Tal desempenho técnico/produtivo e econômico do agronegócio Cafés do Brasil pode ser confrontado com recentes projeções de consumo (FIGURA 1), que estimam cenários bastante favoráveis aos cafeicultores brasileiros (pois em todas as situações a demanda cresce) e por conseqüência para os demais agentes: torrefadores, solubilizadores, exportadores/traders, varejo e governo (via impostos).
FIGURA 1 – Cenários para a demanda global de café verde, 2020
Fonte: Organização Internacional do Café – OIC1.
O provável cenário estima crescimento da demanda mundial em 2,0%a.a. o que elevaria o suprimento global para o patamar das 164,8 milhões de sacas, ou seja, pouco mais de 27 milhões de sacas frente ao consumo contabilizado pela Organização Internacional do Café (OIC) em 2012.
A média das duas últimas safras de café do Brasil (arábica e conilon) estimadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)2 alcançou a produção de 50 milhões de sacas3. Considerando que o país tem participado com aproximadamente um terço da oferta global do produto, essa quantidade não se encontra muito distante da necessária contribuição brasileira para a concretização dos cenários pessimista e provável, isso no transcurso da safra 2013/14 distante, portanto, cinco safras ainda do ponto futuro em evidência (2020) (Tabela 1).
TABELA 1 – Patamar de produção de café brasileiro para atender a parcela do país no mercado mundial, cenários para a demanda, 2012
Fonte: Elaboração própria a partir de estimativas da OIC.
O status quo atual da oferta brasileira (arábica e robusta – mercados interno e externo) não atenderia o suprimento global estimado somente para as condições de ampliação, ainda que marginalmente, de sua parcela de mercado (salto para 35% de demanda) ou no cenário mais otimista (crescimento de 2,5% a.a.) em que a oferta teria que alcançar 55,10 milhões de sacas.
Todavia, antever um cenário em que a oferta brasileira se amplie bastante parece bastante plausível. Considerando a trajetória da produção de arábica desde a safra 2003/04 até a última estimativa de 2013/14, constata-se que há ajuste ascendente para a quantidade colhida, reflexo do incremento da produtividade, uma vez que, não se tem observado expansão da área cultivada (Figura 2).
FIGURA 2 – Produção de arábica, safras de alta e de baixa, Brasil, 2003/04 a 2013/14
Fonte: Elaborado a partir de dados básicos da CONAB (2013).
A evolução da produção de conilon, no mesmo período considerado, também exibe ajuste positivo para a linha de tendência, com inclinação ainda mais acentuada do que a observada no caso do arábica (Figura 3).
FIGURA 3 – Produção de conilon, safras de alta e de baixa, Brasil, 2003/04 a 2013/14
Fonte: Elaborado a partir de dados básicos da CONAB (2013).
O incremento da produção, liderado pela produtividade física das lavouras, constitui-se no principal resultado do processo de mudança da base tecnológica em curso na cafeicultura brasileira. Possuindo naturezas diversas (novas variedades, clones, podas, adensamento, irrigação, mecanização, etc..), tais inovações convergem no sentido de auferir maior rendimento por unidade de área5.
As inovações agronômicas aplicadas à cultura têm permitido expressivos ganhos de produtividade e ocorreu sob situação de mercado pouco favorável aos cafeicultores excetuando-se, a safra 2011/12, em que as cotações para os arábicas finos ultrapassaram os R$500,00/sc. Em todo o restante do período analisado, os preços recebidos estiveram colados aos custos de produção para aqueles com produtividades acima das médias de cada tipo (arábica e conilon).
Assim, há evidência estatística atestando elevação da oferta com relativa independência das cotações de mercado4. Portanto, não há porque crer que possamos ter quedas acentuadas na oferta, mas ao contrário, manutenção dessa linha de crescimento Aparentemente, os cenários traçados pela OIC para a demanda pelo produto associado à histórica participação brasileira no suprimento global (cerca de 1/3 do total demandado), já se encontram atingidos na corrente safra e possivelmente mais ainda nas vindouras.
A superação brasileira das metas produtivas, conquista ímpar na cena cafeeira internacional, ocorreu tanto na quantidade produzida quanto na qualidade final da bebida (lavados, descascados e excelentes naturais)6, traz consigo relativo clima de ausência de expectativas para os investidores (industriais, traders, especuladores - nacionais e internacionais). Provavelmente, um clima morno para as expectativas seja o pior dos mundos para a formação de preços das commodities, pois reduz a liquidez disponível nesse mercado, eventualmente, aprofundando ainda mais as persistentes baixas das cotações.
A luz do que se expôs, não há exagero em se concluir que a formação futura dos preços para os Cafés do Brasil não deverá ser favorável aos cafeicultores. Sem que entre nossos principais competidores (Vietnã, Indonésia, Colômbia e Centro Americanos), ou até mesmo dentro dos principais cinturões do país, ocorram substanciais perdas (decorrentes de distúrbios climáticos, incidência de pragas e doenças, abandono das lavouras em razão da baixa remuneração pelo produto), prevalecerá o cenário de que no mercado de café não há espaço para a acumulação de riquezas. Como resultado final dessa dinâmica ter-se-á a vitimização pelo próprio êxito7!
1 ORGANIZAÇÃO Internacional do Café (OIC). Monthly Coffee Market Report. August 2012, 9p.
2 COMPANHIA Nacional de Abastecimento (CONAB). Acompanhamento da Safra Brasileira – Café, Segunda Estimativa, maio de 2013. 20p.
3 A média das estimativas das duas últimas safras brasileiras de café projetadas pelo USDA alcançam as 52,3 milhões de sacas, conforme relatório:
https://gain.fas.usda.gov/Recent%20GAIN%20Publications/Coffee%20Annual_Sao%20Paulo%20ATO_Brazil_5-13-2013.pdf.
4 A manutenção e/ou ligeira redução da área cultivada contribui para o incremento da produtividade, na medida que, exclui das médias os talhões de menor rendimento.
5 Do ponto de vista econômico seria uma aberração teórica defender a tese de que produção não reage aos preços. O que se discute aqui é que sob as baixas cotações ocorra diminuição no ritmo de crescimento da produção, comparativamente, as situações em que as cotações estejam favoráveis aos cafeicultores.
6 As baixas cotações afetam primeiramente o interesse na produção de qualidade, pois com custos mais elevados e prêmios em baixa, o desestímulo para manutenção dessa estratégia é ainda maior.
7 Essa discussão continua no artigo que será lançado a seguir que tem por título: “Exortação à qualidade”.