Por Marcelo Fraga Moreira*
A semana, de 07 a 11 de junho, começou agitada com +80.181 lotes negociados logo na segunda-feira. Mesmo assim, após setembro/2021 negociar em 165,50 centavos de dólar por libra-peso (o high da semana) o mercado não aguentou e terminou o dia caindo -165 pontos e fechando a 162.00 centavos de dólar por libra-peso. Foram 5 dias com volumes diários negociados acima dos +65.000 lotes/dia (+80.181/+78.105/+65.591/+78.754/+72.700). O Set-21 oscilou 750 pontos fechando @ 159,60 centavos de dólar por libra-peso (máxima/mínima @ 165,60 / 158,00 centavos de dólar por libra-peso).
Os fundos voltaram com força ajustando as posições. Com esse volume recorde semanal do ano (+375.331 lotes) a posição total dos “fundos + especuladores” terminou comprada em +45,889 lotes – uma redução de -1.928 lotes. Pelo jeito alguns fundos já realizando lucros, outros “rolando as posições com vencimento do contrato julho/2021 para o setembro/2021” aguardando por novas altas, e possivelmente novos entrantes tomando o lugar de algum fundo que já teve que “estopar” a posição.
As sessões diárias foram mais “sossegadas” com amplitude ao redor dos 400 pontos. Infelizmente julho e setembro/2021 fecharam a semana abaixo do “suporte psicológico” dos 160 centavos de dólar por libra-peso.
O Real voltou a ser a justificativa para a queda da sexta-feira (11/06) quando voltou a desvalorizar -2,39%, passando dos 5,02 R$/US$ para 5,14 R$/US.
Os boletins climáticos voltaram com previsões de chuvas nas principais regiões produtoras (chovendo entre 10-40mm em várias regiões) acalmando o mercado e melhorando as expectativas para a recuperação das lavouras para a próxima safra 2022/2023. Novas chuvas estão previstas para os próximos 15 dias e, por enquanto, ainda sem riscos de geadas.
A preocupação continua sendo com o real tamanho da quebra da safra atual 2021/2022 e a qualidade dos grãos. As chuvas são muito bem-vindas, mas poderão atrasar a colheita e a qualidade do produto. Dependendo da intensidade das chuvas/ocorrência de granizo (como ocorreu semana passada em algumas regiões) e ventos fortes muitas plantas poderão ser castigadas e surgir muito grão no chão. O que vem sendo colhido vem sendo entregue pelos produtores e até o momento o “risco de default” continua apenas assombrando o mercado.
Na quinta-feira (10/06) o IBGE* publicou novo relatório aumentando sua expectativa de produção para 48,6 milhões de sacas (crescimento de 4,3% em relação ao mês anterior). Para o café arábica, a produção estimada ficou em 33,3 milhões de sacas (+ 6,0% em relação ao mês anterior). O Estado de Minas Gerais continua sendo o maior produtor brasileiro respondendo por 69,8% da produção brasileira. Para o canéfora (conilon e robusta), a estimativa da produção ficou praticamente estável em 15,3 milhões de sacas (+ 0,9% em relação ao relatório anterior) e + 6,3% em relação à 2020. O Estado do Espírito Santo continua sendo o maior produtor brasileiro, com cerca de 67,6% da produção total em 2021/2022. Desta forma, as chuvas nesses 2 Estados são acompanhadas de perto por todo o mercado.
As exportações brasileiras no mês de maio ficaram abaixo dos 2,7 milhões de sacas (segundo a Cecafé). Com exportações recordes entre junho-20/maio-21 (45,86 milhões de sacas) o mercado externo continua sendo abastecido pelo maior produtor do mundo. Para surpresa de muitos, a Colômbia apareceu nas estatísticas dentro dos “top 6” destinos, atrás apenas dos Estados Unidos, Alemanha, Itália, Bélgica e Japão!
Os problemas políticos e logísticos na Colômbia continuam no radar e afetando as exportações e o abastecimento do seu principal mercado, os Estados Unidos, que anunciaram a necessidade do Brasil para garantir o abastecimento do produto. Ou seja, o Brasil continua se consolidando como o “celeiro do mundo”.
Mercado interno segue firme com os preços entre 800-900 R$/saca para entrega agosto/2021; 850-950 R$/saca para entrega agosto/2022; e entre 900-1.000 R$/saca para entrega agosto/2023 (preços dependendo da qualidade, peneira e local de entrega do produto). Os prêmios adicionais pagos para “café certificado” vêm sendo reduzidos pelas cooperativas/tradings de +50,00 R$/saca para +20,00 R$/saca.
Segundo nossos cálculos e projeções os preços para café padrão tipo 6 para compra deveriam estar acima 850 R$/saca, acima dos 925 R$/saca e acima dos 1.050 R$/saca para entregas agosto/2021/ 2022 e 2023 respectivamente – mais o prêmio de 50 R$/saca para café certificado (Premissas utilizando cotação de NY para os contratos com vencimento em setembro/2021/2022 e 2023; desconto de -30 pontos contra NY; e o Real projetando uma desvalorização com base na Selic em -5,50% ao ano, partindo do fechamento da última sexta-feira em 5,14 R$/US$.
Quando o inverno passar e as estatísticas começarem a confirmar uma safra problemática tanto com a quantidade quanto com a qualidade, com atrasos e redução nos embarques (com o Brasil exportando abaixo dos 3 milhões de sacas por mês), acreditamos em um dezembro/2021 firme, com os prêmios valorizando e uma disputa acirrada entre as cooperativas/tradings pelo café disponível.
Para os produtores que tiverem condições em “segurar” produto da safra 2021/2022, nossa sugestão é para vender a partir de agora contra o vencimento dezembro/2021, com “preço a fixar”, garantindo o “preço mínimo” e deixando o mercado trabalhar. Negociem com os compradores a venda do produto através da compra da estrutura de garantia de preço mínimo com a compra de uma “Put-Spread”! Se a geada vier tanto o setembro/2021 quanto dezembro/2021 vão explodir e o mercado vai enlouquecer atrás de produto para embarcar entre Out/2021-Maio/2022.
Para safra 2022/2023 e 2023/2024 sugerimos cautela, com vendas em USD$/saca, aproveitando os preços atuais, acima dos 175 US$/saca – equivalente a 900 R$/saca. E não esqueça de fazer o hedge cambial contra nova valorização do Real frente ao Dólar. O Real segue sendo uma moeda muito volátil e em 2022 teremos eleições importantes no Brasil. O BTG Pactual estima um Real entre 4,90 – 5,40 R$/US$ para o final de 2021.
No setembro/2021 próximos suportes e resistências respectivamente em 158,10 / 156,60 / 147,00 e @ 162,80 / 165,50 / 168,65 e 169,40 centavos de dólar por libra-peso. Setembro/2022 próximos suportes e resistências respectivamente em 167,80 / 165,40 / 152,40 e @ 169,50 / 172,50 / 174,70 centavos de dólar por libra-peso.
“Sugestão da semana”: analisar a compra da “Put-Spread” strike +160 / – 130 vendendo a “Call” strike -205. Esta operação fechou a sexta-feira com “custo” zero! Desta forma o produtor garante um preço mínimo ao redor dos 930 R$/saca e um preço máximo ao redor dos 1,250 R$/saca (desde que o mercado feche acima dos 130 centavos de dólar por libra-peso e acima dos 205 centavos de dólar por libra-peso no vencimento das opções contra o contrato Set-22).
MUITO CUIDADO: o inverno e os riscos das geadas estão começando!
Ótima semana a todos!
*Marcelo Fraga Moreira atua há mais de 30 anos no mercado de commodities agrícolas e escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.
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** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais baixa e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
** “Cecafé” = Conselho dos Exportadores de Café do Brasil
As informações são da Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos