Por Williams Ferreira e Marcelo Ribeiro*
No último mês as chuvas ocorreram em grande parte do Brasil. Desde o Rio Grande do Sul até o Mato Grosso do Sul e São Paulo a chuva ocorreu de forma mais irregular e moderada. Todavia, como já era esperado, em grande parte da região central do Brasil, em uma área envolvendo o Sul do Pará, os estados do Mato Grosso e Espírito Santo e a parte Sul do Maranhão, o volume de chuvas se deu de forma mais regular e um pouco acima da média. Nessa região as temperaturas foram mais amenas, enquanto na região Sul do Brasil algumas localidades apresentaram temperatura acima da média do esperada para o mês.
O fenômeno ENOS
Em outubro, os ventos alísios estiveram mais fortes do que o normal e também houve continuidade na redução das temperaturas do Pacífico Equatorial. Devido as essas condições atmosféricas e oceânicas reinantes, entre outras, foi confirmado, em meados de outubro, a atuação do fenômeno La Niña que, segundo alguns modelos climáticos, deve permanecer até o próximo outono.
Na Figura 1 é possível observar a ampliação do resfriamento anômalo (demarcado em azul sob a linha roxa) no qual as temperaturas abaixo da média, principalmente entre 140-120ºW, apresentaram aproximadamente a mesma amplitude térmica do mês anterior.
O atual fenômeno La Niña poderá afetar a temperatura e as chuvas durante os próximos meses, semelhante ao que ocorreu no final do ano passado. No entanto, no momento, a intensidade do atual La Niña é inferior ao último evento ocorrido.
As chuvas nos próximos meses
Dezembro
Na Figura 2 pode ser observado que quanto maior a intensidade da cor verde maior a probabilidade de chuvas ocorrerem acima da média no mês de dezembro. A área destacada em azul claro, delimitada pela linha roxa, é aquela em que há maior probabilidade de as chuvas ocorrerem acima da média do mês. Por outro lado, quanto maior a intensidade do amarelo, maior a probabilidade das chuvas ocorrerem abaixo da média.
Janeiro de 2022
A maior probabilidade de chuvas acima da média nesse mês é esperada para as mesorregiões da grande Florianópolis, Vale do Itajaí, Norte e Sul Catarinenses. O mesmo pode se repetir sobre a mesorregião metropolitana de Curitiba, Centro Oriental, Norte Central, Norte Pioneiro e Sudeste do Paraná, e em São Paulo, nas mesorregiões de Itapetininga, Assis e Marília.
Na região Nordeste do Brasil o volume de chuvas poderá ocorrer pouco acima da média no Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, com exceção do extremo Sul do Sertão Pernambucano. Essa previsão também se repete para Sergipe e Ceará, com exceção dos Sertões Cearenses, até as mesorregiões do Nordeste e Centro Norte Baiano.
Em Goiás, Tocantins, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais é esperado que as chuvas ocorram dentro da média do período. Todavia, a mesorregião do Norte de Minas poderá apresentar chuvas abaixo da média nesse mês.
Fevereiro de 2022
Nesse mês, devido a presença do La Niña, há maior incerteza quanto a região que mais poderá registrar chuvas abaixo da média. Essa probabilidade é esperada para o Rio Grande do Sul, com exceção das mesorregiões Nordeste e Noroeste Rio-grandense; para o Distrito Federal, Norte e Leste Goiano;Extremo Oeste Baiano e para as mesorregiões Norte e Noroeste de Minas, Jequitinhonha e os Vales do Mucuri e Rio Doce, e ainda para o Noroeste e Litoral Norte do Espírito Santo.
Os estados do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e a mesorregião do Sul de Minas poderão apresentar volume de chuvas dentro ou pouco acima da média nesse mês.
As temperaturas nos próximos meses
Em períodos de eventos La Niña a temperatura tende a ser mais amena no verão nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. No atual evento La Niña é esperado que nos meses de dezembro e janeiro as temperaturas mais amenas ocorram mais nas regiões Nordeste e Norte do Brasil, desde o Extremo Oeste Baiano, passando pelo Piauí, Maranhão chegando ao Pará. Nos estados do Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul as temperaturas podem ocorrer dentro ou pouco acima da média para os meses.
Já em fevereiro são esperadas temperaturas dentro da média para quase todo o Brasil, com exceção do Pará e Amapa, onde as temperaturas poderão ser mais amenas.
As próximas semanas
É esperado que até o final de novembro o maior volume de chuvas se concentre do extremo Sul do Pará, passando por Mato Grosso, Tocantins, Goiás, Distrito Federal, Sul Maranhense, Extremo Oeste, Centro Sul Baiano.A lém disso a previsão se repete para o Norte, Jequitinhonha, Vale do Rio Doce e região Metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais.
Café
Com as altas precipitações, ocorridas a partir do início de outubro na região cafeeira e a probabilidade de as chuvas ocorrerem acima da média no início do verão, muitos produtores já iniciaram os tratos culturais para a recuperação do desenvolvimento vegetativo de lavouras que apresentavam alto desfolhamento, bem como para a recuperação do estado nutricional das plantas.
Adubações e pulverizações para repor os nutrientes removidos vêm sendo realizadas com base no resultado da análise de solos que foram coletadas após a colheita sendo que as próximas adubações e pulverizações devem ser baseadas também na análise foliar que deverá ser realizada no mês de dezembro, quando os frutos estiverem no estádio de chumbinho. Esses cuidados com as lavouras têm sido desestimulados pelos altos preços dos insumos além de que muitas foram, e ainda estão sendo, podadas devido ao depauperamento apresentado após a última colheita e ao abortamento de flores e de chumbinhos.
Neste ano, após o início das chuvas ocorreram exuberantes floradas nos cafezais, porém tem sido observado baixíssimo pegamento dos chumbinhos. No período da pré-florada foi registrado período de seca prolongada, calor excessivo, ocorrência de geada, inversão térmica e ataque de pragas e doenças, o que contribuiu para a elevada desfolha das plantas, vindo a afetar o desenvolvimento das estruturas reprodutivas. Na atual safra também tem sido observado, nas lavouras das regiões cafeeiras de Minas, que gemas que deveriam ser reprodutivas se tornaram vegetativas, apresentando elevadas ramificações secundárias nos ramos plagiotrópicos (Figura 3).
Diante do atual cenário, considerando o baixo pegamento da florada e o elevado abortamento dos chumbinhos, os produtores andam preocupados com o tamanho da próxima safra.
Prognóstico
As análises e os prognósticos climáticos aqui apresentados foram elaborados com base nas estatísticas e nos históricos da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se, também, as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; pelo Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; pelo Met Office Hadley Centre; pelo Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; pelo Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (Divmet) do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET. (5º Disme) / CPTEC-Inpe.
O prognóstico climático faz referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas. Desta forma, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano ou prejuízo que o leitor possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas no texto. Portanto, é de total responsabilidade do leitor o uso das informações aqui disponibilizadas.
*Williams Ferreira é pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG Sudeste na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais e cafeicultura. - williams.ferreira@embrapa.br .
*Marcelo Ribeiro é pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. mribeiro@epamig.br.