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Petrorupturas: cotações do petróleo estabelecem parâmetro para negociações

POR CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

CELSO VEGRO

EM 09/12/2014

5 MIN DE LEITURA

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Dentre os mecanismos de governança das cadeias produtivas a coordenação via preços é, talvez, aquela de maior emprego no funcionamento das transações mercantis, independentemente da especificidade do ativo envolvido. Apesar de sua abrangência no funcionamento dos mercados, nove entre dez economistas derrapam quando perguntados no que consiste exatamente um preço e como eles são estabelecidos1.

O primeiro grande erro muito comum é considerar preço como variável absoluta, tal qual a pressão atmosférica, quando em verdade a natureza do preço é relativa, ou seja, trata-se de um sistema de preços em que a cotação dos ativos correlaciona-se uns com os outros, caracterizando assim sua relatividade.

Por serem relativos os preços são intrinsecamente instáveis. Do ponto de vista conjuntural, a natureza biológica da produção submetida à imprevisibilidade de longo prazo do clima; a descentralização da produção (o café, por exemplo, é produzido em mais de 150 nações); a geração de expectativas quanto ao equilíbrio entre oferta e demanda mundiais e a relação de paridade entre as moedas nacionais, constitui o bojo das flutuações dos preços. Ademais na origem dessa instabilidade encontram-se as distintas naturezas, específicas de cada ativo.

O sistema de preços2 possui a função de orientar a alocação dos recursos produtivos; atua na distribuição/concentração da renda e na formação de capital. Entre os problemas na precificação dos ativos temos a interveniência de políticas públicas (tributação e tabelamento - por exemplo o longo período de congelamento dos preços dos combustíveis); administração por parte de cartéis/oligopólios, expectativas de produção/consumo, acúmulo/diminuição de estoques. Essas variáveis configuram complexidade para a formação dos preços.

Para além dos fatores conjunturais mencionados, quatro seguranças estruturais também atuam na formação dos preços: a) militar; b) energética; c) financeira e d) alimentar. As diversas conflagrações, diariamente noticiadas, não concedem margem para a construção no curto prazo da estabilidade mundial. Por sua vez, a catástrofe de Fukushima aumentou a rejeição social à geração nuclear e ampliando os riscos de escassez energética, enquanto que o colapso de 2008 lançou a economia global em período de baixo crescimento e aumento do desemprego. Por fim, os relatos de organismos internacionais atestam de que houve ampliação no contingente populacional que padece com carência nutricional e fome, denotando que a humanidade se afastou das condições suficientes para cumprir com a meta de erradicar tão dramático padecimento. Enfim, dessa mistura de imponderáveis (in)segurança estabelecem-se a contraparte estrutural para a formação dos preços.

No mercado global das commodities (petróleo, metálicas/minerais e agrícolas), o estabelecimento das cotações3 ocorre dentro de bolsas de valores, organizadas com o intuito tanto de minimizar os custos de transação quanto adicionar confiança as transações, uma vez que, somente operadores registrados – que ultrapassam a casa dos milhares, possam nela atuar, permitindo assim funcionamento eficaz para a compra e venda dos ativos. As cotações que diariamente ali se estabelecem, transmitem-se instantaneamente para todo o sistema econômico, contribuindo decisivamente para que se aproxime de almejado “preço justo” da commodity transacionada.

No mercado das commodities existem hierarquias. Aquela que pode ser considerada a rainha de todas as demais é, indubitavelmente, o petróleo. Sob a hipótese dos preços relativos, a demanda global - em grandes quantidades diárias pelo produto, estabelece nas cotações desse ativo parâmetro para todas as demais negociações.

Confrontando as cotações mensais do petróleo com as registradas pelo café arábica, constata-se que existe ligeira simetria na trajetória das curvas, ao menos no seu sinal. Movimentos ascendentes ou descendentes do ativo primordial (petróleo) são acompanhados pelo secundário (café). Ainda que tênue esse vínculo possibilita a construção de cenários para cotações futuras (Figura 1).


FIGURA 1 – Cotações médias mensais do petróleo e do café arábica, de 2008 a outubro de 2014

Fonte: Elaborado a partir de dados básicos disponíveis em:
petróleo : US Energy Information Administration
https://www.eia.gov/dnav/pet/hist/LeafHandler.ashx?n=PET&s=RBRTE&f=D
café: International Coffee Organization
https://www.ico.org/



Desde agosto de 2013, os preços do barril do petróleo tipo Brent vêm caindo US$10/mês, atingindo cotações próximas dos US$70/barril. Em reunião recente da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP), o mais temido de todos os cartéis, ratificou decisão de manter a oferta diária em 30 milhões de barris ao dia. Esse patamar de oferta tende a manter as cotações deprimidas, contribuindo inclusive para acentuação da tendência de queda.

No mercado de café, prevalece insegurança entre os investidores/especuladores quanto ao patamar que alcançará a colheita da safra 2015/2016 no Brasil. Estimativas privadas e da Organização Mundial do Café indicam que o consumo de estoques nas duas últimas safras tenha atingidos entre 10 e 13 milhões de sacas para atender a escassez de oferta. Assim, à primeira vista, as causas da escalada nas suas cotações decorre de aspectos s intrínsecos ao seu mercado - fundamentos. Todavia, olhar mais atento constata que as cotações do café em poucas ocasiões desgarraram das do petróleo, havendo paralelismos entre ambas as curvas.

Ainda que o ambiente para o estabelecimento das cotações do café carregue a insegurança quanto às condições para satisfação do suprimento global, o despencar das cotações do petróleo pode consistir em limitador para a elevação das do arábica. A atual volatilidade nas cotações do café – da ordem de 50%4 resulta, em parte, dessa análise que não escapa aos administradores de carteiras de investimento e de fundos.

Assim, as cotações do petróleo em baixa têm o potencial de trazer consigo as cotações do conjunto das demais mercadorias globalmente transacionadas, levando a economia a operar em patamar menos dinâmico. Certamente nesse quesito se adiciona mais um condimento para a estagnação que ronda o ambiente de negócios.



1 O máximo que se consegue obter é a clássica definição: trata-se da quantia em dinheiro que uma determinada mercadoria pode ser vendida. O entendimento, por exemplo, que toda a transação de compra e venda resulta em mais valor social, mesmo sob a prevalência de assimetrias de informações é algo absolutamente ignorado.
2 O preço possui suas mutações que por vezes também escapam a maior parte das pessoas como: o decorrente do trabalho que se denomina salário; o do dinheiro, chamado de juros e do direito de uso por renda ou arrendamento como comumente empregado no jargão da economia agrícola.
3 Preço e cotações não podem ser admitidos como sinônimos, pois o primeiro é resultado de transações que efetivamente ocorreram, enquanto a segunda diz respeito à sinalização para que os negócios possam ser iniciados.
4 Ver detalhes em: https://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=13497




Celso Luis Rodrigues Vegro
Eng. Agr., Pesquisador Científico do IEa
celvegro@iea.sp.gov.br 

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Pesquisador Científico VI do IEA-APTA/SAA-SP

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CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 10/12/2014

Prezado Paulo Duarte

O desenho de política pública para a cafeicultura já foi objeto de minha investigação nesse espaço. Quanto a correlação que procurei traçar essa não explorou os aspectos mais diretos que são usuais em outras análises dessa natureza.

Embora reconheça que não há forte correlação entre ambas as commodities analisadas, o resultado da análise é precioso na construção de cenários futuros e aqueles bem aparelhados para essa empreita, dela se aproveitarão.
PAULO ROBERTO DUARTE

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 10/12/2014

Caro Celso... Através de seu artigo, percebe-se que você "alinha-se" àqueles que, isenta ou tendenciosamente, ajudam a depreciar, neste momento, as expectativas de preços do café. E a seca ocorrida no maior produtor mundial? Você embasa-se em números, séries históricas, ete, etc, etc,... O que me incomoda em vocês, analistas e técnicos, é o fato de sempre arranjarem "atos e fatos" contributórios para a queda de preços, neste caso, do café. Por que vocês não utilizam parte de seu tempo a avaliar OS IMPACTOS DAS QUEDAS DOS PREÇOS DE PETRÓLEO NOS CUSTOS DE FERTILIZANTES E DEFENSIVOS? Por que cai o preço do petróleo e o da Uréia não? Por que não são lançadas reflexões alertando os cafeicultores quanto à redução de 40% de seu custo que são Fertilizantes e Defensivos? Acho necessário e importante contar com a ajuda de vocês para compreender os cenários e etc... Entretanto, percebo, na maioria dos artigos, mias foco em argumentos baixistas, prejudicando os cafeicultores... Parece que há em alguns analistas algum tipo de interesse em forçar os preços para baixo, contribuindo, ainda mais, para empobrecer o pequeno e médio cafeicultor, e para aumentar os lucros( E.V.A) de algumas multinacionais e exportadoras. Por que vocês, na sua imensa maioria, não procuram alertar autoridades e lideranças para a NECESSIDADE URGENTE DE PENSAMENTO E AÇÕES ESTRATÉGICAS DE PRESERVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DOS PEQUENOS E MÉDIOS CAFEICULTORES, criando mecanismos semelhantes à OPEP(Controle da Oferta) no caso do petróleo? Por que não se utilizar o FUNCAFÉ para assegurar PREÇOS DE VENDAS COMPATÍVEIS COM OS CUSTOS DE PRODUÇÃO? POR QUE O INTERESSE, PARA MIM, EXPLÍCITO, DE INVIABILIZAR OS PEQUENOS E MÉDIOS CAFEICULTORES? QUEM GANHA O QUÊ COM ISSO? Por que não pensar numa OPEP DO CAFÉ??? Vai levar tempo! Entretanto "se há muitos anos atrás não houvesse quem plantasse jabuticaba, muitos jovens e até mesmo adultos, não pudessem apreciar a fruta"! Abração.   

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