Por Rodrigo Costa*
O senado americano não deu o montante de dinheiro requerido para Trump construir o muro na divisa com o México, mas o presidente resolveu decretar “estado” de emergência, alegando questão de segurança, para acessar os recursos ao invés de paralisar o governo parcialmente mais uma vez – depois de ter lhe custado caro politicamente quando o fez em dezembro.
Pragmaticamente o mercado gostou da solução e ainda mais das indicativas de Donald sobre uma possível prorrogação nas discussões com a China sobre temas da guerra-comercial que aparentemente caminha para um acordo entres as duas maiores economias do planeta.
As bolsas encerraram a semana em alta entre 2% e 4.5% nas Américas e Europa, o dólar americano apreciou e os índices de commodities também firmaram.
O café tomou carona para afundar quando o Real tocou 3.79, na quinta-feira, mas não conseguiu levantar do tombo, ainda mais com o spread do março/maio enfraquecendo e com o contrato de maio atingindo os preços do contrato de março – para a alegria de quem faz cash-and-carry (carrego de estoque).
A máxima de que um mercado baixista é aquele que não dá suspiros para dar oportunidade de vendas – assim como um mercado altista não fraqueja o suficiente para dar chances aos compradores – ratifica as apostas de baixas dos fundos e dos fundamentos baixistas, que já duram mais de dois anos.
Diferenciais mais firmes para todas as origens tentam amenizar um pouco os efeitos do terminal negociando a US$ 1 por libra, mesmo que insuficiente. O indicador deveria em algum momento refletir na bolsa, mas o contraponto é o crescente estoque certificado – que não deveria ocorrer caso houvesse algum aperto de oferta.
No Brasil as chuvas para o mês de fevereiro continuam abaixo da média com prognósticos de precipitações isoladas e aumento de temperatura. O mercado tem zero de precificação de um ajuste para uma produção menor no ciclo 19/20, natural diante de exportações generosas e a percepção de disponibilidade confortável.
Por falar em exportações, o Brasil embarcou 3,285,202 sacas em janeiro, um recorde para o mês.
Um dado interessante divulgado na sexta-feira foi o estoque de café verde nos Estados Unidos, caindo 78,053 sacas no mês de janeiro. Pelo que se observa do fluxo de café e inventários no destino a demanda tem sido muito boa, sinal animador para o médio e longo prazo – mais ainda para quem conseguir sobreviver o período de vacas magras.
Noticias de que a Etiópia planeja triplicar sua produção em cinco anos com um plano de substituição de árvores velhas potencialmente poderia levar aquele país a se tornar a terceira maior origem do mundo – atualmente são colhidas 7.2 milhões de sacas. Ganhos de produtividade vindas de variedades melhores e espaçamentos mais modernos de fato podem elevar em muito safras futuras, mas outros gargalos têm de ser resolvidos.
A queda do terminal por ironia coincide com uma pesquisa entre traders do mercado, divulgada pela Reuters, onde os participantes veem o preço do arábica 25% mais alto até o fim do ano – será que estavam comprados e foram forçados a liquidar parte de suas apostas?
O fechamento da semana assim como o Commitments of Traders mostrando os fundos comprando 6,177 lotes na terceira semana do ano quando o terminal subiu apenas US$ 2.40 centavos por libra, deve manter os baixistas no controle. É de se imaginar que a posição atual dos especuladores esteja em torno de 63 mil lotes vendidos – bem menos do que alguns acreditam.
A semana que se inicia será encurtada pelo feriado do Dia do Presidente dos Estados Unidos, nesta segunda-feira.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting