Por Rodrigo Costa*
O desemprego americano é de apenas 3.8%, quase 10% menor do que o brasileiro – uma tristeza para nosso País. Nossos políticos pouco se importam em estarem destruindo a esperança de profissionais que são formados a cada ano. O congresso retarda reformas importantes, o executivo faz colocações e discursos desencontrados e, para finalizar, o supremo se atém a despender perdulariamente o erário.
Para piorar, o agronegócio, principal motor econômico no Brasil, vai sendo testado com as cotações internacionais dos grãos, do açúcar e do café derretendo. Como “salvação”, ao menos o Real desvaloriza (na verdade, um reflexo direto da delicada situação econômica) para não prejudicar tanto a colocação de nossas matérias-primas lá fora. Produtores e empresários no Brasil são um exemplo de coragem e perseverança.
O mercado do robusta em Londres sofreu nova queda, abrindo espaço para Nova Iorque fazer novas mínimas, já que a arbitragem estreita entre as duas variedades limitaria uma baixa acentuada apenas do arábica.
O contrato “C” nos níveis atuais já machuca grande parte de quem produz café no Brasil, País mais eficiente, mas o robusta ainda pode ceder mais até atingir o suposto custo de produção de US$ 1,200 por tonelada do Vietnã e também o preço-mínimo de R$ 202,19 a saca do Ministério da Agricultura – temas polêmicos e de difícil convergência.
Como já mencionei em alguns comentários, Londres vai ser o termômetro para nos indicar o chão do arábica, ou seja, se assumirmos que o primeiro tem 135 dólares por tonelada para cair, o segundo ainda pode perder outros US$ 6 centavos por libra-peso.
Não custa mencionar que os mercados muitas vezes exageram, para cima e para baixo, motivo que me faz crer que, se o real não enfraquecer, Nova Iorque encontrará um “chão” entre US$ 80 e 85 centavos por libra – tem quem fale em US$ 70 centavos, credo!
A produtividade do conilon que está sendo colhida tem sido reportada como dentro do normal, diferente de uma quebra esperada em função do tempo seco no Espírito Santo e Bahia – é preciso ir acompanhando com a chegada de maior fluxo.
Muitos agentes falam que os produtores das principais origens estão segurando suas vendas, descontentes, claro, com os preços praticados. Aqueles que estão vendidos a descoberto (short) não estão tendo alento, muito pelo contrário, sofrimento que vem se acumulando há alguns anos.
O quadro atual não beneficia ninguém, nem mesmo os torradores. As empresas torrefadoras grandes e médias tem disciplinadas políticas de hedge, que em um mercado de preços baixos contínuos expõe coberturas, obviamente adquiridas a níveis sempre mais altos do que o atual.
Neste cenário abre-se uma brecha para empresas que compram da mão para a boca, pois, por exemplo, estas podem comprar o flat-price a 93 centavos e descontando o diferencial de 6 centavos negativos, ter o custo do café a US$ 87 centavos por libra peso – dando margem para pressionar a competição.
Fora isso há a preocupação em garantir o abastecimento de cafés de qualidade no longo-prazo, pois o desestimulo ao trato põe em risco a lavoura.
Nada disso muda a tendência atual de baixa, pois demora a ser digerido pelo terminal, dado o ciclo mais longo do café e as árvores ainda estarem respondendo ao cultivo exemplar dos últimos anos, quando os preços estavam excelentes.
Há de se ter paciência e disciplina para passar por este período de vacas-magras – fácil falar, sabemos, mas não se pode ignorar a realidade.
Uma das opções, além de controlar os custos na ponta do lápis, é aproveitar que o mercado tem um carrego enorme no terminal e ir garantindo ao menos preços menos desvantajosos para as safras futuras.
Não há bem que dure sempre, nem mal que nunca se acabe.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consultin