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Diga como produz e o mercado dirá quanto vale

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 30/11/2017

3 MIN DE LEITURA

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Termos como “pós-verdade” e “notícias falsas” têm povoado as manchetes e os muros das redes sociais há algum tempo. O interesse é proporcional à influência de informações distorcidas no desfecho de decisões sociais relevantes. Por exemplo, muito se fala sobre a influência da “pós-verdade” em eventos como o Brexit ou a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Da mesma maneira, é crescente a demanda por uma resposta à proliferação de tais conteúdos.

Foto: Bruno Lavorato/Café Editora
                                       Foto: Bruno Lavorato/Café Editora

Embora estejamos diante de um árido debate, alguns dos seus desdobramentos nos oferecem material farto para a reflexão. Desde a virada do século XXI, o pessimismo caracteriza as previsões sobre o futuro da chamada “imprensa tradicional”. Por que consumidores pagariam por informação quando podem acessar páginas na Internet com conteúdo integralmente gratuito? Ao que parece, a emergência das chamadas “notícias falsas” trouxe algum fôlego para a imprensa tradicional.

Vejamos o caso do New York Times. Dados disponibilizados recentemente mostram que, em 12 meses, o número de assinantes do jornal aumentou 59,3%, atingindo a marca de 2,48 milhões de pessoas. Apenas no segundo trimestre de 2017, 154.000 pessoas passaram a pagar pela informação disponibilizada pelo diário estadunidense.  Entre os fatores que explicariam o renascimento do interesse por assinaturas de veículos pertences à imprensa tradicional, um chama a atenção: parcela crescente do público passou a refletir sobre a importância dos processos na produção de uma notícia.

Evidentemente, fazer algo bem feito custa caro. Logo, antes de consumir, faz-se necessário entender quem está pagando a conta. A decisão de gastar dinheiro para obter informação se justificaria não apenas pela busca por uma fonte confiável, mas também pelo apoio à produção de uma matéria-prima vital para o bom funcionamento da democracia.  Ainda assim, lutar contra tendências de longo prazo é uma tarefa inglória.

Para os próximos anos, o desafio será encontrar a proporção ideal entre o oferecimento de conteúdo gratuito e pago. Diversos modelos têm sido testados, refletindo as particularidades de cada uma das organizações dedicadas ao oferecimento de conteúdos. De qualquer maneira, o cenário atual nos permite pensar sobre a importância dos processos – e o quanto nossas decisões como consumidores ajudam a explicar a forma como o mundo funciona. Ao premiarmos a excelência, ou aquilo em que confiamos, expressamos nossas preferências em relação à organização da sociedade em que vivemos.

A tecnologia tem contribuído para a rápida redução dos custos em uma série de setores da economia. Em outros, tem causado rupturas. Entretanto, o avanço tecnológico não deveria ser visto como uma panaceia. Não raramente, o processo que leva à produção de um bem final exige a manutenção de práticas consolidadas.

A lição, válida para veículos de comunicação, também se aplica a outras áreas. Assim como com as “notícias falsas”, consumidores de todo o mundo estão começando a entender que a forma como um alimento é produzido pode afetar sua saúde ou o futuro de comunidades inteiras.

De fato, é crescente o número de pessoas dispostas a “pagar” por um processo de produção específico ao comprar alimentos. É provável que a preocupação com questões como a mudança climática e os fluxos de migrantes potencializem ainda mais tal predisposição. Nesse sentido, o Brasil precisa aperfeiçoar sua capacidade de explicar ao mundo aquilo que nos torna únicos quando o assunto é agricultura.

Da mesma maneira, necessitamos refletir: até que ponto adotamos processos dotados de um valor intrínseco? São tais processos capazes de conquistar a confiança de consumidores exigentes? Perceber a natureza das transformações em curso pode garantir uma dupla vitória. Alguns parágrafos atrás, afirmei que o avanço tecnológico não é uma panaceia. Quando bem utilizada, porém, a tecnologia nos permite atingir públicos cada vez mais amplos.

Colherão os frutos empreendedores capazes de entender a importância dos processos e de utilizar a tecnologia para consolidar sua reputação junto a consumidores dispostos a gastar um pouco a mais por uma causa. Com uma rica tradição de inovação organizacional, a agropecuária brasileira pode e deve vender mais do que commodities. Cada vez mais, devemos nos diferenciar por nossas práticas.

ARTIGO EXCLUSIVO | Este artigo é de uso exclusivo do CaféPoint, não sendo permitida sua cópia e/ou réplica sem prévia autorização do portal e do(s) autor(es) do artigo.

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 04/12/2017

Prezado Eustaquio,



Muito obrigado pelo comentário. O seu relato é muito interessante: há muito a ser discutido sobre a questão do acesso à tecnologia ao longo do enorme território brasileiro. Acredito que essa é uma das chaves para a construção de comunidades rurais resilientes em nosso país.



Atenciosamente,



Bruno Miranda
EUSTAQUIO AUGUSTO DOS SANTOS

TRÊS CORAÇÕES - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 01/12/2017

Parabéns pelo artigo. A abordagem foi muito feliz.

Sou cafeicultor na região da Serra Das Abelhas, Três Corações (MG) e por aqui temos acompanhado o desenvolvimento tecnológico e suas aplicações na cultura do café. Imagina que há três anos não tínhamos internet? E sinal de telefonia era muito escasso, só no alto da Serra? Pois foi através do convencimento de empresário de Varginha que bancamos uma antena e hoje posso estar, aqui na roça, escrevendo esta postagem. O CaféPoint é um site muito bom. Leio diariamente.

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