Por Marcelo Fraga Moreira*
A semana de 7 a 11 de setembro teve novamente o mercado oscilando, tanto no câmbio, quanto em Nova York. O Real oscilou entre a máxima na terça-feira (8), a 5,4090 R$/US$, e mínima na sexta-feira (11), de 5,2594 R$/US$, fechando a semana com 5.3334 R$/US$. O café oscilou respeitando a forte resistência da média móvel dos 50 dias de 137,10 centavos de dólar por libra-peso e o importante suporte da média móvel dos 200 dias, 128,30 centavos de dólar por libra-peso. Na terça-feira, o vencimento dezembro/2020 registrou a amplitude da semana em 720 pontos, negociando entre a máxima e a mínima, respectivamente, 134,40-127,20 centavos de dólar por libra-peso, fechando a semana 132,45 centavos de dólar por libra-peso.
Com os juros americanos, da zona do euro e Japão próximos de zero, alguns analistas estão “especulando” que os fundos e investidores “vão ser obrigados” a tomar posições em ativos de risco, ações e commodities agrícolas/minerais para conseguirem rentabilidade para seus clientes. Junto a essa busca por rentabilidade, segue a expectativa para o US$ seguir desvalorizando contra o Euro e demais moedas mundiais, ajudando a fortalecer essa teoria.
No café os fundos voltaram a comprar e agora estão comprados em aproximadamente mais 37 mil lotes. Nesta primeira quinzena do mês, a falta de chuvas em algumas regiões no estado do Paraná, Sul de Minas e regiões produtoras dos estados de São Paulo, Bahia e Rondônia começou a gerar preocupações no mercado, com o desenvolvimento da próxima safra 2021/2022. A florada ocorreu em várias regiões e, se não chover até o final do mês, o risco de quebra poderá se acentuar.
Por outro lado, do lado “baixista” estamos recebendo informações onde várias cooperativas/armazéns nos estados de São Paulo e Minas Gerais estão com problemas de espaço, restringindo novas compras e recebendo apenas o produto de cooperados. A falta de containers começa a afetar e encarecer os custos logísticos, além de restringir o fluxo das exportações. Compradores também estão tentando comprar com prazo para pagar entre 30-45 dias, pois, como sabemos, alguns grandes bancos começaram a restringir as operações nos mercados agrícolas afetando as linhas de crédito. Produtores seguem buscando preços acima dos 650-700 R$/saca (algumas “moscas brancas” estão aparecendo com negócios sendo realizados entre 525-570 R$/saca para pagamento imediato em função da necessidade de caixa).
As principais tradings e cooperativas ficaram fora do mercado, realizando negócios pontuais para cobrir necessidade spot. Os mesmos seguem muito preocupados temendo o risco de eventual calote da entrega do produto por parte de alguns produtores (vários negócios foram realizados no primeiro semestre para “entrega futura” entre 450-500 R$/saca e agora alguns produtores desleais estão procurando revender seus produtos a 600/650 R$/saca).
Enquanto essa situação não for resolvida, mesmo se as cotações em Nova York subirem para os 150 centavos de dólar por libra-peso, possivelmente vários produtores não terão condições em aproveitar essas altas em função da falta de liquidez, interesse por parte das tradings!
Junto com esses problemas logísticos/comerciais começam especulações referente a redução da demanda nos principais destinos em função do aumento do preço (como falamos no relatório passado o café subiu +30% nos últimos 2 meses) e reflexo do desemprego e da crise econômica em função da pandemia.
Clima segue positivo nas outras partes do mundo, ajudando no desenvolvimento das lavouras, sem grande risco de quebra por enquanto na América Central e Colômbia.
Se romper o suporte da média móvel dos 200 dias, poderemos ver o dezembro/2020 negociar abaixo dos 115 centavos de dólar por libra-peso. Se a resistência dos 50 dias romper, poderemos ver os fundos aumentarem a posição para +40/45.000 lotes e as cotações para próximo dos 145/150 centavos de dólar por libra-peso. Fiquem atentos acompanhando os indicadores, pois sabemos que em um “mercado normal” o correto seria a média móvel dos 50 dias trabalhar abaixo da média móvel dos 100 dias e abaixo da média móvel dos 200 dias!
Desta forma, como o mercado seguiu consolidando na semana, repetimos as mesmas recomendações da semana passada, como segue: para os que estiverem com risco de chamada de margem no curto prazo, seguimos indicando a compra de Call-Spread 135-150 centavos de dólar por libra-peso no dezembro/2020.
Para safra 2021/2022, no setembro/2021, deve seguir na compra de Put-Spread em escala de alta de 135 x 105 centavos de dólar por libra-peso, vendendo a Call de 150 centavos de dólar por libra-peso próximo do “custo zero” (ou deixar em aberto a venda da Call para vender quando o mercado estiver próximo dos novos highs)! E junto com a compra do Put-Spread não esquecer de fixar o R$ futuro.
Como sempre: atenção com as operações alavancadas, com os acumuladores, com as estruturas que “aparecem/desaparecem/dobram” tanto para PRODUTO quanto para CÂMBIO, pois nessas horas costumam surgir as “operações com probabilidades mínimas de acontecer”!!
Uma excelente semana a todos!
** “Put-Spread” = compra e venda simultânea da opção de Venda com preço de exercício mais alto vendendo a opção com preço de exercício mais baixo;
*** “Call” = opção de Compra
*Marcelo Fraga Moreira atua há mais de 30 anos no mercado de commodities agrícolas e escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.