A pior notícia para o Brasil, porém, vem do interior de suas fronteiras. Após um ano de severa crise econômica e política, tudo indica que em 2016 teremos mais do mesmo. Historicamente, o costume tem sido o de culpar turbulências externas por nossos infortúnios: México, Coreia do Sul, Estados Unidos... A situação atual guarda uma novidade. Conforme sugerido recentemente pelos burocratas do Fundo Monetário Internacional (FMI), somos um dos epicentros do pandemônio. Pior, deveremos ocupar a mesma posição por algum tempo antes da chegada de tempos melhores. Acreditem, eles chegarão, não pela competência de nossos governantes, mas porque momentos de depressão oferecem inúmeras oportunidades de negócio para os "mais fortes", mesmo que isso signifique maior desigualdade no longo prazo. Apenas para citar um exemplo específico, a queda dos preços das ações na Bolsa de São Paulo não durará para sempre. Feliz de quem tiver recursos para, chegado o momento, aproveitar a retomada.
À maioria da população brasileira, restará esperar a dissipação das nuvens para juntar os cacos e seguir em frente no país que emergirá ao fim da crise em curso. O ano de 2016 será decisivo para moldar esse futuro, seja na esfera política, seja na econômica. Haverá mudanças drásticas na correlação de forças atuantes em Brasília? Serão capazes as grandes empresas alvejadas por denúncias de corrupção capazes de suportar um cenário semelhante por muito mais tempo? De que forma serão afetadas as complexas cadeias de suprimento acopladas a cada um dos nós sob suspeita? Ao final da turbulência, seremos um país ainda mais desigual? Quantos milhares de cérebros perderemos para outras sociedades? Infelizmente, a maioria das perguntas inspiradas pelo atual cenário extravasa o pessimismo reinante no Brasil atual.
Pior que o pessimismo, apenas a confusão prevalecente. Afinal, poucas coisas têm sido mais maltratadas no Brasil de hoje do que a palavra "credibilidade". Às vezes ridicularizada pelo discurso labiríntico, Dilma Rousseff peca tanto pela imprecisão quanto pela oscilação. Tamanha dificuldade em determinar um rumo talvez explique o generalizado pessimismo. Nesse início de 2016, inexiste um grupo confiante na capacidade de o governo levar adiante uma agenda que promova seus interesses. Da extrema esquerda ao conservadorismo de sempre, todos andam temendo o pior. E, quem sabe, com razão! Na tentativa de evitar o impeachment e acalmar os "mercados" ao mesmo tempo, a presidente tem alimentado uma volatilidade considerável em ambas as frentes. De fato, por momentos os movimentos em Brasília parecem mais imprevisíveis do que os típicos gráficos gerados pelo mercado financeiro.
O irônico de toda essa história é que desde 2010 sabíamos que a história poderia acabar mal. Outrora elogiada como uma gerente competente, Dilma Rousseff falha justamente por ocupar uma posição em que, mais do que a habilidade de administrar, o que leva ao êxito é a capacidade de liderar. Para os afazeres diários, funcionários de carreira com uma formação adequada bastam. No entanto, para a criação de um relato minimamente coerente faz-se necessário um "algo mais", apenas possuído pelos grandes estadistas. A complexidade de qualquer país impossibilita o êxito de qualquer presidente que se venda como "gerente", pelo simples fato de que nem o melhor deles seria capaz de processar tamanho volume de informação. Pior, paralisa o Estado e proporciona a proliferação de falhas de governo.
Ao longo de 2016, teremos a oportunidade de observar os próximos passos dessa complexa história. Embora sinalize uma "retomada", a presidente Dilma Rousseff terá que oferecer uma nova versão de si caso queira contribuir para a superação da atual crise. Caso sua intenção seja aprofundar a abordagem da "gerente", seguirá enxugando gelo em meio ao dilúvio. É bem verdade, existe a possibilidade de que esse tal relato minimamente coerente inexista no Palácio do Planalto. As evidências colhidas em 2015 reforçam tal hipótese. Nesse caso, dependeremos de boas notícias do exterior para ganhar algum oxigênio. Não precisamos voltar mais do que alguns parágrafos no tempo, porém, para vermos que o alívio dificilmente virá de fora. Em resumo, o ano que começa promete fortes emoções.