Por Rodrigo Costa*
Pela segunda semana consecutiva, as bolsas de ações americanas fecham em baixa, por conta de dados de consumo e investimentos das empresas abaixo do esperado.
O pedido de impeachment de Donald Trump pouco influenciou as cotações, já que o presidente tem maioria absoluta no senado, onde é necessário dois terços para afastá-lo – assumindo que o processo passe na camada dos representantes.
Na Europa, a produção de manufaturados e do setor de serviços da Alemanha também enfraqueceram em setembro, sinais nada animadores para a principal economia da região.
O dólar dos Estados Unidos firmou e levou as commodities para baixo, tendo o índice do CRB preenchido o gap deixado há duas semanas justamente pressionado pelas matérias-primas energéticas, mas com contribuição também dos metais preciosos e industriais.
O café em Nova Iorque fechou a exatos US$ 99.00 centavos por libra na segunda e terça-feira, ganhando depois US$ 1.95 centavos, fazendo com que o ajuste nas últimas três sessões fique basicamente no mesmo patamar, US$ 100.90.
As chuvas no Brasil chegaram para o cinturão cafeeiro com o prognóstico de tempo mais seco por uma ou duas semanas e, no modelo mais estendido, há a previsão para regressarem e firmarem a florada que deve abrir.
O quadro climático vai determinar qual dos extremos do atual intervalo de negociação as cotações irão testar, sendo que uma seca durante o mês de outubro pode levar os preços a níveis bem mais elevados.
Revisões sobre o tamanho da produção para 2020/2021 devem então ser feitos pós-florada e pegamento, entretanto, é de se imaginar que o potencial pleno que se falava na primeira metade do ano, dado o crescimento da rama e condições saudáveis da planta, já não é o mesmo.
Algumas noites bem frias de inverno, a geada de baixada que causou perdas em regiões que normalmente não teriam café plantado, assim como o clima muito quente recentemente, deverão gerar um ajuste para quem estava hiperotimista.
Por outro lado, neste momento, os agentes acreditam que mesmo assim será uma safra suficientemente grande para voltar a formar estoques, depois do atual ciclo ser deficitário. Há de se aguardar.
A Organização Internacional de Café (OIC) juntou torrefadores, produtores e comerciantes para assinarem uma declaração de sustentabilidade econômica para a cadeia de café global, acordando em fazer ações conjuntas para resolver os baixos preços da commodity, a alta volatilidade e a sustentabilidade do setor no longo-prazo.
Difícil imaginar algo fora das leis de mercado para resolver a situação, já que o crescimento da produção mundial se deu pelos preços altos negociados há mais de dois anos, assim como os patamares atuais faz apenas os mais eficientes se manterem na atividade de forma saudável – por mais triste que seja para quem está perdendo dinheiro.
Diversos planos já foram desenhados no passado quando os preços caíram, entretanto, se mostraram pouco (ou nada) frutíferos.
Outro exemplo da dificuldade de se controlar o mercado é o sempre mencionado cartel do petróleo, a OPEP, que, controlando sua produção, fez surgir os Estados Unidos como segundo maior produtor do mundo.
Em outras palavras, alguém vai segurar o guarda-chuva para outros entrarem ou se beneficiarem. A história do Vietnã também nos mostra como os preços altos atraem novos participantes, pois este país pouco produzia há algumas décadas e hoje colhe 30 milhões de sacas.
Tecnicamente, o gráfico atrairá mais vendas caso feche abaixo de US$ 97.25 e compradores com o rompimento acima de US$ 104.25 centavos por libra.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting