Por Rodrigo Costa*
O mercado de trabalho americano criou muito mais postos em novembro do que o esperado, e o otimismo transpira no índice de confidência dos consumidores, também ajudado pelas performances positivas do mercado imobiliário e do mercado acionário.
Os principais índices de commodities caminham para um final de ano com retornos positivos levados pelas fortes altas das matérias-primas energéticas e tendo o café arábica no meio dos ganhadores.
O contrato “C” demonstra ter mudado de patamar de preços rejeitando baixas pontuais nas últimas semanas para então ter sequenciais fechamentos mais fortes – ainda que pule entre altas e baixas dentro das sessões diárias.
Londres não tem tido a mesma força, embora esteja mais de US$ 200 por tonelada acima da mínima vista no meio de outubro último, e o robusta deve acabar o ano com perdas, diferentemente do arábica, fazendo com que a arbitragem entre as duas variedades esteja em US$ 60 centavos por libra – o mais aberto desde dezembro de 2016.
Muitos agentes tem se questionado sobre o fundamento do café após a apreciação de 30% desde 17 de outubro até a última sexta-feira dia 6 de dezembro.
Do lado dos altistas há a certeza da resposta dos preços a uma oferta limitada do atual ciclo (com a produção menor do Brasil), assim como a insustentabilidade da cultura nos níveis que o mercado vinha negociando anteriormente.
Os baixistas, muitos machucados como é de se esperar quando há uma inversão tão rápida e acentuada da tendência, apontam a desvalorização significativa das moedas das duas principais origens e entendem que os preços atuais finalmente remuneram – se não todos – a grande maioria dos produtores da cadeia.
É muito difícil dizer para onde as bolsas irão ao curto-prazo e o volume negociado no físico dentro do Brasil para o que havia/há de café disponível, e para as safras futuras trarão menos vendas do país nos próximos 15 centavos por libra do que trouxe nestes 30 centavos iniciais.
Os produtores da América Central e Colômbia tem uma disponibilidade crescente e vão aproveitar para negociar suas safras, provavelmente barateando o basis de agora em diante.
As agências de notícias dizem que o rally está acontecendo por falta de café de qualidade, motivo da procura pelos cafés certificados, mas a qualidade dos estoques não é necessariamente um substituto para os suaves.
O inventário reportado pela ICE em novembro cedeu 122 mil sacas em novembro, estando próximo dos 2 milhões de sacas – comparado com as 2.5 milhões de março último, mas há cafés pendentes de classificação, ou seja, não é uma via de apenas uma mão.
Como escrevi no comentário de duas semanas atrás, a combinação desta queda dos certificados com o estreitamento da estrutura e o rompimento de médias-móveis e linhas de tendência baixistas de longo prazo, desencadearam a compra dos fundos, os quais saíram de uma posição vendida para comprada pela primeira vez desde abril de 2017.
Os especuladores, portanto, devem estar comprados em 2 mil lotes, considerando o supplemental report já que nos relatórios que não separam os fundos de índices os fundos já estão long há duas semanas.
Na categoria dos comerciais, a parte bruta-vendida atinge um novo recorde, em qualquer formato divulgado pelo órgão controlador americano, com o equivalente a 52.3 milhões de sacas vendidas e 54,68 milhões de sacas, em dois dos mais seguidos relatórios.
O lado comprado dos comerciais, ainda que abaixo do recorde, está bem acima da média histórica, dando um folego àqueles que precisam voltar as fixar suas compras.
O fechamento de sexta-feira foi mais de US$ 2 centavos abaixo da máxima do dia, em teoria mostrando que uma realização poderia começar a acontecer, entretanto vimos isto acontecendo em algumas sessões apenas para o mercado depois voltar a subir novamente.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting