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Virar a Mesa da Política Cafeeira

POR CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

CELSO VEGRO

EM 27/12/2013

5 MIN DE LEITURA

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O ciclo econômico, característico do processo coetâneo de acumulação capitalista, revela no mercado das commodities sua expressão mais patente. Em meados de 2011, as cotações do café arábica estiveram no máximo histórico dos últimos 30 anos, abaixo apenas do colapso do suprimento global causados pela grande geada de 1975 no Centro Sul do Brasil. Desde então, as cotações do produto na Bolsa de Nova York assumiram trajetória de baixa, alcançando em setembro de 2013 posições abaixo dos US$¢100/lbp. No último trimestre de 2013 observou-se ligeira recuperação nas cotações que, se ainda são insuficientes para fazer frente aos custos de produção, confirmam a tese do ciclo econômico.

Reconhecida a existência do ciclo e diante da moderna economia política, compete ao Estado, por meio de ações públicas de intervenção nesse mercado, oferecer meios para que o agronegócio mantenha-se viável, quer pela dinâmica econômica e/ou pela sócio-ambiental. Nesse particular não se pode afirmar que o governo abandonou a cafeicultura brasileira, pois como bem relacionou KAWASAKI (2013)1, foram injetados em políticas para o produto R$5,8bilhões em:

a) R$3,16 bilhões em financiamentos;
b) R$1,05 bilhão em opções públicas a preços de exercício de R$343,00/sc;
c) R$1,0 bilhão em financiamento em estocagem aos exportadores e torrefadoras/solubilizadoras; e
d) R$614 milhões em capital de giro as torrefadoras/solubilizadoras e cooperativas.

Também, ocorreram: a) majoração do preço mínimo de garantia para o produto que foi reajustado para R$317,00/sc, algo bastante justo na medida que os recursos públicos devem apenas suportar os custos operacionais efetivos e não os totais (nesse último juntam-se aos efetivos os custos com depreciação, juros ao capital, seguros e impostos) e b) prorrogação por até cinco anos das dívidas vincendas exigindo-se quitação de 20% do saldo devedor. Em que pesem as dificuldades operacionais/burocráticas em liberar os recursos aos distintos segmentos que compõem essa cadeia, não se pode questionar que houve ações públicas objetivando atuar contraciclicamente em defesa da economia cafeeira.

Dentre as políticas implementadas, as opções públicas foram as que mais suscitaram debates2. A CONAB, enquanto lançador exclusivo das opções obteve prêmios muito abaixo daqueles que seriam exigidos pelo mercado, ocasionando a produção de subvenção não explícita. Com a recente ascensão das cotações, caso tal evolução positiva persista no mercado, poderá surpreendentemente não ocorrer o exercício dos contratos adquiridos3.

Organizado pela OCB e CNC, com participação do diretor executivo da OIC, ocorreu entre 18 e 19/12/2013 encontro de lideranças do agronegócio café para traçar diretrizes de política de longo prazo para o segmento4. Três grupos de trabalho (oficinas) delinearam estratégias para os seguintes temas: a) garantia de renda e escoamento da oferta; b) estratégias para ampliação do market share do Brasil; c) cafeicultura e cooperativismo.

Diante de tantas iniciativas oficiais e paraoficiais e a mesmice em torno das quais transitam (defesa do subsegmento arábica), competiria questionar, audaciosamente, se já não passou o momento de buscar inovações nesse escopo de ações, visando criar dinâmica nova nesse mercado já saturado por medidas esgotadas em sua capacidade de sustentar a atividade.

O Governo Federal, através do MAPA, pretende continuar o emprego do mercado de opções públicas para ordenar a oferta do produto. Comentou-se que há a intenção de lançar contratos para a aquisição de até 5,0 milhões de sacas em 2014. Talvez, os gestores das políticas públicas necessitem deslocar seu olhar para repensar as iniciativas com intuito de buscar o novo e desse modo virar a mesa.

O que impede dos futuros contratos de opções fossem destinados à aquisição de conilon? Nada, excetuando-se a pressão lobista conduzida pelo subsegmento de cafeicultores e suas cooperativas centradas no arábica. Podem-se listar algumas as razões que recomendariam essa iniciativa:

a) por se tratar de produto mais barato comparativamente ao arábica padrão nos contratos de opções, a iniciativa tanto pode incrementar o volume adquirido quanto manter a mesma quantidade estabelecida com expressiva redução do ônus financeiro suportado pelo tesouro;

b) ao adquirir conilon o governo estaria atuando fortemente sobre a formação de preços no mercado interno, interferindo relativamente pouco nas exportações. Portanto, a política interna não abriria guarda-chuva para os países concorrentes;

c) a comercialização do conilon ainda não avançou para o estágio financeiro de efetivação das trocas mercantis (em que operam os contratos). Prevalece, atualmente, a dependência do capital comercial que pela sua natureza precisa comprar barato para vender caro, estabelecendo assim rol de critérios arbitrários direcionados ao incremento de defeitos inexistentes no produto;

d) retirar conilon do mercado provaria efeito cascata, valorizando todos os demais tipos de arábica a começar pelos mais baixos;

e) a derrocada das cotações não foram inteiramente transmitidas ao varejo, ou seja, os consumidores continuam pagando pelo café torrado e moído valores similares aos praticados quando da escalada dos preços e reajustes forçados pela indústria. Em abril a torrefação precisava de 97 pacotes de 500g de T&M para adquirir uma saca de verde, desde então tem havido queda nessa paridade encerrando Nov.13 com apenas 35pct para aquisição do mesmo produto. A indústria tem portanto gordura para queimar (Figura 1);

f) o lançamento de opções para conilon seria acompanhado de calendário de vendas concedendo preferência para aquisições dos estoques por parte dos solubilizadores, pois em se adotando essa estratégia esses agentes da cadeia poderiam ser ligeiramente prejudicados; e

g) estabelecimento de protocolo de regulamentos para viabilizar as operações em draw-back, objetivando atração de novas plantas e fazer deslanchar a agregação de valor nas exportações.

Trocar o arábica pelo conilon no lançamento das opções somente oferece vantagens ao gestor público. Ao não interferir no fluxo de comercialização permitirá os exportadores e as cooperativas recuperarem market share, reforçando a balança comercial do país pelo efeito de incremento da quantidade e dos preços. Ademais, a avidez que existe pelo produto no mercado interno haveria grande disputa pelos lotes oferecidos a venda, provavelmente, elevando seus preços e permitindo recuperação vantajosa dos recursos do tesouro imobilizados.


FIGURA 1 – Paridade de Preços Entre T&M e Verde, São Paulo, jan.2011-nov.2013
Fonte: Elaborada a partir de dados básicos de www.iea.sp.gov.br


1 Detalhes em: https://www.redepeabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=49824
2 Artigos na íntegra disponíveis em:
https://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=12769
https://www.cafepoint.com.br/mercado/relatorios-mensais/desenho-miope-1-85566n.aspx
3 O exercício requer o preparo do café a ser entregue, custo com o qual arca o cafeicultor, estimado entre R$40,00/sc e R$50,00/sc, o que reduziria o preço recebido para o intervalo entre R$293,00/sc e R$303,00/sc, cotações muito aderentes as praticadas pelo mercado para bebida dura em dezembro de 2013. A esses preços líquidos, arrefece o interesse dos cafeicultores em praticar o exercício dos contratos. Tais valores não consideram o ônus financeiro com frete até o armazém credenciado mais próximo, portanto se trata de cálculo bastante otimista.
4 Detalhes em: https://www.cafepoint.com.br/parceiros/cnc-noticias/cnc-balanco-semanal-16-a-20122013-86924n.aspx


Celso Luis Rodrigues Vegro
Eng.Agr., M.S. Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade
Pesquisador Científico VI
Instituto de Economia Agrícola
celvegro@iea.sp.gov.br

 

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Pesquisador Científico VI do IEA-APTA/SAA-SP

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CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 06/01/2014

Prezado José dos Reis

A temática do marketing do café brasileiro continua como maior e mais importante desafio desse agronegócio. Você tem razão nos argumentos que expõe suas conseqüências. Felizmente temos no Brasil especialistas nesse assunto e anualmente o FUNCAFE destina como que R$30 milhões para o marketing do produto. Os resultados desses esforços e investimentos serão colhidos no longo prazo.

Abçs

Celso Vegro
JOSE DOS REIS DA SILVA

MUZAMBINHO - MINAS GERAIS

EM 06/01/2014

Entendo que esta faltando ao Brasil, maior produtor de cafe no planeta,  uma politica de divulgação do produto no exterior, deixando com isso, que nossos concorrentes explorem, melhor esse mercado. Acredito que a oportunidade de divulgação de nosso produto, para o mundo acontecera,   com a realização da copa do mundo de futebol, em 2014  e nas  olimpiadas, tambem no  Brasil, em 2016. Se usarmos a arma disparadora de $, que e o melhor jogador do Brasil, no momento (Neimar), ai então nosso cafe passara a ser valorizado, no mercado externo. Enquanto isso, continuaremos assistir pequenas variações do mercado, e os produtores, cada vez mais endividados.     
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 03/01/2014

Prezado Eduardo Heron

Sempre um grande prazer dialogar consigo.

A proposta é ousada e o título do artigo revela essa ousadia. Ao direcionar os esforços para o conilon temos a oportunidade de manter a ação pública circunscrita ao mercado interno e assim cerceando o raio de ação dos concorrentes internacionais. De outro lado estaria o poder público disciplinando o mercado desse tipo de café que ainda é pouco transparente imputando defeitos inexistentes que visam exclusivamente pressionar para baixo seu preços.

Creio que não afetando os exportadores (são pífias as exportações de conilon) e queimando a gordura dos torrefadores teria-se maiores chances de empurrar para cima as demais cotações, principalmente dos arábicas baixos, melhorando para todos os cafeicultores as receitas obtidas com a produção.

Enfim, esse é um debate iniciado.

Abçs

Celso Vegro
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 02/01/2014

Prezado Paulo Henrique

Grato pela crítica ao artigo.

Como você pode constatar antes de virar a mesa listei tudo que foi feito entre 2012 e 2013 pelo governo federal para recuperar as cotações do arábica. Os resultados colhidos são pífios. Então buscar alternativas para  essa conjuntura é decisão estratégica que corajosamente o agronegócio precisa enfrentar. Entre suas colocações tenho os seguintes reparos:

1 - uma das razões da elevada inflação que assola a economia é o déficit fiscal do governo federal que precisa de malabarismos contábeis para fechar as contas. Gastar menos é fundamental para avançar em direção de maior estabilidade econômica;

2 - lucro dos produtores de robusta: esse sim é um argumento frágil. Os preços recebidos pelos cafeicultores de robusta são similares aos custos. Não tem havido excedente financeiro com exceção daqueles com produtividades acima dos 50-60sc/ha que ainda são uma minoria;

3 - a hipótese formulada de efeito cascata não tem comprovação, mas pelo menos não abre o guarda-chuva para países concorrentes e cria ambiente favorável para recuperação do arábica;

4 - mercado bom para quem... certamente para os torrefadores conforme o gráfico exibiu na trajetória da relação de troca;

5 - a função do governo é empregar os recursos públicos de maneira eficiente e se isso  conduz a intervenção no mercado do robusta, é isso que deve ser feito.

ABçs

Celso Vegro
EDUARDO HERON SANTOS

SÃO PAULO - SÃO PAULO

EM 02/01/2014

Boa tarde Dr.Celso Vegro,



Suas observações como sempre são pertinentes, apesar da discordância já manifestada aqui pelo Paulo Henrique de Garça.



Observo que os Leilões de Opções realizados em 2013 não alcançaram os objetivos esperados e os preços permaneceram com projeções negativas. Portanto, retirar mais café do mercado é uma tentativa arriscada.



Veja: A retração da oferta pelo Brasil permitrá aos outros países concorrentes e produtores de arábica ocupar as lacunas deixadas pelo país. A exemplo do que digo são as estimativas positivas para as produções colombianas e alguns centrais.  



Cabe destacar que no período de 2000 a 2002 vimos os nosso concorrentes fazerem a mesma coisa que a policita cafeeira brasileira propõe, ajustando suas produções, através de programas de renovação de cafezais, na expectativa de valorização de preço. Entretanto, se observamos os resultados de nossos concorrentes, os volumes produzidos e exportados pelo Brasil iremos identificar o aumento de nossa participação no market share global, com uma escalada de preços iniciada a partir de 2002.



Portanto, devemos ter cautela com as propostas, pois Getúlio Vargas já morreu e não sei se haverá outro presidente capaz de queimar os cafés que pretende-se deixar de vender.



Creio ser mais prudente a cautela, a ampliação da discussão, analisando causa e efeito, de maneira que possamos descobrir ações e estratégicas que melhor se adequem a esse cenário negativo, garantindo a permanência ou aumento de nossa participação.



Parabéns pelo artigo.
PAULO HENRIQUE FERNANDES ALVES DE SOUZA

GARÇA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 01/01/2014

o fato do governo estar fazendo leilão de opção somente com arábica é simples. o produtor de robusta está há tempos tendo lucro com sua atividade enquanto o de arábica não. fazer a defesa de que se faça com o robusta e não com o arabica o leilão de opções  por causa do menor dispendio de recursos,me parece frágil demais. e segundo,para que "intervir" num mercado em que o produtor está tendo lucro ? terceiro, o que garantiria ao sr que retirando robusta subiria o preço do arábica? mercado que está bom não se mexe sr celso. a cafeicultura que está necessitando do apoio do governo é a de arábica e não a de robusta. esta é a função de um governo,direcionar e dizer ao mercado que ele está atento e que não vai permitir que divisas nossas sejam tiradas sem que façamos força para que isto não ocorra.  

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