Por Marcelo Fraga Moreira*
Nos últimos 45 dias (desde nosso último relatório em 18 de dezembro de 2020) o mercado de café trabalhou com uma amplitude de 1.200 pontos (entre 120,00-131,75 centavos de dólar por libra-peso para março/2021 e entre 125-137,25 centavos de dólar por libra-peso no setembro/2021) fechando a primeira semana de fevereiro respectivamente por 123,90 centavos de dólar por libra-peso e 129,95 centavos de dólar por libra-peso. Já o real desvalorizou -4,89% no mesmo período, negociando entre 5,11 – 5,5280 R$/US$, fechando a primeira semana de fevereiro a 5,37 R$/US$.
Nosso foco será a análise de setembro/2021 e setembro/2022 uma vez que o Brasil praticamente já fixou sua safra 2020/2021 e as novas vendas/hedge estão concentradas nos meses acima para as próximas safras. Caso o Brasil venha a sofrer algum risco de geadas nos períodos junho-agosto 2021 e/ou 2022, as cotações deverão refletir com maior intensidade a qualquer evento climático.
Se “você” estiver na posição “comprada” e/ou “ainda com produto para vender/fixar” referente a algum saldo da safra 2020/2021 ou 2021/2022 em diante, o mercado já deu oportunidades para “você” fixar suas vendas acima dos 700 r$/saca quando o setembro/2021 chegou a negociar a 131,75 centavos de dólar por libra-peso e próximo dos 900 r$/saca quando o setembro/2022 chegou a negociar a 142,90 centavos de dólar por libra-peso (as máximas dos contratos negociadas no dia 15 de Janeiro de 2021) e aproveitando a curva do Real que chegou a atingir 5.5280 R$/US$ no spot e acima dos 5.60 R$/US$ nos meses diferidos. Rompendo essas máximas os sinais gráficos indicavam que as cotações poderiam seguir subindo e atingir/ultrapassar os 150 centavos de dólar por libra-peso. Ou seja, otimismo puro com alguns produtores já apostando em vender café acima dos 1.000 R$/saca.
De lá para cá, novamente os “comprados/long” voltaram a se preocupar pois o mercado “devolveu” tudo e voltou a testar as mínimas no março/2021 e setembro/2021 tentando romper os 120 centavos de dólar por libra-peso e os 125 centavos de dólar por libra-peso respectivamente (e claro, os “vendidos” estavam com sentimentos contrários, ou seja, “preocupados com as altas e felizes com a realização do mercado”).
Neste mesmo período os fundos continuaram comprando e aumentando a posição comprada em +12%, saindo de 26.141 lotes para 29.442 lotes.
Quais os fatores / notícias para tanta volatilidade nesse mercado nos últimos 45 dias?
Nas primeiras semanas de janeiro/2021 a preocupação continuou sendo as notícias que não paravam de chegar no mercado referente aos efeitos da seca nas principais zonas produtoras brasileiras e, as estimativas da quebra para a próxima safra 2021/2022 indicando uma produção abaixo dos 52 milhões de sacas (uma quebra entre 30-40%). Também tivemos notícias onde alguns produtores estão tentando recomprar suas posições junto as tradings (pois se comprometeram com vendas e entregas futuras antes do período da seca, e agora estão preocupados se realmente vão conseguir performar seus contratos). “Rumores” que alguns produtores já estão considerando não honrar seus contratos futuros pois venderam parte de suas produções abaixo dos 600 R$/saca equivalente quando o mercado já está negociando acima dos 680/700 R$/saca e vão alegar junto aos meios jurídicos evento de “força maior” (o “fantasma” do default já assombrando o mercado)! Junto a essas notícias também vêm sendo confirmada a quebra da safra de Honduras e do Vietnam em aproximadamente -18%.
Após tantas “notícias” ruins, a Organização Mundial do Café (OIC) soltou um relatório projetando um estoque de passagem referente a safra mundial 20/21 acima das 5 milhões de sacas (e alguns analistas acreditando em um excedente ao redor de 8 milhões de sacas). Essas últimas notícias deram uma “ducha de água fria” no mercado fazendo ele voltar a realizar.
Porém, nesta primeira semana de fevereiro/2021, voltamos a ter novos números atualizados da StoneX, confirmado a quebra da safra brasileira ao redor de -30% e uma produção ao redor de 51 milhões de sacas. A Companhia Nacional de Abastecimento, Conab, parte de uma safra 2020/2021 de 63 milhões de sacas (68-70 milhões de sacas das empresas independentes e o consenso do mercado). Com base nos seus números e com a quebra também estimada ao redor de -30%, então a próxima safra brasileira 2021/2022 deverá ficar abaixo das 45 milhões de sacas.
Com o principal produtor mundial reduzindo sua produção em 20-25 milhões de sacas, os números da OIC referente “estoque de passagem acima dos 5 milhões de sacas não vai fazer “cócegas” no mercado! E com base nesse cenário, seguimos cautelosos e extremamente altistas no médio/longo prazo.
Para os próximos meses, 2-3 anos, qual será o tamanho da próxima safra brasileira 2021/2022 e 2022/2023? Qual será a produção mundial para os próximos anos? Vietnã? América Central? E o estoque de passagem? Os números da OIC estão corretos? E o consumo mundial? Com o início da vacinação em praticamente todos os países as economias vão voltar a crescer em qual ritmo? O poder aquisitivo das famílias e o consumo vão voltar a crescer? Quanto? E, principalmente, quantos produtores atuais de café vão abandonar suas lavouras (literalmente passando o trator por cima dos pés de café) e substituir suas culturas por outras mais rentáveis, tais como soja, milho? E a inflação brasileira (os produtores brasileiros tiveram aumentos nos seus custos acima da inflação como diesel, insumos agrícolas, fertilizantes, frete, etc)? Os números dos custos de produção para a saca de café estão fechando no azul?
Então, essas são algumas das “perguntas de 1 milhão de dólares”!
Seguimos sugerindo cautela para os produtores brasileiros. Para os produtores, e até mesmo cooperativas, que já venderam mais do que podiam, procurem recomprar, renegociar as entregas com suas cooperativas/tradings e/ou recomprem suas posições via mercado futuro na BMF (mesmo com baixa liquidez) e/ou através da compra das “Call-Spreads” via bolsa de Nova Iorque para mitigar/reduzir seus prejuízos.
Para os produtores que ainda tem produto para vender nossa sugestão segue sendo para aguardar chegar o período do inverno brasileiro pois qualquer risco/chance de geadas poderá gerar pânico e as cotações poderão disparar. Por exemplo, o contrato do açúcar refinado em Londres com vencimento em março/2021 subiu 100 dólares por tonelada em 60 dias. Tomem cuidado.
Como sempre, cuidado com as “operações estruturadas” (os famosos acumuladores que podem dobrar, aparecer se o mercado negociar a X nível). Não coloquem riscos desnecessários nos livros! Façam suas contas, levantamento das suas lavouras, projeção de “eventuais quebras”, e aproveitem as oportunidades.
O tempo passa rápido. O comentário semanal sobre o mercado de café que chega a vocês todo o final de semana está entrando agora no seu décimo-segundo ano. Buscamos continuamente traduzir de maneira simples o complicado dialeto do trading de modo que cada vez mais pessoas entendam o funcionamento do mercado. Desmistificar o uso dos instrumentos financeiros disponíveis aos participantes do mercado de café tem sido permanentemente o nosso foco nas linhas que aqui escrevemos, e não é diferente nos quase 40 cursos de derivativos que ministramos ao longo desses anos atingindo mais de 2.000 profissionais ligados às diversas commodities agrícolas, minerais e metálicas. É uma grande honra para a Archer Consulting poder disseminar conhecimentos e contribuir, ainda que de maneira modesta, ao engrandecimento do nosso agronegócio.
Uma ótima semana a todos!
*Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.
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** “Call” = opção de Compra;
** “Put” = opção de Venda;
** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);
** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício mais alto e vendendo a Opção com preço de exercício mais baixo);
** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo).
As informações são da Archer Consulting – Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.