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A procura de um bom pretexto

ESPAÇO ABERTO

EM 29/03/2021

4 MIN DE LEITURA

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Por Marcelo Fraga Moreira*

Apesar do mercado ter trabalhado no setembro/2021 com uma amplitude de 525 pontos (mínima/máxima @ 129,25/134,50 centavos de dólar por libra peso) o contrato terminou praticamente igual ao fechamento da sexta-feira anterior (19/03) a 132,45 x 132,95 centavos de dólar por libra peso.

Mesmo assim a semana foi agitada. O mercado chegou a assustar os produtores (tentando romper e fechar abaixo do importante suporte da média móvel dos 72 dias a 130,10) e, do outro lado, chegou a alegrar os produtores (quando se recuperava tentando romper e fechar acima das importantes resistências das médias móveis dos 50/17/9 dias respectivamente 133,20/133,80/134,70 centavos de dólar por libra-peso). 

O Real continuou pressionado e fechou a semana em 5.7570 R$/US$ (desvalorizando -4,73%). A Argentina declarou novamente que não tem como honrar seus acordos com o FMI; os juros americanos de longo prazo continuaram negociando entre 1,60%-1,75%. Na quinta-feira (25/03), o Senado brasileiro aprovou o novo orçamento 2021 incluindo “novos ajustes” na ordem dos 26 bilhões de reais. Mais uma vez o risco do aumento do déficit fiscal e a insegurança jurídica brasileira assustaram o mercado. E, na sexta-feira (26/03) não teve jeito. O Real desvalorizou -1,88% apenas nesse dia.

A desvalorização do Real, no curto prazo, contribuiu para dar sustentação aos negócios no físico para entrega imediata com os preços voltando a negociar entre 680-800 R$/saca (a qualidade “cereja descascado” chegou a negociar a 820 R$/saca). Por outro lado, a inflação continua fora de controle com os insumos agrícolas, fertilizantes, combustíveis subindo como que se não houvesse amanhã. Para a venda com entrega futura para setembro/2022 algumas cooperativas/tradings chegaram a oferecer preços acima dos 850 R$/saca. Mas os produtores seguem reticentes para realizar novas vendas para a próxima safra 2021/2022 e 2022/2023.

A colheita da safra 2021/2022 começa oficialmente na próxima segunda-feira (05/04). Muitos produtores/grupos de whatsapp continuam “batendo o pé” que a safra quebrou e que o mercado ainda vai se surpreender com os resultados. Os números estimados para a safra continuam entre 43-57 milhões de sacas. Até agora a pior estimativa é o da Conab e o melhor do Rabobank. Façam suas apostas.

Para contribuir com o cenário altista de curto prazo tivemos 3 notícias “positivas” no início da semana: avanço da vacinação nos Estados Unidos e Europa; novo lockdown na França e Alemanha (na Alemanha foi cancelado no dia seguinte pois o governo alegou não ter tido tempo hábil para a implementação das regras); e finalmente a interrupção do fluxo de mercadorias com o fechamento do Canal de Suez na quarta-feira (24/03). As 2 primeiras notícias animaram o mercado pois gerou a expectativa com o aumento da demanda pelo café em função da reabertura dos restaurantes/cafés, circulação da população.

Os produtores brasileiros seguem procurando novos pretextos para o mercado seguir subindo. Motivos? Vários: As 2 últimas semanas foram muito secas, sem chuvas nas principais regiões produtoras; houve esqueletamento em várias fazendas e o reflexo será sentido na próxima safra; alguns poucos produtores decidiram trocar café pelo plantio de soja/milho; o consumo mundial deverá retomar no segundo semestre. E, como falamos na semana passada, a colheita da safra 2021/2022 mal começou e já tem “terrorista” prevendo que a próxima safra 2022/2023 será ainda menor e que a demanda continuará crescendo (mesmo com toda essa crise mundial com a pandemia. Será?).

O sonho para muitos produtores continua sendo o café negociar acima dos 1.500 R$/saca. Será possível? No curto prazo acreditamos que não. Salvo se houver geadas entre os próximos meses, entre maio e agosto, e uma nova estiagem entre setembro e dezembro. Nesse pior cenário muitos produtores vão quebrar, pois muitos já se comprometeram com vendas para entrega futura para a próxima safra. A “alegria” de alguns será o desastre para muitos! Caso não houver geadas e na próxima primavera voltar a chover, acreditamos que a próxima safra 2022/2023 irá se recuperar e a produção será novamente acima das 70 milhões de sacas e os preços entre 90-110 centavos de dólar por libra-peso. Como já vimos, nos mercados agrícolas, de commodities, tudo é possível! Ano passado já vimos o petróleo negociar a -40 usd/barril. A “lei da oferta e demanda” segue valendo e se ajustando diariamente!

Seguimos recomendando a compra de proteção para a safra 2021/2022 com a compra de “Call” ou “Call-Spread” contra o setembro/2021. Como já tem muito produtor vendido (novamente, se vier uma geada forte nos próximos meses), o mercado poderá explodir no curto prazo. Invistam 20-40 R$/saca para poder dormir tranquilo e atravessar o próximo período de inverno que se aproxima rapidamente sem stress.

Como sempre, sejam prudentes. Cuidado com os acumuladores, as estruturas que “aparecem/desaparecem/dobram”. Não coloquem riscos desnecessários nos seus livros.

Uma ótima semana a todos!

*Marcelo Fraga Moreira escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.

_____

** “Call” = opção de Compra

** “Put” = opção de Venda

** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);

** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);

** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);

** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);

** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;

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