Por Rodrigo Costa*
A última semana de maio, encurtada nos Estados Unidos pelo feriado que marca extraoficialmente o começo do verão no hemisfério norte, o Memorial Day, levou os investidores a liquidar parte de suas posições no mercado acionário, e o mês se encerra com quedas generalizadas dos principais índices americanos, assim como na Europa e na Ásia.
O índice do dólar, DXY, devolveu na sexta-feira os ganhos acumulados recentemente em função de uma renovação de apostas de cortes de juros pelo FED frente aos riscos de um arrefecimento global provocado pela guerra comercial com a China.
O CRB afundou para níveis do começo de janeiro último, empurrado pela contínua queda das commodities energéticas e dos metais industriais, sendo que dentre os ganhadores (em quatro dias) o café arábica da ICE liderou com 12% de alta, seguido pelo suco de laranja (+7.38%), os grãos (+5%) e o açúcar (+3.775). O robusta ficou um pouco atrás, apreciando 8% em quatro sessões e alargando a arbitragem para US$ 38 centavos por libra-peso.
A alta não poderia vir em melhor momento para todos os participantes, aos torradores por já estarem comprando os mercados futuros há algum tempo, aos comerciantes pela necessidade de cobrir suas vendas, e ao produtor por ajudar a vender café acima de R$ 400.00 novamente (longe do ideal, mas melhor do que vinha sendo praticado), no momento onde a necessidade de dinheiro é maior, a colheita.
Negócios em maiores volumes foram reportados nas praças de negociação brasileira, assim como fluiu mais café nas outras origens. Fixações de preços de vendas feitas em consignação atraíram quem vinha apostando em uma alta e sofrendo há bastante tempo.
Os diferenciais de reposição mais largos sabiamente parecem não estarem sendo transferidos para as ofertas internacionais, potencialmente podendo dar algum folego maior para as cotações.
Do lado fundamental, muitos brasileiros têm reportado rendimentos bem mais baixos do que o esperado e qualidade prejudicada pelas chuvas e pelas maturações desuniformes dos grãos.
Em um cenário onde o dólar americano desvalorizou bastante, o Real firmou mais do que as outras moedas emergentes, as commodities enquanto classe de ativo de investimento cedem, e os fundos tem sido forçados a recomprar suas apostas de baixa, fica difícil creditar à alta apenas a questão de qualidade e da renda.
Nota-se um desconforto geral com os preços, natural por estarem baixos como estão, mas por outro lado a percepção é de oferta suficiente para passar por este ano de déficit, e poucos se encorajam em ser mais agressivos ficando comprados de forma mais estendida, dado o carrego que onera em mais de 15% posições mais alongadas, quando então há um potencial de safra recorde.
Cabe a cada participante entender o contexto e analisar não apenas o resultado que melhor se aplicaria a suas posições, ou seja, não olhar o mercado de forma apaixonada, mas sim tentar interpretar as inúmeras variáveis que compõe as cotações.
A torcida é pela manutenção de ganhos e se possível uma sequência de outras altas – como grande parte dos participantes do Coffee Dinner, em São Paulo, não conseguiram deixar de expressar.
O início do inverno brasileiro e o comportamento dos operadores em estarem renovando suas apostas de baixa – estratégia que na sexta-feira deu bem errado e forçou as mesas proprietárias a saírem correndo para cobrir as vendas especulativas feitas no dia – vai trazer mais volatilidade, muito bem-vinda, por sinal.
A proximidade da média-móvel de 200 dias, US$ 107.20 centavos por libra para o contrato de julho, e o rompimento que já aconteceu da mesma para o gráfico contínuo da segunda-posição (US$ 103.90 centavos), dão esperança aos altistas, muito embora uma correção de indicadores técnicos sobre vendidos seja mais provável acontecer.
Um fechamento abaixo de US$ 99.50 centavos por libra devolve aos baixistas a direção do mercado.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting