Estamos em um momento da cultura do café onde o tema principal está no “stress hídrico” de nossas lavouras. Muito se tem falado nas redes sociais, com análises técnicas competentes e opiniões relevantes que tratam do tema com bastante seriedade.
Em toda minha história de cafeicultor, eu não me lembro de um ano em que tivéssemos tão pouca chuva no período da safra em um cenário de manejo adequado das lavouras para um café de qualidade.
Contudo, o mesmo fator que se apresentava como um fator facilitador para a safra de 2020, se apresenta agora como um problema para a safra de 2021/2022, mesmo para as lavouras descansadas, isso porque a incidência dos chumbinhos e queimaduras nos botões estão se apresentando cada vez mais frequentes.
É normal em nossa região que haja um período chuvoso no mês de junho e julho, e depois em agosto, neste último mês menor que no primeiro período. Só que neste ano tivemos um padrão de chuvas diferente, ou melhor, uma ausência de chuva, o que se apresentou como um agente facilitador para que houvesse o amadurecimento das varas nos cafés, mas que não vingando a respectiva florada.
Em um momento histórico que vivemos, onde primeiro o desafio da colheita da safra de 2020 em meio à pandemia imposta pela Covid-19 e agora o cenário de seca comprometendo a safra de 2021, o desafio que nos fica é o de como nos organizar, por meio de estratégias que nos sejam reais, no sentido de adequadas a nossa realidade, para que possamos seguir com o negócio da cafeicultura firme, como vários produtos das commodities estão atravessando o mesmo período de seca em nossa região.
Parece estranho falar em crise e dificuldades em um momento de preços bons que nos encontramos. Mas a sabedoria dos antigos está em se preparar para os dias magros ainda nos dias de fartura, pois é onde se tem o que guardar e pensar com mais calma.
E é dentro deste cenário que peço aos amigos cafeicultores união para termos uma voz única, e possamos buscar por soluções e projetos para as pequenas propriedades, onde possamos ter integração da lavoura de café com pecuária, nutrição com compostagem, ou mesmo outras tecnologias que possam nos ajudar a superar este período de seca.
Podemos e devemos comemorar as vitórias de 2020, mas precisamos estar atentos aos novos desafios que já se apresentam para o próximo ano. Obrigado a todos pelo minuto de atenção!
*Fernando Barbosa é cafeicultor de São Pedro da União (MG).