Por Marcelo Fraga Moreira*
Após uma movimentação no setembro/2021 de 9.600 pontos nas duas últimas semanas (quando o mercado pré-geada saiu de 155,00 centavos de dólar por libra-peso – no dia 19 de julho – para negociar nas máximas do ano em 215,20 centavos de dólar por libra-peso – no dia 26 de julho – e fechar na sexta-feira da semana anterior a 179,55 centavos de dólar por libra-peso – no dia 30 de julho) esta semana (de 02 a 06 de agosto) foi totalmente “sem graça”. Setembro/2021 iniciou a primeiro pregão da semana caindo -640 pontos, fechando em 173,15 centavos de dólar por libra-peso (chegou a romper a importante resistência da média móvel dos 17 dias em 178,30 centavos de dólar por libra-peso e respeitou o suporte da média móvel dos 9 dias @ 172,40 centavos de dólar por libra-peso) e negociando um volume considerável com +84.033 lotes.
Os dias seguintes foram “lateralizados”, com o mercado oscilando entre as 2 médias móveis acima (entre a média-móvel dos 17 dias e o suporte da média móvel dos 9 dias). Setembro/2021 terminou a semana com 176,00 centavos de dólar por libra-peso.
O outro indicador oscilou na região “comprada” entre 35%-27%, negociando muito próximo da região “sobrevendido” (quando negocia abaixo dos 20%) o mercado começou a trabalhar com mais cautela. Na sexta-feira o indicador terminou ainda indicando “vendas” para a próxima semana e precisamos ficar atentos. Se o setembro/2021 romper agora o primeiro suporte a 175,50 centavos de dólar por libra-peso o próximo importante suporte está um pouco mais abaixo dos 164,60 centavos de dólar por libra-peso. As próximas resistências estão entre 177,40 e 194,30 centavos de dólar por libra-peso. Com novas previsões meteorológicas prevendo a possível entrada de novas frentes frias até o final desse mês de agosto e as incertezas com os danos reais causados pela crise hídrica prolongada, aliado aos efeitos ainda desconhecidos das 2 últimas geadas quem será “louco” para ficar “vendido” nesse mercado?
Os fundos+especuladores seguem comprados. Com base no último relatório do CFTC* a posição comprada no período aumentou +1.086 lotes, agora para +38.450 lotes. Ou seja, os fundos+especuladores continuam posicionados apostando em novas altas. Quando a bolsa de Nova Iorque aumentou o valor da “margem inicial” na semana anterior (aumentando de +4.000 US$/contrato para +9.000 US$/contrato) automaticamente o mercado foi se ajustando separando os “meninos dos homens”! Ou seja, para continuar operando nesse mercado “bolsos cheios” são uma condição “Sine Qua Non”.
O mercado interno segue nervoso com vendedores e compradores brigando na faixa dos 1.000 R$/saca para o café arábica. O canéfora (robusta) já chegou a negociar acima dos 600 R$/saca! Com a quebra real da safra do arábica acreditamos que o spread entre as duas espécies de café poderá fechar ainda mais nos próximos meses. A colheita da safra do canéfora (robusta) praticamente terminou e o número da produção final ainda não foi divulgado. O “mercado” continua sinalizando uma colheita entre 18-22 milhões de sacas. Por outro lado, a colheita da safra do arábica continua (aproximadamente 70-75% já finalizada) e a produção final segue sendo uma incógnita. O “mercado” sinaliza uma colheita entre 25-34 milhões de sacas. Ou seja, os números da safra 21/22 continua oscilando entre 43 e 56 milhões de sacas.
Produtores continuam aguardando as regras para a linha de crédito prometida pelo governo federal (ao redor de 1 bilhão de reais através de uma linha emergencial para o setor) para analisar se valerá a pena voltar a investir na recuperação das áreas afetadas pela crise hídrica e pelas geadas (para aqueles que têm condições em função do relevo das suas áreas e localização geográfica) ou decidir a começar a investir em novas culturas.
A próxima safra 2022/2023 tinha uma expectativa para ser uma nova “super safra” podendo produzir entre 70-75 milhões de sacas. A partir desse momento já começam a circular no mercado novas projeções/simulações para a produção da nova safra.
Por enquanto o menor risco de erros continua sendo referente a produção canéfora (robusta), pois as áreas produtoras dessa espécie não foram afetadas pelas geadas – apenas pela crise hídrica. Assim, poderá produzir entre 15-22 milhões, quiçá 25 milhões de sacas (o “quiçá” aqui em homenagem ao meu amigo Marcos Magalhães que diariamente, as 7:00 hrs em ponto, no seu canal “A Voz do Café” já começa o dia informando os produtores brasileiros sobre as notícias relevantes, as tendências e as principais agendas do dia que poderão afetar o mercado).
O tamanho da safra 2022/2023 do arábica será novamente a grande “bola da vez”. Qual será a área efetivamente afetada pela crise hídrica e pelas 2/3 geadas até o momento? Qual será a área recuperada a partir de agora (lembrando que novo plantio só começará a produzir daqui há 3 anos)? Com a crise hídrica ainda assolando as áreas produtivas (Até quando? As chuvas voltarão mesmo a partir do mês de setembro?) mais o efeito “geada” junto com a falta de mudas suficientes para a reposição das áreas afetadas, além do aumento dos custos de produção/energia/fertilizantes/insumos e o risco da próxima florada não vingar, como será a recuperação das plantas?
