Por Marcelo Fraga Moreira*
Mais uma semana (de 12 a 16 de abril) com grandes expectativas por parte do mercado, tanto pelos produtores (aguardando preços mais altos, a confirmação do aumento da demanda global e a retomada das economias já a partir do segundo semestre) quanto por parte dos compradores (que esperam o aumento nas ofertas e a possibilidade para realizar novas compras).
Setembro/2021 foi negociado com uma amplitude de 785 pontos fechando a 133,50 centavos de dólar por libra-peso (após atingir na sexta-feira a cotação máxima de 137,35 centavos de dólar por libra-peso e não tendo forças ainda para “buscar” a importante resistência de 141,80 centavos de dólar por libra-peso). A mínima/máxima da semana ficou entre 129,50 e 137,35 centavos de dólar por libra-peso.
Apesar das notícias “altistas” continuarem sendo publicadas o pregão da sexta-feira jogou um “balde de água” fria nos produtores brasileiros. Após tocar os 137,35 centavos de dólar por libra-peso as vendas voltaram e derrubaram o mercado -450 pontos (a mínima do dia chegou a 132,75 centavos de dólar por libra-peso com volume negociado relativamente bom, ao redor dos +49.700 lotes).
O setembro/2021 conseguiu se recuperar e fechar acima dos importantes suportes das médias móveis dos 17, 9 e 72 dias a 132,40, 131,80 e 130,80 centavos de dólar por libra-peso respectivamente.
No período o café subiu “apenas” +1,91% enquanto o Real voltou a valorizar +2,10%, fechando a semana @ 5,58 R$/usd.
A quinta-feira (15/04) foi o “melhor dia da semana” para o produtor quando o contrato setembro/2021 fechou a 136,80 centavos de dólar por libra-peso e o Real fechou a 5,63 R$/US$. Até quinta-feira o café chegou a valorizar +4,43% e o Real a valorizar “apenas” +1,40%. Essa combinação entre US$/libra x R$/US$ representou aproximadamente 29 R$/saca há mais no bolso do produtor no final do dia. Como sempre enfatizamos aqui, o produtor precisa sempre monitorar o retorno, a fixação em R$/saca, “paridade moeda local/saca” e não apenas “se Nova York subiu/desceu” não acompanhando as oscilações da sua moeda local”.
As exportações brasileiras referente a safra 2020/2021 seguem fortes, com o Brasil exportando 3,4 milhões de sacas durante o mês de março/2021. Nos primeiros 3 meses do ano o Brasil exportou aproximadamente 11 milhões de sacas. Uma quantidade +10,4% acima do mesmo período de 2020. Esse aumento das exportações já era esperado pois o Brasil teve a safra 20/21 recorde ao redor dos 70 milhões de sacas. Basicamente estamos vendo os estoques brasileiros sendo transferidos para os destinos consumidores, e mesmo com os problemas logísticos atuais, os contratos continuam sendo performados.
– Mercado estima que aproximadamente 90% da safra 2020/2021 já foi vendida;
– Índices pluviométricos nas principais zonas produtoras continuam abaixo do esperado podendo afetar tanto o final do enchimento dos grãos da safra atual 2021/2022 quanto o desenvolvimento das lavouras para a próxima safra 2022/2023. As previsões climáticas para os próximos dias nas zonas produtoras brasileiras indicam poucas chuvas e temperaturas mais amenas, podendo inclusive acelerar a colheita 2021/2022 (essa “aceleração da colheita” poderá gerar uma “pressão” de venda no curto prazo com produtores necessitando “fazer caixa”).
