Por Marcelo Fraga Moreira*
O mercado trabalhou a terceira semana de junho (de 15 a 19) sem grandes novidades, com o contrato julho/2020 com a máxima/mínima de 97,05/92,70 centavos de dólar por libra-peso fechando a semana nos 93,75 centavos de dólar por libra-peso. Fundos voltaram a vender e adicionaram mais 6.664 lotes no lado vendedor aumentando a posição vendida para 24.153 lotes.
Destaque na semana voltou a ser o Real, que chegou a desvalorizar -6,74pct, saindo de 5,04 para 5,38 r$/usd, fechando a semana cotado a 5,3180 r$/usd. Em alguns momentos durante o pregão da sexta-feira (19 de junho), mesmo com o Real desvalorizando no dia -1,74% (quando atingiu a mínima do dia/semana cotado a 5,3817 R$/usd) as cotações em NY chegaram a trabalhar no território positivo, mas no final mercado não aguentou e voltou para as mínimas da semana.
Será o risco da chegada da “segunda onda da Covid-19” onde vamos ter novamente fechamento do comércio na Europa e Estados Unidos? Novas restrições na movimentação da população e eventual redução na demanda de café? Ou apenas efeito de “boas notícias” referente ao avanço da colheita no Brasil?
Colheita indo muito bem, avançando bem, com aproximadamente 35% já realizada. Qualidade vem sendo muito boa, mas o tamanho do grão está um pouco menor que o esperado. Segundo conversa com alguns produtores a quantidade de café com “peneira 17/18” está abaixo do esperado e o mercado já começa a pagar prêmio para café mais graúdo. Preços voltaram a subir com negócios voltando para o patamar dos 490-510 R$/saca. Basicamente efeito câmbio, pois como demonstrado acima, Real desvalorizou -6,74% e café valorizou praticamente o mesmo, saindo de 470-80 r$/sc para 490-510 r$/sc (+6,25%).
Como tivemos muitas vendas antecipadas no final do ano passado, durante o rally de preços em dezembro/2019, os produtores estão cumprindo os contratos já realizados, e compradores ajudando a segurar/sustentar os preços nos 500 r$/saca para conseguir originar e honrar seus compromissos.
O clima segue muito bom contribuindo para o andamento da colheita e para a boa qualidade do café, com algumas chuvas pontuais. Risco de geada está descartado até final do mês de junho, e alguns modelos já começam a prever risco de geada apenas para a primeira semana de julho. Nos demais países produtores o clima também segue positivo com chuvas pontuais ocorrendo na América Central, Vietnam e Indonésia favorecendo as próximas safras.
No cenário macro Europa anunciou novo estímulo de 750 bilhões de dólares, e banco central brasileiro reduziu os juros para o nível mais baixo da história (para 2,25% ao ano podendo reduzir para 2% na próxima reunião de agosto). Essa redução também contribuiu para a desvalorização do Real. Acreditamos que com esse novo patamar de juros no Brasil os produtores capitalizados e novos investidores irão tirar o dinheiro que está aplicado nos bancos e voltar a investir na expansão e melhorias nas lavouras. Isso poderá levar a um novo ciclo virtuoso e aumento da oferta já a partir de 2022/2023!
Também teremos novos desdobramentos na próxima semana da briga comercial entre China e Estados Unidos. Mesmo com a China anunciando uma trégua na quinta-feira informando que voltaria a aumentar as compras de produtos agrícolas americanos o mercado não gostou pois Trump acenou com possibilidade de impor novas tarifas/sanções contra a China.
Julho/2020 o mercado segue com suporte nos 90 centavos de dólar por libra-peso e resistência no 105,50 centavos de dólar por libra-peso.
Com avanço da colheita, e se fundos tiverem mais apetite para aumentar a posição vendida, poderemos ver o mercado negociando abaixo desse suporte no curto prazo. Único fator altista continua sendo uma geada forte, uma quebra de safra, lavouras sendo “destruídas” afetando as próximas safras brasileiras 2021/2022 em diante.
No curto prazo seguimos recomendando compra de Calls (Calls – opções de compra) no setembro/2020 (U-20), mas apenas se os modelos climáticos seguirem indicando risco de geadas para a primeira semana de julho. Vamos apenas acompanhar o mercado na próxima semana, monitorar a Call de 100 centavos de dólar pro libra-peso.
Caso essa opção o setembro/2020 com exercício de 100 (Call de 100 centavos de dólar por libra-peso) venha a negociar abaixo de 2 centavos de dólar por libra-peso talvez seja possível comprar essa opção de compra vendendo uma Put (Put – opção de venda) no dezembro/2020, strike de 82,50-80,00 centavos de dólar por libra-peso a custo zero!
Para safra 2021/2022 seguimos recomendando compra de um Put Spread (proteção contra mercado vir a cair) com preço de exercício de 105 x 90 centavos de dólar por libra-peso no setembro/2021 vendendo Call de 125 centavos de dólar por libra-peso no mesmo vencimento, junto com o hedge cambial para não ficar exposto ao câmbio (Essa operação, desde que o mercado fique acima de 90 centavos de dólar por libra-peso no vencimento da estrutura, e considerando um câmbio futuro para vencimento em setembro/2021 @ 5,50 R$/usd, garante um preço em reais mínimo/máximo entre 580-725 r$/saca considerando um desconto no preço da venda de 25 centavos de dólar por libra-peso).
Boa semana a todos!
*Marcelo Fraga Moreira atua há mais de 30 anos no mercado de commodities agrícolas e escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.