Por Rodrigo Costa
O mercado de trabalho nos Estados Unidos tem 7,5 milhões de vagas disponíveis e 6,2 milhões de pessoas desempregadas, um desencaixe entre o perfil necessário de mão-de-obra e o oferecido (entre outras coisas). Mas, mesmo assim, o presidente Donald Trump diz que o país está lotado e não pode acomodar mais imigrantes.
Trump também pressiona o FED, pedindo para o órgão – diga-se de passagem, independente – para baixar os juros e injetar mais recursos, renovando o “afrouxo-quantitativo” – justificando a falta de pressão inflacionária dos salários.
Mais da metade dos investidores (57%) já apostam em um corte do custo do dólar. Isto, juntamente com uma sinalização da China em estar disposta a chegar a um acordo na guerra-comercial, empurrara as bolsas americanas para próximo das máximas históricas.
O apetite ao risco levou o CRB ao melhor nível do ano, e também desde novembro de 2018, liderado pelos ganhos do cacau, de energia e dos grãos.
O café pegou uma carona na alta das commodities depois do contrato de maio/2019 fazer nova mínima, mas não conseguiu se sustentar e encerrou abaixo da semana anterior.
A recuperação técnica forçou a recompra parcial de posições recentes vendidas pelos especuladores e o movimento acima de US$ 95.00 centavos atraiu origens a vender o terminal.
Como o número de contratos em aberto caiu 9,189 lotes nos dois dias que o “C” trabalhou em alta, os fundos provavelmente devem ter diminuído suas posições compradas, dos 77,303 lotes da terça-feira para algo ao redor de 71 mil lotes – nada animador.
Por outro lado, os comerciais-comprados, em geral torradores, mostraram que ainda tem capacidade em estenderem mais suas fixações, aparecendo no COT com um novo recorde de 164,948 lotes, ou 46,76 milhões de sacas – menos da metade da produção mundial de arábica de 104 milhões, estimada pela OIC no ciclo 18/19.
O fluxo de negócios melhorou bem com o rally de quarta-feira, que na máxima do dia subia US$ 4.20 centavos, e teve uma sequência na quinta-feira, quando as cotações bateram 96.95 centavos por libra. Os países de origem viram mais volume saindo das mãos dos produtores e os compradores internacionais apareceram para preencher necessidades de seus livros de curto e médio prazo.
No Brasil já aparece café novíssimo em terreiros, prematuramente e isoladamente em algumas regiões de arábica e em Rondônia de conilon apenas ligeiramente adiantado.
A agência Safras & Mercados soltou sua estimativa para a colheita de 19/20 em 58.9 milhões de sacas, divididas entre 40.7 milhões de arábica e 18.2 milhões de sacas de conilon. A italiana Illycafé também divulgou seu número, 55 milhões, sendo 38 de arábica e 17 de conilon.
De acordo com uma tabela compilada pelo corretor Nacoffee as estimativas de diversos agentes apontam para uma produção total dentro de um intervalo entre 52.5 e 60.8 milhões de sacas, com o arábica variando entre 35 e 41.4 milhões e o conilon entre 15.2 e 20 milhões de sacas – ou seja, entre a mínima e a máxima a diferença é maior do que tudo o que Honduras produz.
A agência Reuters mencionou em um artigo a intenção do Brasil em lançar um novo plano de opções nos moldes do que foi feito em 2013, citando a possibilidade de eventualmente só ocorrer em 2020/2021, quando a safra será maior do que a atual. A notícia salienta a dificuldade que pode ser encontrada com a equipe econômica do governo, contrária à subsídios e com um orçamento apertado.
O dólar americano apreciando não ajuda o Real, o qual obviamente está bastante suscetível às incertezas constantes do atual governo. O fechamento da semana do café também foi tecnicamente negativo e como há vencimento de opções no dia 12 de abril o nível de 90 centavos pode ficar vulnerável a um novo ataque de venda dos fundos de sistema.
A dificuldade infelizmente continua.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
***Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting