Por Williams Ferreira, Marcelo Ribeiro e Larissa Santos*
Abril foi um mês com temperaturas acima da média em quase todo o estado de Minas Gerais. As chuvas concentraram-se no Triângulo Mineiro, mais a oeste do Sul de Minas, na parte central da Zona da Mata, na Região Metropolitana de Belo Horizonte e no Vale do Rio Doce.
As chuvas em abril
Na Figura 1, pode-se observar que todas as regiões cafeeiras foram favorecidas pela distribuição das chuvas em abril. A região do Cerrado Mineiro foi aquela com menor volume de chuvas. A distribuição contribuiu para o percentual de água presente no solo em Minas Gerais, fato esse que pode ser verificado com base na Figura 2.
Figura 1 : Volume acumulado de chuvas no mês de abril de 2022. Elaborado com base nos dados CHIRPS desenvolvido pelo United States Geological Survey e pelo Climate Hazards Group at the University of California, Santa Barbara
Apesar do menor volume de chuvas no Cerrado Mineiro (Figura 1) pode ser observado, com base na Figura 2, que a maior disponibilidade de água no solo se encontra no Cerrado Mineiro, quando comparado às demais regiões cafeeiras, bem como no Campo das Vertentes.
Figura 2: Percentual de umidade do solo no mês de abril 2022. Elaborado com base nos dados COPERNICUS que se destaca como um serviço operacional voltado para Mudanças Climáticas gerido pela Comissão Europeia
O fenômeno ENOS
As condições atmosféricas e oceânicas revelam que o fenômeno La Niña continua presente, sendo provável que tais condições persistam até junho, quando tem início o inverno. A partir de julho há igual probabilidade (50%) que as condições de La Niña continuem ou condições ENSO neutras ocorram até setembro, quando tem início a primavera no hemisfério Sul.
As chuvas no próximo trimestre
Com relação às chuvas, para o trimestre de junho a agosto espera-se chuvas abaixo da média para toda a região Sul do Brasil, para o Mato Grosso do Sul, São Paulo, Mato Grosso, com exceção da mesorregião Nordeste do estado. Nas mesorregiões Sul e Central de Goiás, bem como no Sul/Sudoeste, Oeste e Triângulo Mineiro, em Minas Gerais, também são esperadas chuvas abaixo da média.
Chuvas acima da média são esperadas para o Amapá, Roraima, as mesorregiões Norte amazonense, na Amazônia; Baixo Amazonas, Marajó e metropolitana de Belém, no Pará; Norte, Leste e Oeste maranhense, e em todo o Rio Grande do Norte e Paraíba, e na região litorânea do Piauí, Ceará, Alagoas, Pernambuco e Sergipe.
Esse padrão de chuvas abaixo da média na região Sul, Sudeste e Centro Oeste e acima da média mais ao Norte e Nordeste do Brasil se acentua a partir de junho, alcançando seu máximo em agosto.
As temperaturas no próximo trimestre
São esperadas temperaturas acima da média no próximo trimestre para os estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, e para a mesorregião do Noroeste de Minas Gerais; e também no Extremo Oeste Baiano e no Sudoeste do Piauí; e em São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Araçatuba e Presidente Prudente, em São Paulo.
Temperaturas abaixo da média são esperadas na mesorregião Norte e Centro Amazonense, Baixo Amazonas, no Pará, e no Sul de Roraima. Em Minas Gerais, a probabilidade de ocorrência de temperaturas pouco abaixo da média pode ser visualizada na Figura 3. Nas demais regiões brasileiras, as temperaturas devem permanecer dentro da média do trimestre, ou seja, dentro da normalidade.
Figura 3: Probabilidade de ocorrência de temperaturas para o trimestre junho, julho e agosto 2022. Elaborado com base nos dados COPERNICUS que se destaca como um serviço operacional voltado para Mudanças Climáticas gerido pela Comissão Europeia.
A chuva nas próximas semanas
Nas próximas duas semanas são esperadas chuvas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, bem como numa faixa no extremo Norte do Brasil, nos estados do Amazonas, Pará e Amapá, e numa faixa litorânea entre o Ceará e o Sul da Bahia.
Café
A partir da segunda quinzena de fevereiro foi observada a redução do volume de chuvas em Minas Gerais. No mês de março, a chuva foi mais concentrada no Triângulo e no Sul de Minas, o que contribuiu para a baixa umidade de água no solo em parte de outras regiões cafeeiras do Estado. Em abril, apesar da melhor distribuição das chuvas no Estado, a umidade do solo continuou baixa principalmente em grande parte da região das Matas de Minas, no Sul de Minas e na região da Chapada de Minas. As consequências de tais condições poderão ser reveladas nas próximas semanas, nos lavadores de café, com a maior presença de grãos vazios e malformados.
Apesar dos problemas de má-formação dos grãos, que poderão ocorrer nessas regiões em função da baixa disponibilidade hídrica para o café, a continuidade do clima mais seco, consequentemente com baixa umidade relativa do ar, poderá contribuir para a melhoria da qualidade do café que está sendo colhido nesta safra.
Considerando a probabilidade de um trimestre com temperaturas pouco abaixo da média na maioria das regiões cafeeiras, o produtor deve estar atento à possibilidade de ocorrência de geadas, principalmente no Sul de Minas onde as frentes frias chegam com maior intensidade. Logo, aumentam as chances de o produtor vir a ser surpreendido por esse tipo de evento climático ao longo dos próximos três meses.
Diante das condições climáticas reinantes, o produtor deve estar atento ao mercado do café que mantém a tendência de oscilação e alta nos preços. Quem possuir estoques deve ficar atento ao mercado e aproveitar os preços para vender de acordo com sua necessidade. Sabendo que o café é um produto que tem o seu valor de mercado estritamente relacionado com seu aspecto qualitativo, o produtor deve sempre investir em todos os processos que contribuem para a obtenção de um café de qualidade.
Como no atual período do ano é comum a produção de mudas de café, fica o alerta para o viveirista que ainda está enchendo as sacolinhas, proteger o substrato para não receber as chuvas diretamente.
Devido à perda de mudas na safra passada pela ocorrência das geadas, muitos viveiristas estão deixando para semear um pouco mais tarde este ano de modo a evitar a queima das mudas no viveiro. Aqueles que semearam mais cedo podem prevenir a queima das mudas pela geada com o uso de palha sobre as mudas ou com o uso de lonas sobre os canteiros.
Plantas jovens que estão no campo podem ser protegidas cobrindo-as com terra. Plantas com um ano e meio, podem ser protegidas colocando-se terra sobre o seu caule o mais alto possível. No caso de plantas adultas, a limpeza das ruas sem as plantas espontâneas, uma boa nutrição, evitar irrigações precedentes ao evento, e o uso de aquecedor/termonebulizador no momento da geada, podem ser ações preventivas que evitam a queima.
Prognóstico
As análises e os prognósticos climáticos aqui apresentados foram elaborados com base nas estatísticas e nos históricos da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se, também, as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; pelo Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; pelo Met Office Hadley Centre; pelo Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; pelo Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (Divmet) do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET. (5º Disme) / CPTEC-Inpe.
O prognóstico climático faz referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas. Desta forma, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano ou prejuízo que o leitor possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas no texto. Portanto, é de total responsabilidade do leitor o uso das informações aqui disponibilizadas.
*Williams Ferreira é pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG Sudeste na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais e cafeicultura. - williams.ferreira@embrapa.br .
Marcelo Ribeiro é pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. mribeiro@epamig.br.
Larissa Santos é graduanda em Geografia na Universidade Federal de Viçosa e bolsista de Iniciação Científica na Epamig Sudeste. larissa.galvao@ufv.br.