Por Comunicação Rehagro
Mancha de olho pardo ou Cercosporiose é uma doença causada pelo fungo Cercospora coffeicola BerK. & Cooke, fungo necrotrófico, que invade as células e as matam, nutrindo-se das mesmas. Essa doença pode atacar desde mudas no viveiro causando intensa desfolha, afetando o crescimento e desenvolvimento das plantas, ou mesmo lavouras adultas, que além da queda de folhas pode proporcionar queda de frutos. Por isso, a falta de um manejo adequado e sob condições favoráveis para o desenvolvimento dessa doença, pode resultar em grandes perdas na produção.
Ciclo
A disseminação do fungo é feita pelo vento, água ou insetos, que após atingir a planta e com condições favoráveis de molhamento foliar e temperatura, ocorre a germinação e penetração do tubo germinativo, que penetra através da cutícula ou por aberturas naturais. A temperatura ótima tanto para a germinação máxima quanto para o crescimento do fungo é de 24°C (QUESADA, 1950). Após a infecção o fungo produz conídios e o ciclo de se reinicia.
Condições favoráveis
As variáveis ambientais apresentam grande influência na relação patógeno hospedeiro, dentre elas, a exposição ao sol, molhamento foliar e temperatura. Pozza, em 2011 mostrou que a incidência de Cercosporiose é maior na face das plantas voltada para o lado norte, que apresenta maior exposição ao sol, devido a toxina cercosporina que é produzida e ativada pela presença de luz, e causa danos à membrana celular do hospedeiro. Dessa forma, a intensidade da Cercosporiose é maior em plantios a pleno sol.
Incidência em porcentagem da cercosporiose (Cercospora coffeicola) em frutos de café (Coffea arabica) localizados no terço mediano da planta, em cada face de exposição (norte e sul), em lavoura irrigada por pivô central. UFLA, Lavras, MG, 2011.
O molhamento foliar é um fator indispensável, pois influencia na germinação, infecção e esporulação dos fungos, dessa forma, sendo mais favoráveis condições com maior período de molhamento foliar, assim como a temperatura também colabora na incidência dessa doença. Silva em 2014 observou o progresso da Cercosporiose do cafeeiro, em diversas horas de molhamento foliar e verificou que o maior progresso da doença foi observado com temperatura de 25°C no tratamento de 72 horas de molhamento foliar.
Curva de progresso da incidência da cercosporiose do cafeeiro. UFLA, Lavras, MG, 2014.
Além dessas variáveis, o desequilíbrio nutricional também ajuda na Cercosporiose, da mesma forma, substratos de viveiros pobres em matéria orgânica podem acarretar em maior severidade da doença, assim como, plantios efetuados tardiamente, devido a relação água e absorção de nutrientes, também podem resultar em maior incidência dessa doença.
Garcia Junior em 2003 realizou um trabalho com diferentes níveis de cálcio e de potássio, concluiu que, a menor área abaixo da curva de progresso da incidência (AACPI) foi obtida com a dose 4 mmol/L de potássio (K), após essa dose, o acréscimo de potássio resulta em maior incidência de Cercospora, isso porque, maiores doses de K competem pelo mesmo sitio de absorção do cálcio, tornando as mudas debilitadas em cálcio.
Área abaixo da curva de progresso da incidência (AACPI) de Cercospora coffeicola em cafeeiro (Coffea arabica) em função de doses de potássio.
Com o aumento das doses de cálcio resultou em menor área abaixo da curva de progresso da incidência (AACPI), devido à presença desse cátion no tecido foliar com níveis ideais de potássio, inibir a ação de enzimas pectolíticas produzidas por muitos parasitas de etiologia fúngica, que possuem o objetivo de dissolver a lamela média da parede celular (Marschner, 1995), por isso, o cálcio tem grande importância na constituição da parede celular e na integridade dos tecidos.
Área abaixo da curva de progresso de incidência (AACPI) de Cercospora coffeicola em cafeeiro (Coffea arabica) em função das doses de cálcio em solução nutritiva.
Sintomas
A Cercospora pode atacar tanto folhas quanto frutos em desenvolvimento, nas folhas os sintomas característicos são manchas circulares de coloração castanho-clara a escura, com o centro branco-acinzentado, quase sempre envolvidas por um halo amarelado.
Sintoma de Cercosporiose nas folhas
Nos frutos, os sintomas são pequenas manchas necróticas e deprimidas, de cor marrom a negra, estendendo-se no sentido dos polos do fruto.
Sintoma de Cercosporiose nos frutos
Danos
A Cercosporiose pode causar queda de folhas, devido a ação do etileno, reduzindo assim o desenvolvimento da planta e podendo afetar a produtividade. Os frutos apresentam processo de maturação acelerada, dessa forma resultando em mal granados ou mesmo queda precoce dos frutos em vários estádios de crescimento, podendo resultar em fermentações indesejadas.
Além disso, a qualidade da bebida também pode ser afetada, uma vez que com o aumento de frutos infectados pela Cercospora, há uma elevação da porcentagem de polifenóis, que exercem ação protetora antioxidante de aldeídos e participam nos mecanismos de defesa da planta mediante injurias (Amorim, 1978), destacando que a concentração de compostos fenólicos é inversamente proporcional a qualidade de bebida, por isso, sob condições adversas dos grãos a enzima polifenoloxidase age sobre os polifenóis diminuindo assim sua ação antioxidante e facilitando a oxidação com interferência no sabor e aroma do café após a torração.
Polifenóis, em função de diferentes proporções de frutos de café infectados por Cercospora coffeicola
Controle
Como medidas gerais de controle é importante evitar as deficiências e desequilíbrios nutricionais, visto que a nutrição tem grande influência na incidência dessa doença. Assim como fornecer matéria orgânica tanto na preparação de mudas no viveiro como no campo, com o intuito de melhores condições nutricionais. No plantio, além de evitar plantios tardios, é importante que seja feita uma boa preparação do solo, a fim de evitar a compactação do mesmo, para que não afete na absorção de nutrientes pelas raízes. Também pode-se optar pela utilização.
No controle químico é importante estar atento às condições ambientais favoráveis para tomada de decisão da melhor época de aplicação, sempre monitorando a lavoura e suas condições. Os grupos químicos utilizados são: Estrobilurina, Triazol, Benzimidazol, Isoftalonitrila e Ditiocarbamato, sempre destacando a importância de alternar os ingredientes ativos, principalmente com Hidróxido de cobre e Oxicloreto de Cobre que auxiliam no controle preventivo da cercosporiose.
Além da escolha do ingrediente ativo a se utilizar, deve-se estar atento a tecnologia de aplicação utilizada, envolvendo todos os fatores que podem afetar a eficiência da aplicação e consequentemente a prevenção contra essa doença, que pode trazer grandes prejuízos a produção.