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Chuvas amenizam situação das lavouras de café, mas não revertem cenário de redução na produção

ESPAÇO ABERTO

EM 18/10/2021

7 MIN DE LEITURA

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Por Williams Ferreira, Marcelo Ribeiro e Vanessa Castro*

Chuvas mais fortes chegaram a acumular valores superiores a 150 mm nos últimos 30 dias na mesorregião das Matas e no Oeste de Minas. No Sul, Sudoeste e Noroeste do estado, chuvas mais moderadas chegaram a acumular valores entre 50 e 100 mm, o que beneficiou floradas de café nessas regiões. Confira o prognóstico para o período, elaborado pelos pesquisadores Williams Ferreira (Embrapa Café), Marcelo Ribeiro e Vanessa Figueredo (EPAMIG), com base em históricos e dados climáticos de diferentes órgãos especializados do Brasil e do exterior.

O fenômeno ENOS

As temperaturas negativas, abaixo da média, observadas na superfície do Pacífico Central e Centro-Leste ao longo de setembro; bem como as anomalias de vento Leste e Oeste também observadas nos altos níveis da atmosfera na maior parte do Pacífico Equatorial; fortaleceram a possibilidade de ocorrência de um evento La Niña de intensidade moderada a ser confirmada ainda entre a atual primavera e o verão de 2022, o qual pode se estender até o começo do próximo inverno, em 2022. 

Essa condição pode reforçar a continuidade de poucas chuvas ao longo do próximo ano. As anomalias negativas observadas em profundidade na maior parte do Oceano Pacífico Central e Oriental reforçam a possibilidade de ocorrência do La Niña. 

Na imagem a seguir é possível observar a ampliação do resfriamento anômalo (demarcado em azul sob a linha de cor roxa) iniciado a partir de julho na porção mais Centro-Leste do Oceano Pacífico Equatorial, próximo à linha de data (longitude 0 graus).

As chuvas nos próximos meses

Os próximos três meses são, climatologicamente, os mais chuvosos na região Sudeste do Brasil. Neste ano, dentre os próximos três meses, novembro será o mês com maior probabilidade de volumes de chuvas acima da média. Por esse motivo, a partir de novembro aumenta a probabilidade de chuvas mais intensas, com raios e trovoadas, bem como a possibilidade de ocorrência de granizo.

Novembro

Nesse mês há 40% de probabilidade de o volume de chuvas ocorrer acima da média mensal nas mesorregiões do Norte e do Nordeste mato-grossense, em toda a região do Matopiba e nos estados do Espírito Santo e de Minas Gerais. 

As exceções ficam por conta das mesorregiões do Noroeste e Oeste de Minas, Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e Sul de Minas. Nesses locais, a probabilidade é 30%, assim como nas mesorregiões de Campinas e Ribeirão Preto, em São Paulo. Em todo o Rio Grande do Sul e nas mesorregiões Serrana e Oeste de Santa Catarina, há 40% de probabilidade de o volume de chuvas ocorrer abaixo da média do mês.

Dezembro

A probabilidade de o volume de chuvas ocorrer acima da média mensal no mês de dezembro gira em torno de 30% nas microrregiões do Parecis, Arinos, Alta Floresta e Aripuana, no Mato Grosso, e em todo o estado de Minas Gerais, com exceção das mesorregiões Oeste de Minas, Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e Sul de Minas, que devem ficar dentro da média mensal.

Já na região das Matas de Minas e na região Sul do Espírito Santo, a probabilidade de suplantação no mês é de 40%. Em todo o Rio Grande do Sul há 40% de probabilidade de o volume de chuvas ocorrer abaixo da média do mês, com exceção das mesorregiões Noroeste e Nordeste do estado, que devem apresentar volume de chuvas dentro da média mensal.

Janeiro de 2022

As chuvas devem ocorrer dentro da média mensal em quase todo o Brasil, com exceção dos estados do Amazonas, Amapá e o Baixo Amazonas, no Pará, que apresentam 30% de probabilidade de ocorrência de volume de chuvas acima da média mensal.

No próximo ano, a depender da intensidade do fenômeno La Niña, as anomalias na precipitação poderão ser mais pronunciadas no mês de fevereiro, com redução no volume de chuvas em todo o estado de Minas Gerais, Goiás, Norte e Nordeste do Mato Grosso, Extremo Oeste e Centro Sul Baiano, e na região do Matopiba.

As temperaturas em novembro 

Na região do Matopiba, no Extremo Oeste Baiano; no Leste, Norte e Noroeste Goiano; no Sudoeste do Piauí; Sul Maranhense; no Sudeste Paraense; em todo o estado do Tocantins; nas mesorregiões do Noroeste e Norte de Minas; nos vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce; e na mesorregião das Matas de Minas, há 40% de probabilidade de a temperatura do mês ocorrer abaixo da média mensal.

As temperaturas em dezembro

A probabilidade é de 40% para a ocorrência da temperatura acima da média nas mesorregiões do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, em Minas Gerais; e em Araçatuba, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto, em São Paulo. Abaixo da média mensal há 30% de probabilidade para a mesorregião do Baixo Amazonas, no Pará; e para o Sudoeste piauiense, bem como para todo o estado do Maranhão, com exceção das regiões litorâneas do estado e da mesorregião Norte maranhense. Nas demais partes do Brasil, são esperadas temperaturas dentro da média do mês.

As temperaturas em janeiro de 2022

Nesse mês há 30% de probabilidade de as temperaturas ocorrerem acima da média mensal em todo o estado de Minas Gerais, com exceção das mesorregiões Norte, Matas de Minas, Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce. Também, em quase todo o Goiás, com exceção da mesorregião Noroeste do Estado, e em toda a região Sul do Brasil. 

Além disso, são esperadas temperaturas abaixo da média mensal nas mesorregiões do Vale do São Francisco baiano, no Norte amazonense, no Baixo Amazonas, no Pará, no Sul do Amapá e em todo o estado de Roraima. Nas demais regiões do Brasil as temperaturas podem ocorrer dentro ou um pouco acima da média do mês.

As próximas semanas

É esperado que até o final de outubro o maior volume de chuvas ocorra em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Paraná e no Tocantins. Em Minas Gerais, o maior volume de chuvas será acumulado na parte Centro Sul do estado.

Café 

Ao longo da primavera, considerando a possibilidade do volume de chuvas ocorrer um pouco acima da média mensal na maioria das regiões cafeeiras, o pegamento das floradas e do chumbinho poderá ser favorecido. Logo, o produtor deve ficar atento aos tratos culturais para minimizar ao máximo os prejuízos decorrentes das intempéries ocorridas.

As chuvas da última semana deixaram os produtores um pouco mais tranquilos. Porém, embora amenizem as perdas ocorridas, as chuvas não vão revertê-las. Atualmente, os cafeeiros estão desfolhados devido ao cenário climático da última safra, que foi de seca bastante prolongada, com altas temperaturas seguidas de geada em algumas regiões, e com ataques de pragas e doenças. Esses impactos negativos ocorridos no período de desenvolvimento vegetativo dos ramos podem interferir no desenvolvimento reprodutivo das safras de 2022 e de 2023.

A atual fase da cultura do café é de floração. A depender principalmente das condições de temperatura e da disponibilidade de água, a floração pode ocorrer mais de uma vez, geralmente na primavera, entre setembro e novembro. Os produtores devem aproveitar as boas precipitações previstas para garantir o pegamento, tanto das floradas quanto dos chumbinhos. Alguns fatores importantes devem ser considerados, como o controle fitossanitário e o bom estado nutricional das plantas, tanto em macro quanto em micronutrientes.

O que tem sido observado atualmente é o menor crescimento de ramos produtivos para a próxima safra, além do menor número de folhas nos ramos do cafeeiro, o que compromete o pegamento da florada. Os impactos provocados por esses fenômenos variam de região para região. Dessa forma, recomenda-se que o produtor siga criteriosamente todos os manejos exigidos pela cultura, pois, é a partir das flores que será definido o potencial produtivo das plantas. 

Por fim, com a probabilidade de o volume de chuvas ocorrer acima da média e as temperaturas abaixo da média em algumas regiões de Minas, os produtores de mudas de café devem ficar atentos, pois a umidade do ar pode se elevar acima do desejado e pode favorecer o aparecimento do fungo rizoctoniose (tombamento).  

Prognóstico

As análises e os prognósticos climáticos aqui apresentados foram elaborados com base nas estatísticas e nos históricos da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente daqueles atuantes na América do Sul. Considerou-se, também, as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA, Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade (IRI), Met Office Hadley Centre, Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo (ECMWF), Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (Divmet) do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET (5º Disme) / CPTEC-Inpe. 

O prognóstico climático faz referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas. Dessa forma, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por quaisquer danos ou prejuízos que o leitor possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas no texto. Portanto, é de total responsabilidade do leitor o uso das informações aqui disponibilizadas.

*Williams Ferreira é pesquisador da Embrapa Café-EPAMIG Sudeste na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais e cafeicultura. Email: williams.ferreira@embrapa.br .

Marcelo Ribeiro é pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. Email: mribeiro@epamig.br.

Vanessa Castro Figueiredo é pesquisadora da EPAMIG, especialista na cultura do café.  Email: vcfigueiredo@epamig.br

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