Por Fernando Barbosa*
Na madrugada do último dia 20 de julho deste ano 2021, tivemos em nossa região uma das noites mais frias do ano, o que acabou se refletindo em uma geada que afetou alguns de nossos companheiros produtores de café.
O impacto gerado pela geada não pode ser visto apenas como a perda dos cafeicultores de uma região. Temos que ver o impacto como um todo, afinal de contas o café não é um grão, mas sim uma cadeia produtiva, onde, quando ocorre um problema, todos os participantes desta cadeia sofrem.
Os cafeicultores, atores primários desta cadeia produtiva, podem ser conhecidos pelas marcas deixadas pelo tempo dedicado a esta cultura melindrosa que é o café. Já se apresentam de forma organizada, mas, ainda assim, falta muito. Ainda falta a cadeia produtiva.
Nós, cafeicultores, ainda sofremos com custo de produção elevado, com programas de financiamento que beneficiam apenas um lado – e este não é o cafeicultor –, além de outros personagens que aparecem nesta cadeia produtiva não como agentes agregadores, mas como parasitas que minam e sugam a energia daqueles que a sustentam, os cafeicultores.
Quando os benefícios são apresentados aos cafeicultores, por programas governamentais, estes são blindados por uma burocracia que mais inviabiliza os que mais precisam destes auxílios. Chegamos muitas vezes a nos questionar a quem realmente se destina estes “auxílios”?
Os impactos desta geada são significativos para a safra de 2022, tanto que existem produtores que já analisam o processo de reforma de suas lavouras e alguns até um possível pedido de intervenção por parte dos recursos do fundo com o objetivo de mitigar as perdas.
Vários municípios, entre 48% das áreas de café, foram afetados. Desses municípios, 300 cidades vão ser afetados diretamente além dos que somam que não foi realizado levantamento e não foram citados aqui, segundo a Conab. Nesse momento que vários produtores de café, logo pela manhã do dia 20 de julho, já publicaram vídeos e fotos de lavouras de café sendo atingida no cinturão no parque cafeeiro sul e sudoeste de Minas Gerais, Cerrado Mineiro, Paraná e Sul de Goiás.
Também houve relatos das regiões do Cerrado Mineiro que o produtor disse que perdeu quase toda sua lavoura de café, como Serra do Salitre, entre outras. Recebemos vídeos, mensagens via áudio, de vários produtores pedindo ajuda e nos preocupa muito com a safra de 2022/2023. Peço apoio nesse momento, porque sou cafeicultor também e não temos muita força nesse meio da política cafeeira.
Na data de 23 de julho de 2021, foi realizada uma reunião em Alfenas (MG), para sensibilidade de mostrar as autoridades competentes, à ministra da agricultura Tereza Cristina, o real impacto da geada na região.
Este texto, mais do que uma forma de solidarização, é um chamado a cadeia produtiva do café, um chamado ao nome e a história do café, não apenas do cafeicultor, mas de toda a cadeia produtiva do café.
Um chamado aos cafeicultores para que nos organizemos e que as negociações e relações com os órgãos credores, bancos, possam ser realizadas em blocos, coletivos, e não por um cafeicultor de forma isolada. Temos que valer da força de nosso suor! Unidos, como em outros momentos da história já o fizemos e fomos vitoriosos.
Um chamado aos outros atores da cadeia produtiva do café. Porque sem o cafeicultor não haverá grão para serem negociados, exportados, torrados, etc… Sem o cafeicultor, não haverá cadeia produtiva do café, ou seja, os senhores também não existiram.
O termômetro da região onde tem café gera renda e emprega diretamente e indiretamente. Apoie o cafeicultor e a palavra de ordem "União".
Um autor escreveu certo dia “assim como ouro é provado pelo fogo, homens fortes são provados pela miséria”, e eu, na minha humildade de cafeicultor, tomo a liberdade e a Fé que tenho em Deus, e afirmo que nós, cafeicultores, podemos ser provados pelo mercado, mas a natureza, na Graça de Deus e em nossa união, nos fará vitoriosos, mais uma vez!
Força, união e fé.
*Fernando Barbosa é cafeicultor no município de São Pedro da União (MG).