Por Marcelo Fraga Moreira*
A última semana de fevereiro foi a melhor do ano para o preço do café negociado nos estados de São Paulo e Minas Gerais (com o índice CEPA fechando a sexta-feira cotado a 746,50 R$/saca e no mês indicando uma valorização em +13,33%). Tivemos notícias de vários negócios reportados acima dos 800 R$/Saca e cooperativas e tradings entrando no mercado tentando comprar café para entrega futura para setembro/2022 e setembro/2023 entre 800-820 R$/saca e entre 835-850 R$/saca respectivamente. Para o café qualidade tipo “cereja descascado” ainda o pagamento de um prêmio adicional entre 60-70 R$/saca e para produto com “certificado UTZ/RA” mais um prêmio entre 10-15 R$/saca.
Também na semana, finalmente tivemos novos relatórios sendo divulgados sobre a quebra da safra brasileira 2021/2022. O Rabobank atualizou seus números reduzindo de 59 para 56,5 milhões de sacas e reduzindo o superavit mundial de +10 milhões de sacas para um déficit global em -2,6 milhões de sacas.
E, finalmente após uma viagem de 15 dias pelo Brasil a renomada consultora Judith Ganes confirmou o que vários produtores já vem falando aos 4 cantos, há meses: a safra brasileira quebrou (após visitar várias fazendas e regiões e entrevistar dezenas de produtores). Com isso, a projeção para a próxima safra segue sendo entre 47-52 milhões de sacas. E aqui com a nossa observação: “all going well, weather permitting – tudo indo bem, se o clima assim permitir” pois os riscos das geadas ainda nem começaram.
Os fundos seguiram comprando, e nas últimas 2 semanas praticamente dobraram a posição comprada (passando de +22.000 para +41.298 contratos – o que deve ser mais ainda pois esse número reflete a posição da última terça-feira e o mercado seguiu subindo e com bom volume sendo negociado nos últimos 3 dias da semana).
Falando nas cotações em Nova York, a semana foi a melhor do ano com o setembro/2021 atingindo a cotação máxima do ano a 143,80 centavos de dólar por libra peso. Setembro/2021 trabalhou entre a mínima e a máxima entre 130,45-143,80 centavos de dólar por libra-peso e fechando a sexta-feira (26/02) a 141,10 centavos de dólar por libra-peso. Já setembro/2022 trabalhou entre a mínima e a máxima entre 132,90-146,90 centavos de dólar por libra-peso e fechando a sexta-feira com 144,90 centavos de dólar por libra-peso.
O Real seguiu sendo a estrela da semana, fechando na sexta-feira a 5,60 R$/US$ (mesmo após 3 leilões realizados pelo Banco Central para tentar segurar a moeda) e o dólar futuro com vencimento em julho/2022 chegou a ser negociado em até 5,75 r$/US$. O Real seguiu desvalorizando forte em função da conjuntura internacional e, infelizmente, em função do quadro interno brasileiro político/fiscal. Do lado internacional o mercado precisava de um motivo para realizar, e esse motivo apareceu: as bolsas americanas trabalharam em fortes baixas e os juros americanos para 5-10 anos aumentaram consideravelmente (passando de 0,90% ao ano para 1,40% ao ano). Esse movimento da alta das taxas de juros americanos gera o “efeito dominó” onde investidores vendem as posições em ações nos países emergentes, o dólar valoriza perante outras moedas, e os recursos voltam para os Estados Unidos para comprar títulos americanos “mais seguros” e com uma remuneração “mais decente”.
Esse aumento nos juros americanos começou a surgir no mercado desde a semana passada (quando falamos aqui sobre os riscos da “REFLAÇÃO”). O governo americano segue tentando aprovar o novo plano para injetar mais 1,8 trilhões de dólares na economia; a vacinação segue avançando tanto nos Estados Unidos/Canadá e Europa; a vida começa a voltar ao normal; e nas economias ricas, com dinheiro sobrando, a população deverá voltar a circular, frequentar bares, restaurantes, cafeterias. E com isso analistas já estão novamente estimando o aumento dos preços, da demanda por produtos que estavam sendo represados há meses. Com esse cenário temos previsões para o aumento do consumo do café.
E assim, o mercado do café finalmente acordou.
Produtores com café disponível aguardam por melhores preços. Por outro lado, os produtores que já venderam e que já se comprometeram com vendas futuras, e não vão conseguir honrar com seus compromissos em função da seca/da quebra nas suas lavouras, seguem tentando comprar produto no mercado interno para honrar seus compromissos e/ou seguem tentando renegociar o prazo de entrega para a safra 21/22 e 22/23 com seus fornecedores de insumos, cooperativas e tradings. Vamos ter mais gasolina sendo adicionada na fogueira.
No Brasil, o índice que mede a inflação, o IGPM, já aumentou mais de +30% nos últimos 12 meses. Fertilizantes mais de 40%. A inflação no Brasil está fora de controle com preços do combustível, insumos e implementos agrícolas, alimentos subindo praticamente toda semana. Agora, qual será o real custo de produção de uma lavoura de café no Brasil (considerando uma safra normal)? 500/600/700 Reais por saca? Os juros brasileiros deverão aumentar já na próxima reunião do Banco Central, e deveremos terminar o ano com a Selic acima dos 4,00% ao ano. Quem ainda tiver acesso a recursos, linhas de crédito “baratas”, aproveitem.
Seguimos altistas no mercado para o curto/médio prazo. Para setembro/2021 e dezembro/2021 o “céu poderá ser o limite”. Seguimos com nossa recomendação para quem estiver vendido em futuros e/ou opções que zeram suas posições ou se protejam comprando “Calls” fora do dinheiro (que ainda estão “baratas”). Comprem as opções de compra “Calls” de 170/180/200 centavos de dólar por libra peso para setembro/2021. Se protejam! Tanto produtores como cooperativas. Se tivermos geadas em junho/julho-2021 o vencimento setembro/2021 poderá explodir e ultrapassar os 200-300 centavos de dólar por libra peso. Com os fundos comprados e com espaço para comprar ainda mais, imaginem se uma geada, por mais leve que seja, venha a ocorrer. Vamos ver os vendidos correndo para “cobrir/zerar” posição e aí meus caros leitores, a tempestade perfeita estará feita! E lembrem-se: da mesma forma que o mercado poderá disparar 3-5-10.000 pontos poderá devolver tudo em 2-3 dias também.
Para setembro/2022, para os produtores que ainda tem produto para vender, para fixar, seguimos recomendando a compra do “Put-Spread” no setembro/2022 strike +140 x -110 vendendo a “Call Spread” strike -170 x +200 (quem puder aguardar para vender as “Calls” mais para frente sugerimos aguardar).
Essa operação para a próxima safra 2021/2022, e até mesmo 2022/2023, garante um preço mínimo para o produtor ao redor de 835 R$/saca (desde que setembro/2022 feche acima dos 110 centavos de dólar por libra peso) e um preço de venda máximo ao redor dos 1,060 R$/saca (desde que o Set-22 feche acima dos 170 centavos de dólar por libra peso). Caso o set-22 negociar e fechar acima dos 170 centavos de dólar por libra e fechar acima dos 200 centavos de dólar por libra peso, o produtor voltará a ter ganhos, e a “participar” das altas do mercado acima dos 200 centavos de dólar por libra peso. Caso esse cenário venha a acontecer, o produtor poderá “rolar para cima” a sua compra da “Put-Spread” (isso é, vender a “Put-Spread +140/-110 e comprar uma nova “Put-Spread” +180 x -120 por exemplo, e vender uma nova “Call-Spread”, por exemplo 250 x 300.
Essas estruturas para o vencimento setembro/2022 tem pouca liquidez no mercado, então cuidado com os spreads que serão oferecidos pelas corretoras/tradings que oferecem esse tipo de operação/estrutura. Trabalhem as ordens, façam suas contas e evitem as famosas “bocas de jacaré”!
Uma ótima semana a todos!
*Marcelo Fraga Moreira atua há mais de 30 anos no mercado de commodities agrícolas e escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.
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** “Call” = opção de Compra
** “Put” = opção de Venda
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;
As informações são da Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.