Nessas últimas semanas, não só o produtor de café, mas todos nós participantes do mercado já estamos parecendo “técnico de futebol da seleção brasileira de futebol masculino”: estamos “entendendo de tudo”! Já somos experts em ler os mapas meteorológicos; já sabemos como a crise hídrica afetou e ainda afetará as plantas; já sabemos como as geadas e o frio intenso afetaram os caules, as raízes, o desenvolvimento e formação das rosetas; já sabemos que as plantas vão primeiro tentar sobreviver para depois soltar os frutos; já sabemos e já podemos estimar com “certeza” a produtividade a ser atingida em todo o parque cafeeiro brasileiro! Oras, “menas”! Como diria meu amigo Aldo Alvares, “hold your horses” (segurem seus cavalos, ou, acalmem-se)!
Ainda temos mais 30 dias de inverno. A crise hídrica continua, ninguém sabe como e se a próxima florada vai vingar. Enquanto setembro não chegar qualquer previsão nesse momento precisará ser revista e atualizada! Estamos novamente de volta para a “pergunta do 1 milhão de dólares”: Qual será o tamanho da safra 2022/2023?
Produtores continuam vendendo da “mão para a boca” e compradores seguem renegociando o prazo de entrega para as travas realizadas e que não poderão ser cumpridas tanto nesta safra quanto nas safras 22/23 e pelo menos 23/24 e 24/25!
Os preços dos fretes marítimos explodiram! Aumentaram de 2-3.000 US$/container para até 10.000 US$/container. Considerando um aumento de 7.000 US$/container isso representa aproximadamente 110 R$/saca para o produtor brasileiro! Ora, não fosse esse aumento vergonhoso nos fretes, na teoria, os produtores já poderiam estar vendendo seus produtos acima dos 1.100 R$/saca para o café arábica e acima dos 700 R$/saca para o café tipo robusta!
Ou o mercado consumidor absorve parte desses novos aumentos nos custos (tanto os custos internos no Brasil quanto os de logística), ou a oferta do café brasileiro vai sofrer.
Os preços deverão continuar firmes, e possivelmente acima dos 250/300 centavos de dólar por libra-peso (esse nível de preços representa um preço de venda para o produtor brasileiro entre 1.400 a 2.100 R$/saca – dependendo claro da taxa de câmbio e do diferencial de compra aplicado sobre as cotações de Nova Iorque. Nessa simulação trabalhamos com Nova Iorque entre 250 e 300 centavos de dólar por libra-peso, uma taxa de câmbio @ 5,25 R$/US$, e diferencial de compra “basis” base “flat/-20/-45” pontos).
Seguimos com a sugestão de cautela e muito cuidado para novas vendas para o saldo da safra 21/22 e para as safras 22/23, 23/24 e 24/25 em diante. Os preços oferecidos pelos compradores seguem atraentes (entre 950-1.050 R$/saca) mas até o momento não vimos nenhum comprador oferecendo para o produtor uma estrutura de compra onde o produtor poderá estar protegido caso o mercado dispare e venha a negociar acima dos 1.100/1.500/2.000 R$/saca! Uma venda futura a preço fixo sem o “hedge”, sem a compra de uma opção de compra “fora do dinheiro” ou sem a compra de uma “Call-Spread” nos parece ser um risco muito elevado para o produtor.
O Brasil poderá voltar a ultrapassar a produção das 70 milhões de sacas? Sim! Sem dúvidas! Mas isso só daqui há 2-3 anos…
Sugestões da semana
- Setembro/2021: Seguir vendendo apenas o necessário para pagar as contas do dia/semana, com preço mínimo @ 1.000 R$/saca para o café arábica e com preço mínimo @ 600 R$/saca para o canéfora (robusta).
- Dezembro/2021: Realizar a venda para os compradores na modalidade “venda com preço mínimo garantido” através da compra da estrutura “PUT-Spread” strike +175/-150 (essa estrutura fechou na última sexta-feira custando aproximadamente 70 R$/saca). Essa estrutura garante ao produtor uma venda ao redor dos 1.050 R$/saca – já descontando o custo da estrutura – e desde que o Dez-21 feche acima dos 155 centavos de dólar por libra-peso. Por outro lado, uma vez que o produtor já tiver determinado com o comprador o valor do “desconto a ser aplicado”, o valor do “basis”, o produtor poderá fixar o produto a qualquer momento, entre o “hoje” até o dia do vencimento das opções do Dez-21, ao redor do dia 10-15 de novembro-21.
- Para a safra 22/23: No Set-22 – Analisar a compra da “Put-Spread” strike +180/-155 (essa estrutura fechou na última sexta-feira custando aproximadamente 98 R$/saca). Essa estrutura garante ao produtor uma venda ao redor dos 1.100 R$/saca – já descontando o custo da estrutura – desde que o Set-22 feche acima dos 155 centavos de dólar por libra-peso. Por outro lado, uma vez que o produtor já tiver determinado com o comprador o valor do “desconto a ser aplicado, o valor do “basis”, o produtor poderá fixar o produto a qualquer momento, entre o “hoje” até o dia do vencimento das opções do Set-22, ao redor do dia 10-15 de agosto de 2022.
Ótima semana a todos!
*Marcelo Fraga Moreira atua há mais de 30 anos no mercado de commodities agrícolas e escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.
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** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixa e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
** “Cecafé” = Conselho dos Exportadores de Café do Brasil
** “USDA” = Departamento da Agricultura dos Estados Unidos
** “ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café
As informações são da Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.