Por Rodrigo Costa*
Os investidores ficaram animados com a possibilidade do Reino Unido finalmente chegar a um acordo para a saída da União Europeia, provocando uma apreciação da Libra Esterlina em mais de 6% – durante a semana que se encerrou.
No sábado, a câmara dos comuns jogou um banho de água fria na expectativa, requerendo um adiamento da saída da região para analisar os detalhes do acordo, o que pode provocar volatilidade das bolsas.
Os índices de commodities fecharam ligeiramente positivos, menos do se imaginaria com o índice do dólar escorregando.
O Real brasileiro enfraqueceu até quinta-feira (17) - R$ 4,18 - e talvez, não por coincidência, o mercado de café caiu para próximo de US$ 92,00 centavos por libra. Na sexta-feira, o dólar americano voltou a negociar próximo de R$ 4,11 e o arábica em Nova Iorque fechou a semana acima de US$ 95,00 centavos, ou com US$ 2,00 centavos de ganho frente ao dia 11 de outubro.
Em Londres, o contrato de dez toneladas do canéfora (robusta), iniciado em 2008, fez uma nova mínima histórica, caindo fortemente apesar dos diferenciais firmes no Vietnã e tendo os fundos de investimento incrementado ainda mais suas apostas em baixas – atingido um novo recorde de posição vendida.
A colheita no segundo maior produtor de café do mundo ainda não atingiu o seu pico, segundo relatórios de operadores na região, ao mesmo tempo em que a demanda para aquele café tem se mostrado aquecida. Diluída como é a produção por lá, é de se imaginar um basis se mantendo forte por algum tempo, colocando em teste o apetite eventual que possa existir pelo canéfora a preços bem menores.
Para o “C”, o comportamento do dólar deve continuar ditando o intervalo e na falta de novidades veremos algumas subidas pontuais provocadas por coberturas dos vendidos, ou quedas que têm sido absorvidas por compras de comerciais.
Os estoques de café nos destinos subiram nos últimos meses.
Segundo a European Coffee Federation, 400.184 sacas foram adicionadas em julho último nos armazéns monitorados, perfazendo um total de 12.426.689 sacas – acima das 11.414.272 sacas de julho de 2018.
Nos Estados Unidos, o inventário subiu 127.925 sacas em setembro, para 7.352.234 sacas, bem mais do que as 6.438.220 sacas de setembro de 2018, segundo a Green Coffee Association.
No Brasil, as exportações de agosto se mantiveram acima das 3 milhões de sacas, ou para ser preciso, 3.232.296 sacas foram embarcadas no mês, acumulando 9.982.209 sacas nos três primeiros anos do atual ano-safra – comparado com as 9.160.929 sacas que foram exportadas em julho, agosto e setembro de 2018.
Os preços baixos das commodities agrícolas têm causado protestos em diversas partes do mundo, incluindo na Europa, onde pude ver manifestações na Holanda, por exemplo. Na França, o índice de suicídio no campo tem atingido níveis tristemente preocupantes, um dos motivos inclusive que pressionou o Macron a bater mais fortemente no Brasil durante a discussão dos incêndios na Amazônia.
A teoria de Malthus tem se provado errada com o crescimento populacional, encontrando maior produção de alimento, ainda que exista um grande desperdício e muitas pessoas passem fome em regiões pobres.
Os governos se esforçam para evitar uma nova recessão e mais dinheiro tem sido impresso para conter um arrefecimento das economias, mas os índices inflacionários em geral estão moderados, gerando pouco interesse de proteção em matérias-primas, ou pior, atraindo especuladores para se aproveitarem das commodities que dão algum retorno com o carrego, como o café.
Uma virada na tendência negativa do café só deve ocorrer com um enxugamento da disponibilidade no pipeline, com exportações menores e utilização dos estoques nos países consumidores, ou caso o Real firme bastante – o que não vai ajudar o Brasil isoladamente.
Ah, tem também sempre o risco climático, claro, que por ora não preocupa.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting