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Cenário Macro pressiona a cotação do café

ESPAÇO ABERTO

EM 04/02/2020

4 MIN DE LEITURA

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Por Rodrigo Costa*

O mês de janeiro encerrou em tom negativo diante dos crescentes casos de contaminação pelo coronavírus, cujo total já passa dos 12 mil e gerou quase 300 mortes relacionadas a esta gripe.

Dado o contágio estar 98.5% dentro do território Chinês, os Estados Unidos, na sexta-feira, implementaram medidas impedindo estrangeiros vindos da China de entrar no país, enquanto os cidadãos americanos e residentes legais vindos de províncias com grande incidência da gripe serão colocados em quarentena.

As companhias aéreas americanas também anunciaram o cancelamento de voos indo e voltando da China – como já tinham feito algumas empresas europeias.

O período de férias para a comemoração do ano novo lunar Chinês foi prorrogado, desta forma, as escolas só retomarão as aulas no meio de fevereiro e várias empresas vão permanecer fechadas por mais tempo – inclusive cafeterias das duas maiores bandeiras, em algumas regiões.

As bolsas de ações caíram ao redor do mundo entre 1% e 2% na sexta-feira, finalizando o mês em queda após terem sido capazes de sustentar a performance positiva mesmo durante o risco de um possível conflito entre o Irã e os Estados Unidos.

A ameaça do impacto no crescimento das economias causou uma retração do apetite ao risco e, com isto, o Real brasileiro sofreu uma forte desvalorização – atingindo uma nova mínima histórica – e o índice de commodities CRB voltou para os patamares de setembro de 2019 – depois de fazer uma nova alta de mais de um ano.

Dentre os componentes da cesta, o café arábica, que tinha subido 50% no fim do ano passado, derreteu 21% nos últimos trinta dias, desempenho similar ao do suíno-magro e do óleo de aquecimento – na realidade apenas o cacau, o açúcar demerara e o ouro subiram no primeiro mês de 2020.

O contrato do robusta sofreu menos, da mesma maneira que também não apreciou tanto no período mencionado acima, entretanto, tem de se dar o desconto do Vietnã estar celebrando o ano novo nos últimos dias.

As perdas de Nova Iorque iniciaram no dia 31 de dezembro e foram ficando mais acentuadas e sequenciais desde então, parcialmente influenciadas por outras matérias-primas, como também por conta das boas chuvas no Brasil.

Uma das grandes “certezas” dos altistas durante o rally que levou o mercado de US$ 95.80 centavos para US$ 142.45 centavos em quarenta e três sessões era a utilização dos estoques no destino e, como os estoques certificados são naturalmente os “mais visíveis”, vinham sendo acompanhados de perto.

Contudo, não apenas a queda dos certificados foi estancada, mas os mesmos voltaram a subir e, ainda que o incremento não tenha ocorrido em volume significativo, a simples mudança de tendência, apesar dos diferenciais nas origens terem se mantido firmes, tirou um dos fortes argumentos dos mais otimistas.

Na sequência teve a apreciação do dólar americano, o rompimento de níveis de suporte atraindo a venda de fundos e o surto da nova gripe de Wuhan.

A pergunta é: vamos voltar a ver o contrato “C” fazendo novas mínimas?

Vai depender do quão rápido será contida a propagação do coronavírus e como consequência da continuação da depreciação das moedas das economias emergentes – ou em outras palavras, como ficará o cenário macroeconômico.

Fora isso, tudo o que é inerente à produção e ao consumo do café pende para um equilíbrio das cotações com um viés levemente mais positivo, haja vista o Brasil já ter comercializado ao redor de 85% da safra corrente e mais de 30% do que vai colher no ciclo de 2020/21.

Neste tocante, vale mencionar a pesquisa divulgada pela agência de notícias Reuters, apontando para uma produção brasileira de 66.9 milhões de sacas, o que gerará um superávit de apenas 2.5 milhões de sacas no mundo, segundo os entrevistados.

O volume de sobra é praticamente nada e levando em consideração um ciclo de produção menor em 21/22 (dada a bi anualidade na produção), juntamente com o crescimento de 2% anual da demanda global – o equivalente a 3.3 milhões de sacas –, o mercado vai ter de subir em algum momento para resolver os déficits futuros.

A manutenção dos diferenciais em níveis elevados, como em mais de 30 centavos por libra acima para Colômbia, 10 centavos acima para Honduras, 10 centavos abaixo para Brasil e 130 dólares por tonelada acima para Vietnã, são indicadores importantes vindo das origens dizendo que não concordam com o que está acontecendo com o terminal, e deixando pouca alternativa para os compradores.

Gostaríamos de externar nossa tristeza e solidariedade às pessoas atingidas pelas chuvas torrenciais e inundações em Minas Gerais e no Espírito Santo, informando estarmos também contribuindo com os grupos criados para ajudar as pessoas que estão se reerguendo.

Uma ótima semana e bons negócios a todos.

*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

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