Por Rodrigo Costa*
O S&P500 em abril apreciou 12%, a melhor performance desde janeiro de 1987 e, mesmo com a queda de 2.8% no primeiro dia de maio, a recuperação da mínima do dia 23 de março, 2,191.86, acumula estonteantes 29% – graças à enxurrada de dinheiro despejada pelos bancos centrais ao redor do mundo.
Gradualmente alguns estados americanos e países europeus começam a sair do isolamento-completo após a taxa de contaminação estar diminuindo, mas o grau de incerteza que ronda a contenção da pandemia e a velocidade da retomada econômica causa desconforto entre todos.
O antiviral Remdesivir (da farmacêutica Gilead Sciences) foi liberado na sexta-feira pela agência de administração de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, a FDA, para tratar pacientes com o covid-19 que apresentem quadros mais críticos. O estudo feito pelo laboratório apresentou uma redução do tempo de recuperação dos enfermos em 31% e diminuiu o índice de fatalidade de 11% para 8%.
Enfim algumas boas notícias!
No Brasil, Jair Bolsonaro tratou de rapidamente dar segurança aos mercados da permanência de seu ministro Paulo Guedes. O presidente acelera a aproximação com o centrão no congresso trazendo esperanças aos investidores para aprovações de reformas emperradas há algum tempo.
O CRB subiu nos últimos cinco dias liderado pelos ganhos das matérias-primas energéticas, do suíno-magro e do açúcar – todas com dois dígitos percentuais de alta – e o café em Nova Iorque ficou de lado após testar o suporte do meio de março.
A entrada da safra na principal origem levemente antecipada já traz algum fluxo de café novo, mas a negociação nas principais praças ficou mais lenta com o terminal mostrando fraqueza e com o câmbio ainda próximo dos R$ 5.50.
Não creio em um prognóstico para preços muito negativo, mas a colheita acelerando a partir de agora pode limitar ganhos e eventualmente atrair fundos para vender um pouco esta commodity.
A conversão do contrato “C” em centavos de Real por libra-peso encerrou o último pregão do arábica da ICE em R$ 583.90, longe dos R$ 649.80 de 25 de março último e mais distante ainda dos R$ 422.30 centavos de 5 de fevereiro.
Entretanto comparando com o dia 8 de maio de 2019, quando o Brasil entrava em uma safra menor do que a atual, este “indicador” está 67.9% mais alto – lá estava em 347.82 centavos de real por libra, ou seja NY negociava a US$ 88.55 centavos por libra e o dólar a R$ 3.9279.
Este é um dos argumentos dos baixistas, juntamente com a perspectiva de queda de demanda.
Eu tenho a impressão de uma demanda que não sofra perdas, podemos sim não ter um crescimento como vinha acontecendo há vários anos, mas imaginar um decréscimo, por ora, não é a hipótese que trabalho para meus exercícios.
Vale notar, entretanto, que diversos colaboradores e profissionais que converso discordam desta minha análise e traçam um panorama nada animador.
A favor da minha suposição há o incremento do consumo dentro de casa, menos eficiente e com uma base maior, e contra há a perda significativa do consumo fora de casa e a perda de poder aquisitivo, incluindo o desemprego que pode afetar o comportamento dos tomadores de café.
Outro fator que não custa ser lembrado é de as cotações internacionais não estarem em patamares que estimulem grande parte dos produtores de suaves, mas neste ponto os baixistas contra-argumentam usando o Brasil como estando em uma situação bem distinta.
Para os produtores brasileiros a lição de casa tem sido muito bem feita há algum tempo, uma das provas disto é estarmos entrando em uma das maiores safras da história com um recorde de volume pré-negociado.
Outra excelente notícia no meio de tudo que estamos passando.
Uma ótima semana a todos com muita saúde e cautela.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting