Por Marcelo Fraga Moreira*
Ao invés do mercado seguir em alta e com novas máximas, na semana de 30 de novembro a 4 de dezembro, ocorreu tudo ao contrário. O café caiu -5,13% (saindo de 128,60 para 122,00 centavos de dólar por libra-peso) e o Real valorizou +5% (saindo de 5,39 R$/US$ para 5,12 R$/US$). Fundos! Onde vocês estão? O que estão vendo que o mercado ainda não viu?
Aparentemente a previsão de chuvas abundantes até dia 17 de dezembro foi o estopim para esse “banho de água-fria” (segundo a previsão do World Weather, Inc.).
Segunda-feira e terça-feira, no setembro/2021, vimos o mercado negociar nos “highs” da semana a 128,60 centavos de dólar por libra-peso com volume razoável nesses dois primeiros dias (43.500 lotes na segunda-feira e 44.000 lotes na terça-feira). Já na terça-feira o mercado não aguentou e praticamente negociou nas mínimas da semana de 122,90 centavos de dólar por libra-peso (a mínima da semana foi na sexta-feira 122.00 centavos de dólar por libra-peso). O setembro/2021 fechou cotado a 122,45 centavos de dólar por libra-peso. E o Real a 5,12 R$/US$.
Na terça-feira o estrago já estava feito com o mercado oscilando 570 pontos (não tendo forças para seguir trabalhando acima da resistência da média móvel dos 50 dias 127,40 centavos de dólar por libra-peso). Setembro/2021 fechou a semana abaixo do primeiro importante suporte da média-móvel dos 10 dias a 123,80 centavos de dólar por libra-peso. Agora precisamos ficar atentos nos próximos suportes de 117,60/20 centavos de dólar por libra-peso (respectivamente o suporte da média-móvel dos 21 dias e o suporte da média-móvel dos 50 dias). Será que vamos ver isso acontecer?
Os fundos terminaram a semana comprados em +23,737 lotes. Com baixo volume negociado na quinta-feira e sexta-feira podemos supor que os produtores se retiraram do mercado (20.700 lotes negociados na quinta-feira e 24.000 lotes negociados na sexta-feira).
Para os produtores que não aproveitaram as oportunidades das últimas semanas, seja via a compra de “Put-Spreads” vendendo as “Calls” e vendendo as NDF (cambio futuro) para travar a remuneração em Reais/saca (garantindo um “piso/teto” em Reais/saca entre 600-800 R$/saca) o prejuízo/frustração foi enorme. A remuneração para o produtor na semana caiu aproximadamente -12% (saindo de 670 R$/saca para 580 R$/saca)! Se o mercado seguir caindo, for buscar os 117,00 centavos por libra-peso e o Real os 4,70 R$/US$ o cenário será ainda pior com, com a liquidação para o produtor podendo voltar a ficar abaixo dos 500 R$/saca.
Negócios para o próximo ano praticamente pararam com os produtores ainda almejando preços acima dos 650 R$/saca.
No mês de novembro investidores estrangeiros entraram com mais de 3.5 Bilhões de dólares no Brasil, via mercado financeiro. Bancos já sinalizam o Real valorizando para 4,70 R$/US$ (conforme informado no nosso “comentário semanal” anterior).
Estados Unidos estão tentando aprovar novo pacote de estímulos (entre 1-2 TRILHÕES de US$) para manter a estabilidade/crescimento da sua economia. Existe muito dinheiro “especulativo” nas mãos dos bancos/fundos procurando remuneração para seus clientes. Com os juros próximos de zero em muitos países o mercado de commodities poderá ser fortemente favorecido.
Economias ao redor do mundo seguem crescendo, com a renda per capita ultrapassando os US$ 2.000/per capita (segundo Jean van de Walle e sua publicação “The Next Commodity Cycle and Emerging Markets” esse é um importante sinalizador. Ele indica que quando essa patamar é atingido a demanda por commodities minerais/petróleo/energia e comida nesses países aumentam consideravelmente. Segundo este artigo, desde 1994 a renda per capita chinesa saiu de US$ 746 para US$ 7.784. Seguindo o exemplo da China outros países como Índia, Indonésia, Filipinas, Egito, Bangladesh, Kenya, Ghana estão crescendo ano após ano e já ultrapassando essa barreira dos US$ 2.000/per capita. Com a recuperação das economias após o término dessa pandemia e com o crescimento populacional nesses países a demanda por esses produtos continuará firme e forte!
Na quinta-feira a EDF&Man soltou sua estimativa para próxima safra com redução de -30%, para uma produção entre “café arábica e canéfora” ao redor dos 50 milhões de sacas (-10 milhões de sacas se comparado com o relatório do Rabobank divulgado na semana passada).
Neste mesmo relatório da EDF&Man foi apresentado um estudo da NOAA (Administração Oceanica e Atmosférica Nacional dos EUA) sobre o efeito La Nina podendo durar até o primeiro semestre de 2021. Se isso vier a ocorrer a probabilidade é alta para baixas temperaturas e risco de geadas durante o período da próxima colheita.
Então, por que o mercado caiu e poderá cair mais 500-1000 pontos nos próximos dias com tantos fatores “altistas”? Tirando o lado “técnico/gráfico” para nós essa queda não faz sentido e os preços deverão se recuperar em breve.
Graficamente o mercado estava indicando uma formação conhecida como “Ombro-Cabeça-Ombro invertida”. Acreditamos que esse movimento será de consolidação/lateralização de curto prazo. Em breve veremos os fundos voltando a comprar. Produtores já fixaram um bom volume para a próxima safra 21/22 e 22/23, e segundo nossas fontes, alguns produtores já estão preocupados com o “tamanho da quebra” e se serão capazes de cumprir com seus compromissos já assumidos.
Fatores altistas não faltam: período de seca durante os meses de agosto-outubro 2020 com quebra da próxima safra 21/22 já sendo estimada entre -10/-40%; problemas com produção na América Central; produtores brasileiros já sinalizando receio com seus contratos; valorização do Real frente ao US$, dentre outros.
Continuamos acreditando que o Set-21 poderá superar os 200 centavos de dólar por libra-peso! Os fundos deverão voltar a comprar e muitos produtores não terão “força” e/ou “coragem” para vender.
Para quem realizou a compra dos “Put-Spreads” quando o mercado estava nos “highs” das últimas semanas (entre 120-128,50 centavos de dólar por libra-peso) considerem vender essa posição e colocar o lucro no bolso. Ou, para os mais conservadores, mantenham os “Put-Spreads” nos livros, e aproveitem essa baixa para recomprar as “Calls” que foram vendidas a 130-150 centavos de dólar por libra peso (deixando assim o “upside” aberto para novas fixações).
Vamos seguir monitorando o clima, o cambio, desenvolvimento das lavouras, o interesse pela demanda, ritmo das exportações brasileiras, o apetite por parte das tradings/compradores/torrefadores no destino final, e o cenário político doméstico e internacional. Se tivermos geadas fortes em 2021 no Brasil e algum novo fator altista seguimos acreditando no mercado negociando acima dos 200 centavos de dólar por libra-peso!
Como sempre, cuidado com as “operações estruturadas” nos livros (os famosos acumuladores que podem dobrar, aparecer se o mercado negociar a X nível).
Não coloquem riscos desnecessários nos livros! Façam suas contas, lição de casa, e aproveitem as oportunidades!
Boa semana a todos!
*Marcelo Fraga Moreira atua há mais de 30 anos no mercado de commodities agrícolas e escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.
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Glossário:
** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
As informações são da Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.