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Agropecuária brasileira: imagem não é tudo, mas ajuda bastante

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 05/09/2017

4 MIN DE LEITURA

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O que o jornal The Guardian e a modelo Gisele Bundchen têm em comum? A estranha pergunta nos ajuda a entender a errática trajetória de desenvolvimento econômico e institucional do Brasil. Passemos aos fatos: juntamente com inúmeros meios de comunicação e celebridades, ambos têm reportado e comentado – cada qual à sua maneira – os desdobramentos da decisão do presidente do Brasil, Michel Temer, de extinguir a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca).

Foto: Zig Kock/WWF-Brasil/Divulgação
                                Foto: Zig Kock/WWF-Brasil/Divulgação

Deixemos de lado os aspectos mais óbvios da atual controvérsia, como a aparente falta de comunicação entre os distintos órgãos da administração federal – vide as idas e vindas que levaram o governo a publicar uma nova versão do decreto. Por um momento, esqueçamos que a surpresa de parte da imprensa internacional ou de Gisele Bunchen não seria compartilhada por empresas mineradoras do Canadá, avisadas antecipadamente da mudança nas regras do jogo. Decisões como a extinção da Renca geram custos e benefícios que extrapolam o território da reserva.

Em geral, utilizamos os ganhos e perdas imediatos de uma decisão como a extinção da Renca para avaliar sua conveniência. Nesse sentido, defensores da medida citarão os bilhões de reais ali depositados ou o potencial das terras da região para outras formas de exploração econômica. Críticos apontarão o valor não contabilizado da biodiversidade perdida, ou ainda a pressão adicional sobre o modo de vida de comunidades locais.

Os exemplos enumerados acima não esgotam o repertório à disposição dos analistas, tampouco buscam questionar sua legitimidade. Afinal, as respostas encontradas dependerão do ponto de vista daquele que julga a questão. Entretanto, cálculos baseados nos tais ganhos e perdas imediatos falham em instigar uma reflexão mais ampla sobre as consequências de uma decisão política.

Por exemplo, pensemos nos desdobramentos da decisão de extinção da Renca para a agropecuária do Brasil. A princípio, nada que mereça nossa atenção, correto? Errado. Conforme um número crescente de especialistas têm apontado desde a virada do século XXI, a construção de uma imagem positiva da agropecuária brasileira constitui um de nossos maiores desafios. Cada deslize em questões-chave para a opinião pública como a proteção ambiental ou a consolidação de direitos sociais deveria nos interessar – e muito.

Comecemos pelo diagnóstico. Motivos para a melhoria da imagem da agropecuária
brasileira abundam. Infelizmente, uma tensão latente entre segmentos do Brasil urbano e o rural persiste. Minimizar a desconfiança entre ambos os lados da conversa facilitaria a construção de consensos e o desenho de políticas mais efetivas de apoio à produção agropecuária. Antes, porém, precisamos superar preconceitos enraizados na sociedade.

Na arena externa, muito reclamamos – com razão – das barreiras impostas aos produtos brasileiros. Entretanto, precisamos reconhecer a realidade: caso nosso objetivo seja a abertura dos mercados dos países desenvolvidos, devemos lembrar que estamos lidando com democracias. Nelas, o eleitor define o rumo das políticas. Dessa maneira, garantir o acesso a um mercado implica vencer a batalha contra interesses organizados no interior de cada país. Em outras palavras, precisaremos convencer milhões de cidadãos e consumidores de que a compra de alimentos Made in Brazil impulsiona a adoção de boas práticas, o combate à mudança climática e o desenvolvimento.

É aí que o The Guardian e a Gisele Bundchen entram na história. Em um mundo
inundado por informações desencontradas, frases de efeito e manchetes que viralizam diariamente. Daí em diante, caberá a milhões de pessoas a tarefa de estabelecer relações causais que, não raramente, reforçam preconceitos e apelam ao simplismo. Ainda que injustamente, a associação de palavras-chave como devastação e Floresta Amazônica afeta diretamente aquilo que temos de mais eficiente no Brasil. Não é preciso viajar ao exterior para notar o fenômeno. Basta uma visita a grandes centros urbanos como Rio de Janeiro e São Paulo para perceber que a confusão é grande.

Por isso, precisamos evitar ao máximo a ocorrência de fatos que inspirem tais
interpretações negativas. Não que a tarefa de mitigação de danos seja fácil. Eventualmente, más notícias surgirão e serão propagadas. De qualquer maneira,
precisamos acoplar tais considerações à orientação estratégica da agropecuária
brasileira. Mais do que nunca, o setor deve ocupar a liderança na promoção de uma
agenda de defesa clara do patrimônio ambiental encontrado em nosso território.

Medidas como a extinção da Renca vão contra os interesses de nossos milhões de
produtores rurais, pois acoplam imagens de devastação à marca Brasil. E, como o
escândalo “Carne Fraca” nos mostrou recentemente, nosso êxito depende diretamente da reputação dos produtos Made in Brazil no mercado internacional. Mesmo o que extrapola as porteiras de uma propriedade pode afetar seu desempenho econômico.

Proteger a floresta nos oferecerá argumentos que talvez ajudem a convencer diplomatas estrangeiros em Washington ou Bruxelas. Internamente, contribuirá para a construção de consensos com setores da população urbana fundamentais para a promoção de uma política agrícola mais efetiva para o conjunto do setor. Antes, porém, devemos usar a imaginação para desenharmos estratégias de promoção da agropecuária brasileira que extrapolem os custos e benefícios imediatos de nossas ações. Tal passo implica desenvolvermos uma visão de país alinhada com as demandas daqueles que poderiam pagar mais caro para consumir alimentos Made in Brazil. Quem sabe não seremos elogiados pelo The Guardian e pela Gisele Bundchen no futuro? 

ARTIGO EXCLUSIVO | Este artigo é de uso exclusivo do CaféPoint, não sendo permitida sua cópia e/ou réplica sem prévia autorização do portal e do(s) autor(es) do artigo.

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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WILSON RIBEIRO DE ALMEIDA

INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 11/09/2017

As regiões amazônicas não são fronteiras agrícolas, são reservas ambientais e não devem ser tocadas! Independentemente das pressões externas ou mesmo de interesses ruralistas. Fazer uso de tecnologias pode melhorar o gerenciamento e a administração financeira das unidades agrícolas. Não podemos deixar que usem as terras de forma política: de um lado estão os gananciosos, fazendo mal uso e do outro estão os falsos "Sem Terra" fazendo políticas escusas. Quando vai haver no Brasil pessoas inteligentes e com coragem de mudar tudo isso?

"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina" - Cora Coralina.

Felicidades!

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