Por Pedro Ronca
A governança em dois níveis da Plataforma Global do Café Brasil foi estabelecida há 10 anos. O Conselho Consultivo Nacional (CCN) é composto pelos diretores executivos das principais associações de café do país – CNC e CNA (produtores), Cecafé (exportadores), ABIC (torrefadores) e ABICS (indústrias de solúvel) e diretores da exportadora ofi e torrefadores JDE Peets e Nestlé. O Grupo de Trabalho Brasil (GTB) reúne representantes técnicos de cooperativas, dos serviços de extensão federal e estaduais, sistemas de certificação, times de sustentabilidade de traders/exportadores e da indústria, entre outros.
O CCN, que opera no nível político e de liderança nacional, tem funções estratégicas e valida (ou não) as recomendações do GTB. Este último, que atua com base em sua experiência de campo, e sob a ótica dos produtores de café, projeta e propõe atividades para superar os desafios de sustentabilidade, cria pertencimento para as ações da Plataforma no país.
Essa estrutura inovadora de dois níveis do CCN-GTB desempenhou um papel importante para tornar a Plataforma Brasil e suas iniciativas uma das operações mais bem-sucedidas da Plataforma Global do Café no mundo. A governança é reconhecida por criar espaço para que as partes interessadas do agronegócio café discutam desafios comuns, compartilhem responsabilidades e criem soluções coletivas para questões complexas de sustentabilidade.
As Iniciativas de Ação Coletiva (CAIs) da Plataforma – Uso Responsável de Agroquímicos e Bem-Estar Social –, financiadas por empresas de café, indústrias de agroquímicos, traders/exportadores e varejistas, têm serviços de extensão, cooperativas e exportadores como parceiros implementadores, que garantem que as práticas e resultados das Iniciativas, sejam incorporados às atividades cotidianas dos produtores para garantir impacto perene.
A iniciativa Uso Responsável de Agroquímicos aborda o uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), o armazenamento adequado de defensivos, treinamentos em tecnologia de pulverização e o descarte adequado de embalagens vazias de agroquímicos. Os principais objetivos da iniciativa de Bem-Estar Social são melhorar as condições de vida e de trabalho dos cafeicultores e trabalhadores, conscientizar e promover educação sobre trabalho decente. Inclui também um estudo de renda de bem-estar (“living income”) nas regiões cafeeiras do Brasil, apresentado durante a Semana Internacional do Café (SIC), em Belo Horizonte, em novembro de 2022, e cujo relatório será divulgado em breve. Essas duas CAIs, que já captaram quase US$ 3 milhões e incluem 28 parceiros financiadores e implementadores, cobrem juntas as principais regiões produtoras de café do Brasil.
A Plataforma também tem atuado na implementação do Currículo de Sustentabilidade do Café (CSC), que desenvolveu em um processo coletivo “de baixo” para cima que envolveu atores relevantes de toda a cadeia produtiva do café. O CSC e seu aplicativo são usados para identificar lacunas de sustentabilidade, como as abordadas pelas iniciativas mencionadas acima. O CSC está agora ganhando importância adicional com o lançamento do Código de Referência de Sustentabilidade do Café (CSRC) e seu Mecanismo de Equivalência 2.0. A equivalência do Currículo com o Código (CSRC) abrirá oportunidades interessantes para a certificação de cafés sustentáveis por cooperativas e traders brasileiros.
Declarações e depoimentos de membros do Conselho Consultivo Nacional da Plataforma mencionam o alto nível de alinhamento desenvolvido pela governança ao longo dos anos e como ela tem apoiado as conquistas da Plataforma no Brasil. Uma reunião conjunta do CCN e do GTB foi realizada para comemorar o 10º aniversário da governança durante a SIC em BH. A Plataforma conseguiu desenvolver confiança e parcerias para destravar investimentos, criar sinergias entre os diferentes níveis da cadeia cafeeira e conectar empresas para atuar no cenário pré-competitivo. É notável ver como a maturidade da governança tem crescido continuamente durante os últimos 10 anos.
As conquistas deste 10º aniversário também demonstram que a Plataforma Global do Café Brasil pode ser considerada em vários aspectos como uma fonte de aprendizado para outras plataformas. Por exemplo, ela mostra a importância de um bom ambiente facilitador além da porteira (da fazenda), que a rentabilidade dos produtores é o primeiro passo para alcançar a sustentabilidade, que desafios sociais e ambientais permanecem devido a aspectos culturais, e que treinamentos periódicos e capacitações são necessários para melhorar a produção e a conscientização sobre temas importantes, de maneira contínua.