tipo 6-45, o que corresponde a 153 defeitos em 300 gramas.
Para enquadrarmos esse café no tipo 3, com 12 defeitos, precisaríamos eliminar 141 defeitos em 300 gramas, o que corresponde a 108,5 sacas em 1.000 sacas.
O cafeicultor precisa saber o prejuízo causado pela colheita de frutos verdes. O exemplo apresentado deve servir de alerta e de exemplo para que os prejuízos sejam os menores possíveis.
Diante dos resultados e dos prejuízos que poderão ser causados ao produtor, sugerimos algumas recomendações importantes para a próxima safra:
1- Conduzir tecnicamente as lavouras cafeeiras, com especial atenção na adubação, evitando assim menor desenvolvimento dos frutos e consequente diminuição do seu peso e tamanho;
2- Iniciar a colheita quando houver uma menor porcentagem de frutos verdes, desde que não haja queda acentuada de frutos secos;
3- Utilizar lavadores e separadores de verdes na seleção dos frutos em vários estágios de maturação, possibilitando uma secagem mais rápida e homogênea;
4- Controlar para que a temperatura de secagem dos frutos colhidos verdes não seja superior a 30ºC na massa do café, evitando o aparecimento de defeitos preto verdes;
5- Lembrar que o defeito verde pesa menos que um grão normal e prejudica o seu bolso e a qualidade final do seu café.
*Aldir Alves Teixeira é Doutor em Engenharia Agronômica, é Consultor Científico da illycaffè no Brasil e Diretor Geral da Experimental Agrícola do Brasil