Por Rodrigo Costa*
Os Estados Unidos e a China caminharam adiante em negociações para um acordo comercial, tendo o último conseguido dividir parte das demandas exigidas pelo primeiro.
Desta forma, o governo de Donald Trump aceitou não aumentar de 25% para 30% as tarifas em importações equivalentes a 250 bilhões de dólares, alíquotas que seriam majoradas a partir de terça-feira, dia 15 de outubro. Como contraparte, os chineses se comprometeram em comprar o equivalente a 40 bilhões de dólares de produtos agrícolas americanos, um alívio para os produtores dos Estados Unidos, os quais em grande maioria votaram no atual presidente.
Há detalhes faltantes nas declarações, mas assumindo que estas compras sejam referentes a um volume anual, o movimento será bem maior do que os 24 bilhões que eram vendidos pelos americanos de commodities agrícolas antes do começo da guerra comercial.
As bolsas de ações encerraram a semana em alta, reagindo positivamente à novidade com uma performance forte na sexta-feira (11).
O café teve uma semana amarga, não conseguindo acompanhar a recuperação do CRB e tendo o arábica, em Nova York, como a matéria-prima que mais cedeu dentre os componentes do índice.
A abertura da florada no Brasil pode ter sido o fator principal da fraqueza do terminal, atraindo vendas dos especuladores e fazendo o contrato de dezembro/2019 registrar nova mínima, enquanto, no gráfico contínuo, os preços voltam para os níveis de começo de setembro.
Olhando para o relatório de comitentes (COT), pudemos notar que grande parte das vendas dos fundos foi de liquidação da posição comprada, 5,051 contratos, ao mesmo tempo em que novas vendas somaram 2,201 lotes – isto entre os dias 2 e 8 de outubro.
Os comerciais, onde se encaixam os torrefadores, aproveitaram para comprar 2 milhões de sacas durante o mesmo período, onde os preços cederam US$ 5.65 centavos por libra-peso.
Na Basiléia, em diversas reuniões e em rodas de conversas que aconteciam durante o jantar anual do café da Suíça, o tom em geral era mais construtivo para os preços e, nos painéis, se discutia como manter/prover diversidade de produção em um cenário onde duas origens dominam.
Boa parte dos participantes entendem os problemas passados por produtores de café no mundo, entretanto, também se mostraram surpresos em verem fotos de floradas tão saudáveis e de terem escutado de produtores que estavam no evento que a florada foi a melhor já vista por muitos.
Claro que todos têm um cuidado em prever quanto será a próxima safra, haja vista a necessidade de pegação da florada, chuvas regulares e trato adequado, mas, mesmo assim, um recorde está sendo esperado, principalmente pela disponibilidade de canéfora (conilon), que é esperada ser superior a 2017/2018.
Outro assunto recorrente foi a questão do glifosato, tema delicado (e que não atinge apenas o Brasil) principalmente na Europa, em que os limites para o café são pequenos comparados com outros países e com outros produtos de grande uso, como chá, grãos e diversas verduras.
Uma revisão para o índice de presença do produto a princípio parece difícil em função de ser impopular e potencialmente poder expor negativamente a indústria como um todo. Entretanto, a viabilidade para outras soluções fica ainda mais desafiadora com os preços internacionais negociando a níveis que já estão abaixo do custo de produção para a maioria dos países produtores.
Como nem tudo é só para um lado, positivamente a grande maioria dos agentes tem visto um crescimento do consumo de pelo menos 2% ao ano, número suficiente para continuar absorvendo produções maiores, como em 20/21, por causa do Brasil e dos efeitos duradouros de vendas futuras feitas anteriormente, assim como trocas de insumos.
Em outras palavras, mesmo com o Brasil produzindo 70 milhões de sacas no próximo ciclo – não se assustem, pois tem quem fale poder ser ainda maior – em 2020/2021 o superávit seria ao redor de 5 milhões de sacas, ou seja, muito pouco para tanto negativismo.
Em 2021/2022, outras três milhões e meia de sacas vão ser necessárias e, nesta safra longínqua, o Brasil estará no seu ciclo de produção de baixa, sem falar das outras origens que já devem ter colheitas menores no ano que vem. Logo, o déficit pode ser o dobro do que se gerará de estoque no ano que vem.
Claro que o “timing” é o que mata e temos que combinar isto com os fundos, pois “eles”, vendo os juros baixos (ou negativos), um carrego vantajoso, fluxos de exportação razoáveis e quedas consecutivas do terminal, acabaram sendo forçados a “pararem” suas posições – falo dos que estavam comprados.
Não me parece que os preços caem muito mais de onde estão, mas ao mesmo tempo uma puxada significativa do terminal só acontecerá com um fortalecimento do Real ou em função de algum evento climático – ou seja, continuaremos tendo mais do mesmo.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting