Por Marcelo Fraga Moreira*
Para quem gosta de volatilidade a primeira semana de agosto foi espetacular! No setembro/2020 o mercado iniciou a segunda-feira (3) negociando acima da média móvel dos 200 dias, saindo de 115,65 centavos de dólar por libra-peso na segunda-feira, atingindo a máxima de 127,25 centavos de dólar por libra-peso na quarta-feira (5), e voltando a negociar a 113,60 centavos de dólar por libra-peso na sexta-feira (7), fechando @ 115,45 centavos de dólar por libra-peso.
Entre a mínima/máxima/mínima o mercado oscilou incríveis 2.555 pontos. Novamente os fundos que estavam “comprados” foram os grandes responsáveis pela alta, forçando os fundos “vendidos” e, como não, os produtores que também estavam vendidos entre 104-110-115 centavos de dólar por libra-peso no setembro/20 e dezembro/2020, a cobrirem posições até o mercado chegar na sua exaustão (novamente produtor tiveram problemas com chamada de margem, problemas com as operações estruturadas, e vários níveis de stop foram sendo atingidos entre 116-125 centavos de dólar por libra-peso).
Como muitos produtores já haviam fixado seus cafés contra as telas de setembro/2020 e dezembro/2020 esse movimento de alta não encontrou volume de vendas de origem e o mercado subiu sem encontrar grandes resistências! Entre 60-70% do volume diário foi negociado nos dois primeiros vencimentos, deste período, novamente demonstrando a concentração dos negócios no curto prazo.
O volume negociado na semana foi em média 102.746 lotes por dia. No dia 5 de agosto, quando o mercado atingiu a máxima da semana, chegou a negociar 130.057 contratos! Nesse dia, quando o mercado explodiu, a única notícia positiva veio da Organização Internacional do Café (OIC) quando publicou sua revisão de balanço global de estoque estimando um déficit de 486 mil sacas para a safra 2019/2020.
Para os produtores disciplinados essa semana foi muito boa, e quem esteve atento ao rally conseguiu fixar vendas para safra 2021/2022, contra o vencimento setembro/2021, acima dos 700 R$/saca quando chegou a negociar acima dos 130 centavos de dólar por libra-peso e o Real futuro chegou a negociar acima dos 5,45 R$/usd.
Mesmo com o Real Spot voltando a se desvalorizar no dia 7 de agosto para o patamar dos 5,40 R$/usd, essa desvalorização entre -1,50/-2% não compensou a queda dos preços em Usd/Saca, uma vez que em Usd/Saca os preços já desvalorizaram mais de -7% entre a máxima da quarta-feira e a mínima da sexta-feira. Acreditamos que o mercado poderá seguir caindo, desvalorizando ainda mais, podendo chegar a 15% caso o setembro/2021 venha a negociar próximo dos 111 centavos de dólar por libra-peso.
Do lado fundamental nada mudou. O clima no Brasil seguiu firme, sem geadas, com chuvas pontuais, com a colheita avançando e já começando as operações de “varreção” (aproximadamente 80-85% já colhido). Contratos e embarques seguem firmes, sem nenhuma quebra na cadeia de suprimentos/logística.
Na América Central, África, Vietnã e Indonésia tivemos chuvas e clima favorável em todos os principais países produtores e até o momento não temos escutado nenhuma notícia negativa a ponto de gerar alguma preocupação.
Com base no último relatório da posição dos Fundos, eles agora estão comprados em 15.883 contratos. Em duas semanas saíram de -23.000 para + 15.883 contratos. Para o mercado voltar a cair mais 1.000-2.000 pontos bastará apenas um suporte ser rompido. Atenção!
Seguimos baixistas no médio prazo e nossa recomendação continua a mesma: Produtores fiquem atentos aproveitando as oportunidades para garantir preços mínimos em Reais/saca para as safras 2021/22 e 2022/23.
Para a próxima semana seguimos baixistas com o mercado podendo novamente vir a negociar abaixo da média móvel dos 200 dias nos seus vencimentos, com o setembro/2020 voltando a negociar entre 113,80 – 102,90 centavos de dólar por libra-peso, e no setembro/2021 entre 121,70 – 110,90 centavos de dólar por libra-peso.
Produtores, sigam fazendo contas e seus hedges garantindo uma remuneração mínima de 650 R$/saca.
Mesa comercial trabalhem junto com a área financeira para estudarem cenários de stress, para saber até onde a empresa poderá aguentar eventual chamada de margem e não precisar ser “estopado” num cenário de alta ou de baixa (para aqueles que estão agora vendidos em PUTS). E se for o caso, comprem Calls ou Puts fora do dinheiro para mitigar esse risco.
Como sempre, cuidado com as operações alavancadas, com os acumuladores, com as estruturas que “aparecem/desaparecem/dobram”, pois novamente, nessa semana voltaram a oscilar.
Boa semana a todos!
*Marcelo Fraga Moreira atua há mais de 30 anos no mercado de commodities agrícolas e escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.