ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

O novo envelhecido

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 28/03/2019

3 MIN DE LEITURA

1
0

O debate em curso sobre os vícios e virtudes da “velha” e da “nova” política vai além das formas. Para entender a natureza do caos institucional em Brasília, convém prestar atenção no conteúdo. Ou, para ser mais preciso, naquilo que o presidente Jair Bolsonaro revela em suas aparições. Um bom exemplo é a controvérsia sobre a importação das bananas do Equador. Seria o produto relevante para a balança comercial do país? Não. Trata-se de uma prioridade em um momento de discussão de reformas como a da Previdência? Não. Ainda assim, o protagonismo das bananas equatorianas é notável nas transmissões ao vivo de Bolsonaro.

Muito se especulou sobre os motivos de tal interesse pelas bananas: reflexo da infância vivida em uma região produtora, familiares envolvidos no negócio... Independentemente da motivação, a insistência de Bolsonaro ajuda a demonstrar o quanto as estruturas não convencionais de transmissão da informação têm influenciado os primeiros meses do seu governo. Algumas são tradicionais, como os laços de família ou relações com amigos – variáveis que fatalmente influenciarão, em maior ou menor medida, qualquer governante. Outras, porém, são emergentes, e ajudam a trazer a tempestade para o centro da administração.

Bolsonaro oferece uma espécie de “contato direto” com o seu eleitorado que acaba condicionando os rumos da administração. Afinal, os mecanismos escolhidos para essa interação tão típica dos defensores da “nova política” – as redes sociais – têm funcionado como uma caixa amplificadora de polêmicas estéreis e impaciência. No fim das contas, tem a sua demanda escutada quem é capaz de entrar no emanharado de mensagens curtas sob o radar do limitado núcleo de poder ao redor do presidente. Pior, esse emaranhado costuma confirmar preconceitos e visões de mundo distorcidas.

O resultado é duplamente negativo. Por um lado, nota-se uma espécie de distopia que leva o presidente a exagerar a importância de um discurso “duro” em relação aos outros poderes. Bolsonaro acredita que a sua sobrevivência política dependerá do humor de seus eleitores mais fiéis. Para tanto, parece buscar evidências no funcionamento frenético das redes sociais – ambientes em que as promessas de apoio incondicional costumam ter pouco fôlego e os arroubos de intransigência um valor simbólico. O resultado é a paralisia administrativa e o desmoronamento precoce da sua frágil base de apoio no “mundo real”.

Por outro lado, os avanços rápidos que propõe – também à moda das redes sociais e suas soluções “fáceis” – parecem inspirados em conversas com um grupo limitado e com demandas relativamente desorganizadas. Como era de se esperar, o espectro dos temas abarcados é amplo: ontem foi a embaixada brasileira em Israel, hoje as bananas equatorianas, e quem sabe o que será amanhã. No governo Bolsonaro, mesmo a ação sugere uma autoridade deteriorada antes da sua consolidação.   

Essa lógica de exercer o poder é problemática porque carrega uma dose de imprevisibilidade suficiente para impedir a formação de qualquer coalizão viável de sustentação. Ao tentar agradar os impulsos daqueles que defendem uma ruptura incondicional com o status quo – os ansiosos das redes sociais e os amantes das teorias da conspiração no círculo mais próximo ao poder –, Bolsonaro corre o risco de emendar uma sequência incoerente de decisões. O resultado é a solidão. Chega a surpreender a rapidez com que as relações entre o Executivo e os militares azedaram. Ou ainda, a incapacidade da liderança do partido do presidente de estabelecer um diálogo até mesmo com aliados táticos em todo o processo de enfraquecimento do governo Dilma.   

Obviamente, existe a hipótese que o objetivo de Bolsonaro seja justamente fomentar as tensões e, assim, forçar uma solução que implique a retirada de travas institucionais à sua autoridade. Não seria o primeiro na história da política. Apenas para citar um caso brasileiro, Jânio Quadros esticou a corda e deu no que deu. No caso da atual administração, a estratégia soa irrealista por um simples motivo: não existe, hoje, uma agenda minimamente coerente que motive qualquer grupo social a pagar o preço da sua manutenção. De fato, o principal foco do Executivo – a reforma da Previdência – é uma medida potencialmente impopular.  

Enquanto o circo pega fogo, até mesmo setores do governo que parecem funcionar em relativa ordem podem ser contaminados. A agricultura é um bom exemplo: de nada adianta a organização da porteira para dentro se, uma vez vencidos os limites do ministério, o caos impera. Na cadeira da presidência, a espontaneidade da “nova política” se torna um lastro para os setores mais eficientes da economia – e, portanto, dependentes da previsibilidade. Resta torcer para que a próxima obsessão a ocupar os pensamentos de Bolsonaro seja tão inócua quanto a “banana” das falas anteriores. Afinal, infelizmente a ação cambaleante pode ferir as possibilidades de uma recuperação econômica tanto quanto a paralisia atualmente sob os holofotes.  

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

1

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe CaféPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

GRAZIANA FILOMENO

EM 30/04/2019

Este chico escribe muy bien... es un gran periodista!

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do CaféPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

CaféPoint Logo MilkPoint Ventures