Por Rodrigo Costa*
As duas principais economias da região, Alemanha e Itália, têm tido crescimentos baixos e indicadores econômicos demonstrando um arrefecimento industrial.
Nos Estados Unidos, o crescimento PIB do segundo trimestre do ano foi maior do que o esperado, ajudado por um forte consumo – apesar das incertezas macroeconômicas.
A reunião do FED nos últimos dias de julho deve confirmar o corte do custo do dólar entre 0.25% e 0.50%, entretanto, com o estímulo monetário de outras regiões, a moeda americana teve um fortalecimento acentuado na última semana.
As bolsas de ações seguem fortes, inclusive com o S&P500 batendo um novo recorde de alta, mas os índices de commodities caminham para encerrar o mês em baixa, após subir em meados de julho.
O café em Nova Iorque não ficou ileso à pressão na maior parte das matérias-primas que compõem o CRB, voltando a negociar abaixo de US$ 100.00 centavos por libra-peso na última sexta-feira.
O clima brasileiro mais ameno tirou o receio dos operadores em voltar a vender os contratos de arábica e robusta, principalmente depois de muitos analistas e participantes do mercado (no Brasil) terem dito que as perdas da geada do final de semana do dia 7 de julho não foram relativamente significativas.
Segundo um relatório distribuído por uma respeitada trading internacional, o potencial da safra 2020/2021 foi reduzido em 2% (no arábica), ou seja, ao redor de 1 milhão de sacas (dependendo da base utilizada) e para alguns representantes da produção as perdas podem chegar até a 2 milhões de sacas.
O verão no hemisfério norte, com temperaturas elevadas tanto na América do Norte como na Europa, assim como as férias intercaladas das mesas de compras, contribui para uma demanda sazonal mais baixa, outro fator que tira um pouco o suporte aos preços do terminal.
Com a aproximação rápida do final da colheita da principal origem, a necessidade de gerar caixa por parte dos produtores diminui, e como ainda estamos a alguns meses da safra dos cafés suaves, é de se imaginar que o fluxo de café vai ser dosado caso a bolsa continue caindo.
Em outras palavras, os diferenciais voltam a estreitar e a alta vivida há mais de duas semanas fica confirmada como ter sido uma janela de oportunidade de cobertura de posições vendidas – vale notar que o inverno ainda não acabou no Brasil e outras frentes frias podem gerar algum movimento de alta.
O posicionamento dos comitentes divulgados semanalmente pelo CFTC exibe os fundos com uma posição vendida de “apenas” 24 mil lotes líquido ou 56 mil bruto-vendido, bem menos do que os 78 mil e 121 mil, respectivamente, no começo de maio último. Se o gráfico não tivesse voltado a uma figura tecnicamente negativa, os altistas teriam a seu favor o argumento de que os especuladores poderiam eventualmente se animar em ficar comprados – apesar do carrego do contrato e a percepção de oferta confortável (mundialmente falando).
Como não é o caso, e para piorar commodities em geral tem caído, não seria surpresa voltarmos a ver novas vendas entrando no mercado, ainda mais com juros mais baixos em um produto que a curva remunera quase 14% ao ano.
Por outro lado, os altistas podem dizer que os comerciais comprados, boa parte representando os torradores, estão basicamente com a menor posição desde dezembro de 2018. Segundo o COT de sexta-feira, o bruto-comprado dos mesmos está em 125,865 contratos, 39,083 contratos a menos do que, por exemplo, 2 de abril (164,948 lotes).
Os dados podem nos dizer que neste movimento todo de alta recente, pouco, ou nada, foi adicionado para a cobertura do flat-price (futuros) destes participantes, logo gerando uma necessidade de compra que deve acontecer em novas quedas.
Em suma: os fundos podem sim vender, mas encontrarão comerciais provendo algum suporte.
O único detalhe que não pode deixar de ser mencionado é a diferença de quanto o fundo pode vender de quanto os torradores podem comprar.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting