ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Apagões

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 01/07/2021

3 MIN DE LEITURA

0
0

O possível “apagão elétrico” no Brasil não é o único que deveria nos preocupar. Outros apagões menos óbvios podem trazer consequências potencialmente catastróficas à estabilidade das cadeias agroindustriais no país. Vejamos o exemplo do recente ataque hacker à operação da empresa JBS nos Estados Unidos. A ação dos criminosos nos serve de alerta: é muito provável que tal ameaça cresça ainda mais no futuro, podendo afetar a oferta de alimentos à população.  

A ameaça imposta pela ação dos hackers vem a se somar a outros desafios. Entre as muitas lições deixadas pela pandemia da COVID-19 está a constatação de que as cadeias globais de valor não estão preparadas para lidar com os chamados “cisnes negros” – eventos imprevisíveis e com baixa probabilidade de materialização, mas que podem afetar de forma dramática a existência humana. Entretanto, choques exógenos como pandemias e desastres naturais não representam a única ameaça aos sistemas modernos de produção. Um ataque hacker traria consequências catastróficas a setores inteiros da economia.  

A crescente digitalização das cadeias agroindustriais cria uma série de promessas – um uso mais eficiente dos recursos, novas possibilidades de diferenciação e a diminuição dos custos de monitoramento de contratos, entre outras. A digitalização significa também o acúmulo de um enorme volume de dados que são um insumo para a reprodução das atividades econômicas no interior das empresas ou para a coordenação no nível das cadeias de suprimento. Nesse sentido, a digitalização cria um recurso valioso – o estoque de dados –, cuja propriedade é condição necessária para viabilizar a produção e a distribuição de alimentos.

A estreita relação entre o acúmulo de dados e as operações cotidianas de uma empresa amplifica as consequências negativas de um ataque hacker. Ao “sequestrar” os servidores de uma organização, hackers podem paralisar a produção e compartilhar segredos com concorrentes. Diante de tais ameaças, não é descabida a decisão da JBS de pagar US$ 11 milhões aos responsáveis pelo ataque aos seus servidores. Embora a decisão estimule a realização de crimes semelhantes no futuro, os prejuízos do não pagamento não apenas seriam maiores, como seriam arcados principalmente pela empresa.

Por isso, a cooperação entre as distintas empresas e cadeias do setor agroindustrial é fundamental para mitigar as ameaças de um “apagão” causado por um ataque hacker. Caso contrário, a desconfiança pode levar a soluções preocupadas unicamente com o curto prazo – leia-se, pagamento dos resgates e revisão imediata das políticas internas de segurança digital. Infelizmente, porém, fomentar tal cooperação não será tarefa fácil. Historicamente, os representantes dos distintos elos da cadeia agroindustrial têm se mostrado resistentes a lidar com os riscos derivados da digitalização.

Usemos uma vez mais o exemplo dos Estados Unidos. Ainda em 2006, o Department of Homeland Security (DHS) recomendou que 18 setores estratégicos criassem centros de análise e compartilhamento de informações sobre inteligência. Apenas dois anos após a recomendação do DHS, os representantes ligados às indústrias de alimentos estadunidenses abandonaram a iniciativa. Desde então, as mensagens vindas do setor são contraditórias.     

De fato, preocupações com segurança digital são ainda vistas como custos questionáveis para boa parte das empresas ligadas ao setor alimentício. Em um setor caracterizado por uma competição tão acirrada, assumir custos adicionais é uma decisão que gera resistências. Entretanto, o exemplo da JBS demonstra as implicações práticas da ausência de políticas de segurança digital adaptadas à realidade do setor agroindustrial. No longo prazo, a inação pode custar caro.

Ainda assim, dúvidas sobre a estratégia mais indicada permanecem. Até que ponto a proliferação de startups dedicadas a aproximar o agronegócio da revolução digital poderá fazer frente à ameaça de criminosos? Qual o papel do Estado na construção dessas iniciativas? Ou, tentando integrar ambas as perguntas, qual o equilíbrio ótimo entre políticas centralizadas de fomento de práticas de segurança digital e a oferta descentralizada de soluções por parte de empresas dedicadas a explorar oportunidades ligadas à digitalização da agricultura?

São dúvidas que o futuro esclarecerá. De qualquer maneira, para que soluções sejam encontradas, reconhecer a gravidade do problema é um primeiro passo.

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

0

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe CaféPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do CaféPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

CaféPoint Logo MilkPoint Ventures