Por Coriolano Xavier*
Nesses tempos de marasmo da economia brasileira (e ainda bem que tem o “agro” para contrabalançar positivamente), estamos sempre precisando de notícia boa, principalmente aquelas com potencial de se projetar para o futuro. Na última Agrishow, em Ribeirão Preto/SP, entre tantas boas novas, uma chamou atenção: uma instituição financeira cooperativa (Sicredi) protocolou quase 400 propostas de financiamento, com intenção de crédito de R$ 142 milhões e representando aumento de 25% em relação aos créditos que contratou no evento anterior, em 2018.
O montante nem é tão importante aqui (embora representativo), mas sim o movimento ascendente e a atitude dos tomadores – entre eles grande fatia de produtores médios e menores -- de investir em tecnologia. E não foi um fato isolado, pois a mesma instituição cooperativa foi o agente financeiro que mais liberou recursos do BNDES pelo Pronaf, em 2018, alcançando perto de 20 mil operações e aumentando seus limites operacionais em 42%, naquele banco de desenvolvimento, na safra 2018/2019.
O ótimo dessa história é que a fatia ponderável desses recursos tem como endereço áreas de atuação de cooperativas, estimulando a geração de renda e o crescimento sustentável de sistemas de produção familiar, irrigando assim o aumento de atividades (e também de tecnologia e bem-estar) em estratos de produtores de médio e menor porte. Agricultura familiar assertiva, reforçando seu estratégico papel na capilaridade da produção e do abastecimento alimentar, por todo o país.
Um caso virtuoso. Nele, outro dado interessante: nos últimos dez anos (2008-2018) a mesma instituição financeira cooperativa aumentou seu número de agências pelo país em 57% e de associados em 185%, chegando a mais de quatro milhões. Números expressivos, que se alinham ao dinamismo do próprio agro, que no mesmo período avançou área plantada na casa dos 30% e produtividade na casa dos 90%. Bem distante do acanhado desempenho de nosso PIB no período, que avançou apenas 0,7% ao ano, em média.
Ainda bem que temos essa energia brotando na agricultura familiar, nos produtores de médio porte e no cooperativismo. Gente que corria o risco de ficar à margem da agricultura de tecnologia exponencial desse século 21 e que agora está olhando o mercado como desafio e oportunidades, tentando construir um caminho singular. Na aparência, o aumento de crédito do Sicredi, durante a Agrishow, foi um fato financeiro simples; mas por trás dele se insinua uma história inspiradora. Tomara que ela se propague ainda mais no campo, e também para outros setores da economia.
*Coriolano Xavier é membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e Professor da ESPM.