Por Coriolano Xavier
A soma das exportações e importações brasileiras e sua proporção em relação ao PIB (a chamada “corrente de comércio”) vem se mantendo praticamente estacionada em torno de 18%, desde 1960. Esse foi o índice daquele ano, que evoluiu ligeiramente duas décadas depois (19,2% em 1980) e chegou em 2010 com um recuo para 17,8%.
Foram 50 anos movendo-se em torno do mesmo ponto em relação ao PIB, enquanto o mundo caminhou pelos ventos da globalização, internacionalização da economia, cadeias globais de valor e trânsito livre e crescente de comércio e investimentos internacionais de todo o tipo.
Considerando dois países que hoje são referência mundial de crescimento, Coreia e China, e naquela época perdiam para o Brasil em grau de abertura, observa-se uma caminhada bem diferente. A Coreia estava com um grau de abertura de 9,5% em 1960, chegou a 61,2% em 1980 e a 82,5% em 2010. A China também saiu lá de trás, em situação mais isolada ainda (8,7%), alcançou 19,9% em 1980 e 48,7% em 2010.
As duas nações não foram exceções, pois o grau médio de abertura comercial entre os quase 40 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que adotam economias de livre mercado, também se expandiu de modo acentuado, registrando 17,5% (1960), 34,9% (1980) e 47,7% (2010). Uma das exceções foi o Brasil, que estacionou e não se alinhou a essa evolução da integração comercial, à qual se atribui parcela relevante dos avanços em produtividade, inovação e renda per capita, nas economias de modelo mais globalizante. Em 2017, o índice de nosso fluxo de comércio representou 17,9% do PIB%, enquanto a média OCDE atingiu 51,9%.
Mas o Brasil é país de contrastes e o agronegócio mostra um comportamento bem mais dinâmico. Em 1960 e décadas seguintes, o país era importador de alimentos. Nos anos 1990, o agro brasileiro começou a inverter os fluxos comerciais, com as exportações agropecuárias protagonizando um notável aumento, desde então. Tanto que em 2017 o fluxo de comércio do setor chegou a 25,8% do PIB do agro, certamente com impactos positivos sobre a eficiência e qualidade de processos e produtos. Não chega a ser uma espécie de China dentro do Brasil, mas revela uma integração internacional mais assertiva.
A consciência desses fatos e de sua correlação com o nosso futuro é algo bem relevante nesses tempos de governo novo e revisão do país. Momento de discutir o tratamento reservado às políticas de comércio exterior em aspectos como tributos, regulatórios e padrões técnicos de produtos, assim como estratégias para gerar oportunidades nessa área – como modernização jurídica, multilateralismo e investimentos em pesquisa.
Que soprem ventos de abertura. E isso vale tanto para o campo (apesar de sua dianteira no assunto) como para a cidade, com seus complexos industriais. Não dá para separar as coisas na economia contemporânea, pois o agronegócio é uma cadeia produtiva que começa no laboratório de genética e termina no prato do consumidor, devendo engajar todos os seus elos no mesmo tônus de consciência, progresso e vitalidade.
**Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e Professor da ESPM.