Na última semana, a safra brasileira 2022/2023 recebeu algumas atualizações importantes. Em primeiro lugar, as regiões produtoras de café do Paraná, São Paulo, Sul de Minas Gerais e partes do Cerrado receberam níveis de chuva de 125% a 300% acima do normal (Gráfico #1), em conjunto à temperaturas mais altas (1ºC a 2ºC acima do que o habitual - Gráfico #2).
Embora os níveis de umidade do solo estejam abaixo da média, conforme analisado em relatórios anteriores, chuvas com 3x os níveis esperados, além de temperaturas mais quentes, levantam preocupações. Cafés que ainda estão secando podem ser afetados negativamente, assim como áreas que já foram colhidas e expostas ao tempo seco por semanas, com chance de floração prematura.
Também é importante destacar que o potencial da safra 2022/2023 ainda é incerto: o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) informou que as exportações de arábica caíram 6,5% a/a em julho, para 2,02 milhões de sacas (Gráfico #3). Em 22/23, espera-se que as exportações permaneçam praticamente inalteradas em relação a 21/22; apesar do ligeiro aumento da produção em relação ao ciclo anterior, 22/23 não conta com os mesmos níveis de estoque de passagem que 21/22 (-30%).
O Cecafé atribuiu a queda nas exportações ao atraso na colheita e aos produtores à margem. De fato, a taxa de comercialização de arábica para 22/23 está atualmente em 45%, o que está acima da média de 5 anos de 42% para o período, mas abaixo dos níveis de 20/21 e 21/22 (52% - Gráfico #4). Entre maio e agosto, agricultores normalmente travam 15% da safra, mas neste ano apenas 9% do total foi negociado no mesmo período.
A colheita também está atrasada, atualmente em 84%, e só agora alcançando os níveis do ano passado (Gráfico #5). No entanto, os agentes estão atribuindo a baixa taxa de comercialização a agricultores cautelosos, e o atraso na colheita a uma quebra de safra além do que foi inicialmente esperado.
Um ajuste de -10% na safra 22/23 levaria o balanço global de 22/23 de um resultado de equilíbrio para -3 milhões de sacas, o que significaria uma baixa probabilidade de reposição de estoques e a persistência de uma curva futura invertida.
Em resumo
Em meio a questões climáticas, a safra 22/23 ainda é um elemento incerto no balanço do próximo ciclo. Com chuvas mais fortes do que o esperado durante os últimos estágios da safra, parte dessa incerteza também atinge as expectativas de 23/24.
Com o atraso no progresso de colheita e de fixação da safra, em conjunto às exportações mais baixas, a maior probabilidade de uma quebra de safra além das expectativas iniciais ocupa um lugar na mesa. Nesse cenário, o mercado global de café pode enfrentar um segundo déficit após 21/22, e o atual mercado invertido persistiria no próximo ciclo.
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