– Esse ano o mercado já espera um déficit global ao redor de 10 milhões de sacas. Se a safra 22/23 novamente vier ao redor dos 50-55 milhões de sacas (e não ao redor dos 70 milhões de sacas) poderemos ver, segundo as estatísticas, os estoques reguladores mundiais zerando pela primeira vez na história;
– Por incrível que pareça, muitos produtores estão acreditando nos números da Conab e não nas projeções das principais casas corretoras/bancos (previsão da Conab da safra 21/22 ao redor dos 43 milhões de sacas x 50-56 milhões de sacas do “mercado”);
– Alguns produtores que iniciaram a colheita na Bahia, Espírito Santo e Rondônia já estão reportando problemas na qualidade e quantidade colhida por hectare;
– Segundo publicação da Green Coffee Association os estoques de café verde nos Estados Unidos atingiram o menor número desde 2015, para 5.68 milhões de sacas. O nível mais baixo foi em 2011 quando atingiram 4 milhões de sacas (contra-ponto a esta notícia segue sendo o aumento dos estoques certificados aumentando aproximadamente 40 mil sacas, atingindo 1.887.000 sacas na semana);
– Se as projeções referentes ao aumento da demanda continuarem ao redor de 1,5%-2,5% ao ano, entre 2,5-4,1 milhões de sacas por ano o mercado poderá buscar novos patamares no médio prazo (hoje mercado trabalha com consumo ao redor dos 166 milhões de sacas e produção ao redor dos 176 milhões de sacas);
– Os custos de produção no Brasil sofreram aumentos ao redor de 25-40% em função dos aumentos nos insumos agrícolas atrelados ‘a desvalorização do Real, aumento nos custos logísticos, e combustível dentre outros. Acreditamos que os novos custos de produção para o agricultar brasileiro devam estar entre 580-630 R$/saca;
– O avanço da vacinação nas principais economias ricas segue acelerada e a demanda a partir de julho/agosto (pico do verão no hemisfério norte) poderá sinalizar a reabertura dos restaurantes, cafés, e respectivo aumento da demanda/consumo;
– No mercado interno produtores continuam buscando vender saldo dos estoques da safra 20/21 acima dos 800 R$/saca e compradores seguem indicando interesse para realizar novas compras entre 700-780 R$/saca (dependendo da qualidade/região/certificação do produto e forma de pagamento). Com o início da safra do Robusta alguns produtores já estão com necessidades para fluxo de caixa. Alguns atravessadores já estão tentando tirar proveito oferecendo pagamento “‘a vista” para o café Arábica (para entrega em junho/julho-21) ao preço de 650 R$/saca – um deságio ao redor de -14% x os preços oferecidos por algumas cooperativas/tradings. Produtores façam as contas, conversem com as cooperativas/bancos/tradings e procurem negociar ao máximo as melhores taxas de financiamento/antecipação com seus parceiros de longa data para não “deixar dinheiro na mesa”;
– Nos demais países produtores as chuvas continuam favorecendo o desenvolvimento das próximas lavouras, com notícias positivas na Colômbia, América Central, Vietnam, Indonésia, Índia, Costa do Marfim, Gana, Nigéria.
– Os fundos e especuladores voltaram as compras e agora estão comprados em +16,817 lotes x +11.900 na semana passada. Na semana o mercado negociou a maior quantidade de lotes em uma semana (atingindo 320.343 lotes x 318.700 na semana entre 8-12 fevereiro 2021). Lembrem-se que os fundos + especuladores já chegaram a estar comprados em mais de 40.000 lotes e, após essa consolidação, poderão seguir comprando (desde que notícias “altistas VERDADEIRAS” continuem a ocorrer).
Seguimos positivos no curto prazo sugerindo a compra de seguros contra o setembro/2021 através da compra de “Call” strike 150/160 ou “Call-Spread” strike +150/-190. Muitos produtores vão colher quantidades abaixo das quantidades vendidas/comprometidas com as cooperativas/tradings. Muitas vendas foram realizadas entre 550-650 R$/saca e nas últimas semanas o mercado já mudou de patamar e firme entre 700-800 R$/saca. Muitos produtores já estão contabilizando os prejuízos e encontrando dificuldades em comprar café no mercado de “terceiros” para honrar com seus compromissos e/ou renegociar novos prazos de entrega dos seus contratos.
Como temos o risco das geadas a safra atual 2021/2022 poderá ser abaixo dos 50 milhões de sacas (e quem sabe até mesmo abaixo dos números da Conab) protejam-se!
Para safra 2022/2023 e 2023/2024, em função da baixa liquidez nas opções do setembro/2023, sugerimos a compra do “Put-Spread” no setembro/2022 strike +140 x -110 vendendo a “Call-Spread” no Set-22 strike -160/+200 ao custo estimado em 70 R$/Saco (garantindo um preço de venda entre 830-980 R$/saca desse que o setembro/2022 feche entre 140-160 centavos de dólar por libra-peso). Se o mercado seguir subindo será possível “rolar” tanto a “Put-Spread” quanto a “Call-Spread” para cima, otimizando os resultados!
Como sempre, sejam prudentes! Protejam-se! O inverno e os riscos das geadas ainda não começaram!
Ótima semana a todos!
*Marcelo Fraga Moreira atua há mais de 30 anos no mercado de commodities agrícolas e escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.
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** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixa e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
As informações são da Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda