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Esforços coletivos: a sustentabilidade e os pequenos produtores

POR CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

ESPAÇO ABERTO

EM 09/11/2012

4 MIN DE LEITURA

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Estima-se que 80% do café mundial seja produzido por pequenos produtores, e como diz a piada, os 20% restantes estão no Brasil! De fato, o Brasil concentra uma grande parte dos produtores médios e grandes de café do mundo, mas em geral, a área média com café nas fazendas brasileiras é de 7 hectares e o número de pequenos produtores é muito maior que o de produtores de outros tamanhos. Uma vantagem do Brasil talvez seja a legislação que evita a subdivisão da terra agrícola abaixo de uma área mínima necessária para que seja economicamente viável, considerando as atividades que predominam em determinada região. Em outras palavras, a subdivisão da terra tem um limite que quando alcançado, obriga os herdeiros a gerir a propriedade conjuntamente, como um todo.

Se o mercado de café se preocupa com a sustentabilidade de sua cadeia de suprimento, e se 80% do café do mundo é produzido por pequenos produtores, a pergunta principal a ser feita é se o pequeno produtor será sustentável no médio e longo prazos. De um lado, a tendência é que o tamanho da fazenda média de café diminua como resultado das subdivisões por herança. De outro, não somente o custo de vida está crescendo, mas as aspirações dos produtores também aumentam como resultado natural do desenvolvimento. Para piorar as coisas, sabemos que no longo prazo a tendência é que o preço real das commodities caia como consequência da tecnologia e outros fatores. Realmente não é um cenário promissor!

Talvez as forças de mercado ou a intervenção governamental darão conta do problema e causarão grandes fluxos de migração das zonas rurais para as urbanas e a criação de favelas como já aconteceu em alguns países e agora ocorre em outros. Este processo pode levar a uma atividade agrícola mais sustentável, mas criará um mundo mais sustentável?

As deseconomias de escala envolvidas na exploração agrícola de pequenas propriedades são enormes, especialmente no que tange a acesso à tecnologia, um tema que conhecemos bem no pós-colheita do café e do cacau. O preço do equipamento de benefício úmido de café apenas dobra quando a capacidade quadruplica. Um secador grande de café ou cacau custa apenas o dobro que o preço de um secador pequeno com capacidade de um décimo do primeiro. Um processo parecido ocorre com outros tipos de equipamento, por exemplo, tratores e pulverizadores e mesmo na irrigação. As tentativas de desenvolver equipamentos específicos para pequenos produtores em geral podem ser exitosas na parte técnica, mas falham em relação a reduzir os preços, às vezes profundamente. Este fenômeno é agravado pela falta de acesso a crédito para que os pequenos produtores possam adquirir máquinas e também insumos.

O tema de crédito nos leva a outro problema que aflige o pequeno produtor de café: seu poder limitado de negociação não apenas quando compra insumos e equipamentos, mas também quando vende sua colheita. Não é preciso um doutorado em economia para entender que, em média, um pequeno produtor paga mais e vende por menos que um produtor médio ou grande, da mesma forma que produtos geralmente custam mais numa lojinha de esquina de baixa renda do que num supermercado de classe média.

Assim, ao pequeno produtor resta sua própria mão de obra de baixo custo como uma vantagem comparativa, ainda que ele ou ela seja, por vezes, forçado a "consumir" suas escassas economias ou seu capital limitado. A verdade é que a mão de obra de baixo custo é apenas "vendida" ou computada (ou não) numa taxa abaixo do nível de mercado. Sem exageros, as perspectivas não são favoráveis para os pequenos produtores. Há uma saída?

A receita pode ser mais simples do que se pensa: reverter o processo. Ao invés de fazer com que a tecnologia seja compatível com a agricultura "pequena/familiar" e subsidiar crédito aos pequenos produtores, o foco deveria ser juntar os produtores para que possam se beneficiar das economias de escala em tecnologia e ganhar poder de barganha ao comprar e vender em grupo. Compartilhar equipamentos, instalações de processamento coletivas, compras e certificação em grupo e esforços conjuntos para comercializar café são alguns caminhos a seguir. Isto é mais fácil falar que fazer, logicamente, mas será que estamos nos esforçando o suficiente?

As cooperativas existem há muito mais de 100 anos e as associações de produtores tampouco são recentes, embora sua utilização não seja tão generalizada como se gostaria. Talvez estas formas tradicionais de associação tenham que ser atualizadas ou renovadas, e outras maneiras inovadoras de associação, adaptadas à cultura local e às condições do país, tenham que ser desenvolvidas para atender às necessidades dos micro e pequenos produtores de café, e pra apoderá-los antes que desapareçam no longo prazo. As barreiras reais podem ser mais comportamentais e sociológicas que técnicas, e devem ser tratadas como tal. Este é o desafio para governos, agências e empresas dedicadas aos problemas do pequeno produtor de café.





A P&A Marketing Internacional é parceira de conteúdo do CaféPoint. Seus consultores contribuem periodicamente com artigos sobre tendências de consumo, indústria e mercado de café.

Carlos H. J. Brando é diretor e sócio da P&A Marketing Internacional, empresa de consultoria, marketing e trading, que exporta máquinas Pinhalense e presta consultoria para empresas e instituições no Brasil e outros países. Carlos é palestrante frequente em eventos de café nacionais e internacionais e atualmente é membro dos conselhos da UTZ Certified, na Holanda, Coffee Quality Institute (CQI), nos Estados Unidos, Ipanema Coffees e Museu do Café de Santos.

CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP; pós-graduação à nível de doutorado em economia e negócios no Massachusetts Institute of Technology (MIT), EUA; sócio da P&A Marketing Internacional, empresa de consultoria e marketing na área de café

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MARCOS AURELIO RICCETTO

DIVINOLÂNDIA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 23/12/2012

O duro é quando a lojinha de insumos da esquina e os pequenos armazens particulares de café tem melhores precos que as grandes cooperativas.Olha que isso tem acontecido com muita frequencia.
MARCELO

TRADER

EM 13/11/2012

Temos a certeza de que o Brasil tornar-se-a o país com a melhor qualidade cafeeira mundial, tornando-se reconhecido por qualdade acima de tudo. Creiamos nao falte muito tempo. O grande desafio será o apoio e a divulgacao, sem jamais esquecer do justo reconhecimento ao produtor, o verdadeiro alquimista do campo.
FRANCISCO MENDES COSTA

ITABUNA - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 12/11/2012

O artigo "Esforços coletivos: a sustentabilidade e os pequenos produtores", representa o diagnóstico da vida do pequeno produtor, tanto de café, quanto de cacau. O autor, sintetiza a realidade de quem depende da pequena propriedade para sobreviver e acima de tudo participar da formação do agronegócio nacional. O dado é tão real, que extrapolando para outras atividades, o pequeno produtor é hoje fornecedor de 80% dos alimentos vendidos no mercado nacional (supermercados, Verdurões, feiras livres), alem de participar com parcela expressiva da exportação nacional de commodities.

Merece mais atenção das politicas públicas, pelo menos para estimulá-los a inserirem-se mais a fundo no processo associativo.
FRANCISCO UBIRATÃ MOREIRA AIRES

MARINGÁ - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 12/11/2012

É preciso repensar o atual quadro, mas necessariamente o produtor tem que acreditar nele próprio e confiar plenamente no associativismo para que as coisas comecem a andar no rumo certo.


Francisco Ubiratã Aires
FÁBIO LÚCIO MARTINS NETO

VITÓRIA DA CONQUISTA - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 11/11/2012

Prezado Carlos Brando,

Admiro muito seu trabalho a frente da P&A e gostaria de compartilhar algumas ideias a respeito do assunto tratado no artigo.

Na Bahia, especialmente na Chapada Diamantina e Planalto da Conquista, onde atuo, predominam os cafeicultores familiares e percebemos isso com muita clareza. Talvez a dificuldade em organizar a produção e a comercialização em grupos de produtores seja uma questão mais comportamental e sociológica que técnica, como afirmou mesmo.

Mas isso não basta. É preciso repensar o atual modelo de gestão das cooperativas já existentes.

Recentemente Allan Quadros defendeu dissertação de mestrado no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que algumas estruturas de governança na cadeia produtiva de café gourmet.

Realizando estudos de caso com produtores da região da Alta Mogiana, no Estado de São Paulo, o autor concluiu que a estrutura verticalizada - produção, transformação e comercialização de cafés gourmets - é mais adequadas aos grandes produtores.

Segundo o autor, para os pequenos e médios produtores o ideal seria uma cooperativa, que possibilitasse essa integração vertical e a apropriação de uma marca, e facilitasse a obtenção de contratos de comercialização de cafés gourmet com outras torrefadoras.

Porém, na prática o que ocorre com os pequenos e médios produtores é que estes não se apropriam da quase-renda oriundas da produção destes tipos de café, pois a cooperativa não informa sobre a seleção dos lotes que serão torrados e comercializados como gourmet. De acordo com o estudo, o café gourmet da cooperativa é vendido por valores 130% superiores que o café tradicional da própria cooperativa, mas isso não é repassado aos produtores.

O autor constatou que o fato do cafés gourmet não ser a prioridade da cooperativa pode ser a causa para a menor atenção dada a este segmento.

Citando Décio Zylbersztajn, o autor afirma que em cooperativas integradas verticalmente, o cooperado pode ficar distante do negócio da cooperativa e as decisões dessa última podem não ir de encontro aos interesses dos cooperados.

Para o economista Robin Murray, este distanciamento normalmente ocorre quando a cooperativa, tentando sobreviver no mercado em face da concorrência direta da economia convencional é obrigada e copiar as estruturas centralizadas e de escala de seus concorrentes privados.

Correto seria que os negócios das cooperativas fossem não apenas próximos do cooperadomas fossem de fato os negócios dos cooperados.  As decisões da diretoria da cooperativa devem estar coerentes com os interesses dos cooperados. O verdadeiro sentido do cooperativismo é o envolvimento das pessoas, principal força da cooperativa.

Por isso o número de membros não deve ser tão grande. Assim pequenas cooperativas poderiam se organizar em rede e criar federações de cooperativas, como já ocorre no Brasil e na Europa.
ARTHUR FIOROTT

VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO - PROVA/ESPECIALISTA EM QUALIDADE DE CAFÉ

EM 09/11/2012

Carlos, Parabens pelo artigo, faremos uso dele para mostrar uma visão que compartilhamos aqui no ES. Parabéns.
DELMA BUENO DE CAMARGO SANCHES

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 09/11/2012

Carlos , excelente análise. Esperamos que ela chegue a todos os setores envolvidos nesta cadeia produtiva .

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