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Oportunidades e desafios da digitalização da agricultura

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 01/11/2017

4 MIN DE LEITURA

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Via de regra, prever o futuro é um exercício inglório. Na agricultura, porém, o futuro parece chegar a algumas regiões mais rapidamente do que a outras. Ao menos é o que o avanço da chamada “agricultura digital” nos sugere. Transformar as conquistas dos líderes do setor em opções à disposição de um número crescente de agricultores representa um importante desafio para as próximas décadas do século XXI. Em outras palavras, precisamos discutir como tornar o futuro parecido para todos os que dele queiram participar.

Foto: Alexia Santi/Agência Ophelia
                                   Foto: Alexia Santi/Agência Ophelia

De fato, os avanços proporcionados pela “agricultura digital” nos antecipam um cenário marcado por novos ganhos de produtividade. Tal progresso possivelmente sustentará o processo de urbanização observado em diversas porções do mundo em desenvolvimento. Seremos capazes de produzir mais alimentos com menos insumos; resta saber se poderemos implementar as políticas necessárias a fim de garantir que os ganhos potenciais dessa nova revolução não signifiquem transformações drásticas na estrutura social das sociedades com grandes contingentes de população rural. Urbanização sem planejamento é um verdadeiro atalho para a maturação de complexos problemas – vide os dilemas de nossas cidades.

Fundamentalmente, a “agricultura digital” nos oferece acesso a um enorme acervo de dados outrora indisponível a agricultores, empresas e pesquisadores. Durante milhares de anos, coube aos humanos observar os padrões da natureza e adotar soluções heurísticas para desafios imediatos. Há cerca de três séculos, o aperfeiçoamento de nossa capacidade de resolver problemas complexos resultaria em um primeiro salto qualitativo. Ao validar uma estrutura para a produção e compartilhamento de conhecimento, a consolidação do método científico representaria um passo fundamental para a aceleração das transformações na agricultura. Obviamente, a ciência necessita de riqueza de detalhes para oferecer respostas precisas. Daí a profundidade do avanço que a consolidação da “agricultura digital” materializa. Na prática, estamos diante de um novo salto qualitativo.

Dados precisos facilitam a tomada de decisão, abrindo espaço para um manejo mais eficiente das lavouras. De quebra, ameaçam abalar padrões que há muito resistiam na agricultura. Mais especificamente, a “agricultura digital” permite a consolidação de novos modelos organizacionais na gestão de propriedades rurais. Uma explicação comum para a predominância da estrutura de propriedade familiar na agricultura é a existência de altos custos para mensurar a contribuição de um indivíduo para a produção agrícola. De fato, a incerteza é considerável no setor: o resultado de um investimento é afetado não apenas por “caprichos” do clima ou a ocorrência de pragas, como pela complexidade inerente ao meio natural.

Como saber se uma má colheita deriva da falta de cuidado de um trabalhador ou de fatores externos? Na dúvida, melhor depender de alguém da família. O avanço tecnológico têm mitigado tais desafios, abrindo espaço para a proliferação de novas estruturas de propriedade no campo. Por exemplo, o maior controle tem favorecido o estabelecimento das chamadas “fazendas corporativas” – baseadas na contratação de mão-de-obra e na distância física entre a gestão estratégica do negócio e a rotina rural.

Todos tirarão proveito dessa revolução? É improvável. No Brasil, milhões de produtores familiares ainda estão longe de atingir marcos muito anteriores aos estabelecidos pela “agricultura digital”. Não raramente, tais dificuldade resultam no abandono da atividade. Parte da expansão da produtividade da agricultura brasileira se deve à incorporação de terras marginais às correntes mais dinâmicas do chamado “agronegócio”. Nesse processo, a qualidade dos recursos humanos e a qualidade das relações de tais empreendedores com fontes de capital e conhecimento são elementos fundamentais. Desnecessário sublinhar, mas produtores que sofrem para sobreviver no mercado de 2017 talvez encontrem dificuldades ainda maiores para seguir na atividade nas próximas décadas. Em alguns casos, lidarão com a tentação de um “alívio” de curto prazo representado pela venda das terras para empreendedores com maior capacidade de implementar as últimas novidades da fronteira tecnológica.

E aqui chegamos a um dilema fundamental. Nos anos 1970, o governo do Brasil tomou decisões estratégicas que resultaram na construção de milhares de quilômetros de estradas, instalação de inúmeros postes de luz e avanços tecnológicos que viabilizaram o dinamismo agrícola que hoje caracterizam o Cerrado. Sobrou empreendedorismo individual, mas também sobraram parcerias entre uma complexa rede de instituições públicas e privadas. Nunca é demais lembrar, milhares dos vencedores de hoje são pioneiros que chegaram à fronteira agrícola com muitos sonhos e poucos recursos. Diante das transformações atuais observadas na agricultura, faz sentido pensarmos em ações públicas que busquem criar as condições para a adoção dessas inovações? Ou bastaria deixarmos a “mão invisível” trabalhar e o mercado se encarregará de tais transformações?

A resposta provavelmente está em uma solução híbrida. A lei de oferta e demanda é poderosa – não por acaso, produzimos commodities vendidas no mercado internacional em porções do território brasileiro onde a infraestrutura e o controle do Estado mal chegam. Porém, a natureza do engajamento e as alianças estratégicas entre instituições públicas e privadas ajudará a determinar os vencedores e perdedores desse processo. A revolução proporcionada pela “agricultura digital” fatalmente tomará conta do Brasil rural; o que não está claro é quem participará da festa. As próximas fronteiras a serem cruzadas pela agricultura brasileira deixarão de ser territoriais. Por isso, precisamos discutir as importantes brechas existentes no acesso à tecnologia e aos meios que permitem a adoção de tais inovações.

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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