Por Santino Aleandro
Sem sombra de dúvida, o café é uma das culturas mais importantes do agronegócio brasileiro. Presente em grande parte dos estados de Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Espírito Santo e Bahia, não é apenas relevante para a balança comercial, mas também é responsável por gerar uma grande quantidade de empregos no setor, desde pequenas a grandes lavouras. Segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafe), foram exportados mais de 30 milhões de quilos do grão brasileiro de julho de 2017 a junho de 2018.
Para que a produtividade se mantenha crescente e competitiva em relação a outros mercados, é fundamental que os agricultores se atentem aos riscos de as lavouras serem afetadas por insetos, doenças e pragas. Em relação aos nematoides, por exemplo, estima-se que sejam responsáveis por perdas superiores a 10% na produção nacional de café atualmente. Caso não sejam devidamente controlados, este prejuízo pode alcançar patamares ainda maiores nos próximos anos.
Descobertos na cafeicultura brasileira no fim do século XIX, pelo pesquisador suíço Emílio A. Goeldi, os nematoides das galhas se desenvolvem nas raízes das plantas, impedindo que água e nutrientes sejam transportados das raízes para a parte aérea da cultura atacada, reduzindo assim sua capacidade vegetativa. A partir do momento em que começam a parasitar o cafeeiro, eles ocasionam o engrossamento radicular e resultam em uma grande drenagem da energia que é produzida pelas plantas. No Brasil, as espécies que mais têm causado transtornos e danos à cultura são Meloidogyne exigua, Meloidogyne incognita e Meloidogyne paranaensis.
Para reverter este quadro, é fundamental que o agricultor priorize o cultivo de mudas sadias, se possível com resistência genética ao patógeno, e tenha atenção com a condução de máquinas nas lavouras para evitar o risco de transporte dos organismos de uma região para outra. Da mesma forma, ele não deve abrir mão de algumas medidas, como a utilização de plantas de cobertura resistentes ao nematoide e a realização anual do manejo integrado, que contempla adubação adequada, aplicação de nematicidas químicos ou biológicos, capazes de minimizar os ataques e reduzir a ação da doença.
É preciso alertar ainda para a necessidade de exercer estas medidas de forma estratégica, para impedir a chegada dos nematoides em regiões onde ainda não há históricos expressivos ou mesmo a introdução de novas espécies que parasitam o cafeeiro onde essas não estão presentes. Regiões produtoras como o Cerrado brasileiro e os principais estados produtores devem ser priorizados quanto ao levantamento da ocorrência e monitoramento para minimizar a disseminação, em especial de M. paranaensis, cujo ataque pode levar a planta ao depauperamento e à morte em poucos anos. Diante dos altos custos de investimento para a renovação de áreas cafeeiras, a peça-chave reside na importância de se manter a longevidade das lavouras, de forma que todo este cuidado reflita, na mesma proporção, em retorno econômico ao produtor e café de qualidade ao consumidor.
*Santino Aleandro é assistente de pesquisa em nematologia do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR).