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Jogo de empurra

POR CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

CELSO VEGRO

EM 21/08/2012

4 MIN DE LEITURA

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Os menos avisados imaginam que tratarei aqui do Monumento As Bandeiras, mas, equivocam-se, pois meu assunto é mesmo o café, tema com o qual intelectualmente labuto com o afinco com que Brecheret picou, por 30 anos, o duro granito.

As exportações brasileiras de café no primeiro semestre de 2012 foram recentemente divulgadas pelo CECAFE. Entre janeiro e junho de 2012 os embarques totais de café somaram 12,62 milhões de sacas com saldo cambial apurado de US$3,11 bilhões (Tabela 1).

Tabela 1 - Balanço das Exportações, Agronegócio Café, Brasil, Jan.-Jun. de 2010, 2011 e 2012. Fonte: elaboradas a partir do CECAFE (www.cecafe.com.br).



Excetuando-se o preço médio recebido que exibiu um ligeiro incremento (1,1% apenas), todos os demais componentes da balança comercial do café (volume e valor) tiveram pior desempenho na comparação entre os primeiros semestres de 2011 e 2012. Houve forte encolhimento nos embarques de robusta (redução de 67%) e de arábica (menos 20,3%), repercutindo na diminuição na quantidade exportada total de café verde (baixa de 24,7%). Sem dúvida, não há nada para se comemorar diante de tais resultados.

Não fosse o café um produto capcioso e a memória do brasileiro curta, por aqui pararíamos. O ciclo bienal da cultura não é assunto somente para a classe agronômica e cafeicultores terem o que falar, mas ao contrário, é componente que também pauta a dinâmica dos negócios. A comercialização ocorrida no primeiro semestre de 2012 pertence a um ciclo de baixa, com menor oferta de produto, devendo, portanto, ser comparado com período em que o mesmo fenômeno se sucedeu, ou seja, o primeiro semestre de 2010.

Feitas as devidas contas entre os períodos congêneres houve no primeiro semestre de 2012: incremento de 7,2% no robusta; queda de 15,2% e 14,3% de no arábica e na exportação total de verde, respectivamente. Contabilizando queda também no industrializado (11,4%), a exportação total reduziu-se em 13,9%. Em contrapartida, as receitas cambiais elevaram-se em 28,1% e o preço médio foi alavancado em formidáveis 36,9%. No balanço das taxas pode se concluir que o primeiro semestre de 2012 foi uma temporada melhor para agronegócio café do que o mesmo período de 2010.

O mais significativo resultado desse exercício foi constatar que se obtiveram tais resultados mesmo sob o clima macroeconômico de crise financeira global, enquanto que no primeiro semestre de 2010, o mundo experimentava nova euforia econômica.

Outra informação altamente relevante para essa análise consiste nos resultados para as exportações de arábica e robusta de qualidade (gourmet, certificados, lavados e descascados). O avanço nos embarques de produto de melhor qualidade é espetacular. Na comparação entre os dois anos safras de baixa, o incremento das receitas com arábica aproxima-se da casa do bilhão de dólares e em robusta quase que triplica (Tabela 2). Na atualidade, os Cafés do Brasil, particularmente o Bourbon Amarelo e o Cereja Descascado, estão na mira de grande parte dos torrefadores internacionais. Tais especialidades se tornaram disputadas e suas cotações mostram-se crescentes.

Tabela 2 - Quantidade, Valor e Preço Médio dos Cafés Diferenciados, Brasil, 2009/10 e 2011/12. Fonte: elaboradas a partir do CECAFE (www.cecafe.com.br).



No período de maio de 2011 e abril de 2012, a Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC) contabilizou incremento de 3,05% na demanda por café, ou seja, os brasileiros passaram a consumir 4,94kg de T&M/ano. A origem de todos os negócios está na base produtiva agrícola, ou seja, na lavoura de café. Então esse aumento da demanda interna, confrontado com o ciclo de baixa, acentuou as diminuições observadas nos embarques. Tal fenômeno pode ser considerado uma queda para o bem, pois consolida o vigor do mercado interno e oferece maior transparência nas transações.

Junho de 2012 foi um dos meses mais chuvosos da história no perímetro dos principais cinturões cafeeiros do país. As perdas físicas estão sendo contabilizadas, enquanto as de qualidade foram sacramentadas. Aquela lorota de safra recorde com acúmulo de estoques até perdeu sua graça, se é que alguma graça havia. Não tem mais safra recorde tampouco quantidade suficiente de café de alta qualidade para abastecer os torrefadores. O único vetor para preços é ladeira acima e salvem-se quem puder.

Pautado naquilo que a análise até esse momento apresentou, o cenário provável para o mercado de café apontaria para boas oportunidades de negócios com preços remuneradores. Entretanto, no atual momento a cafeicultura volta a patinar, com cotações internacionais recuando para níveis preocupantes. Assim cabe a pergunta: que elementos poderiam explicar essa conjuntura?

Cogito que tem havido no uma espécie de jogo de empurra. As traders/exportadores (nacionais e internacionais), exageradamente cautelosas quanto à demanda efetiva de seus clientes internacionais, estão adiando os pedidos para o prazo limite de seus embarques. Assumindo essa postura, conseguem uma vantagem derivada que é a de pressionar os preços no mercado físico. Essa razão pode ser, talvez, o verdadeiro fator que tem deprimido as cotações.

Momento mais apropriado que esse para o surgimento de uma política pública de comercialização não poderia existir. A expertise governamental em opções públicas deveria ser retomada, sinalizando para todo o mercado que a autoridade brasileira esta atenta as manobras do mercado e propõem-se a oferecer opções de venda, a preços de R$450,00/sc a R$470,00/sc, para entregas em dezembro/2012 e março/2013, por exemplo. O lançamento de opções públicas para um montante de 2 milhões de sacas (pouco mais - pouco menos) permitiria transposição menos angustiante por esse período de pouca transparência do mercado, beneficiando a cafeicultura no curto prazo e de todo o agronegócio no longo.

Que Brecheret tenha sido gênio de nossa escultura modernista não há duvida, mas quem torneou o Pensador foi Rodin. O vigor do bronze de punho ao queixo, em esforço hercúleo de pensamento, produz em quem observa (e também em quem escreve) conexões sinapses que até mesmo uma mente preparada fica surpresa. CHEGA DE JOGO DE EMPURRA!

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Pesquisador Científico VI do IEA-APTA/SAA-SP

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CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 27/08/2012

Prezado Samuel Fornari


Questão complexa mas ultra pertinente. Veja, o financiamento veio do FUNCAFE e é tradicionalmente oferecido em todo ano dentro da política destinada ao produto. Creio os estoques tem esse potencial de retardar altas, mas entre o potencial e o real (preço baixo agora) prefiro arriscar no primeiro. Esse seu tema é assunto para aprofundamento por parte de econometristas capazes de construir modelos que captem o efeito dos estoques financiados.


Abçs


Celso Vegro
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 27/08/2012

Prezado PH


Difícil lhe responder com precisão. Penso que a postura cautelosa das empresas é legítima e pertence a estrutura competitiva que direciona a dinâmica do mercado. Diria para você que quem opera com qualidade deve antecipar suas compras antes dos demais pois o cenário é crítico e esse tipo de produto estará caracterizado como raridade/exclusividade nos próximos meses a preços que podem nos espantar.


Abçs


Celso Vegro
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 27/08/2012

Prezados Claudio e Marcos


Para mim é estimulante encontrar cafeicultores que se aproveitam daquilo que pensamos e produzimos enquanto estudos e análises. Todo o dinheiro que a sociedade investe na formação de um pesquisador precisa retornar e, modestamente, é isso que tenho tentado oferecer, as vezes acertando outras vezes não.


Grato


Abçs


Celso Vegro
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 27/08/2012

Prezado Eduardo H. Santos


Mas quantos elogios. Vou ficar mal acostumado. Obrigado pela apreciação positiva que faz de nosso trabalho.


Grande abraço.


Celso Vegro
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 27/08/2012

Prezado Frederico Daher


É uma honra para mim ser lido e comentado por você. Sim, continuemos trabalhando que para meu caso significa analisar o pensamento e traduzí-lo em linguagem de mercado.


Abçs


Celso Vegro
SAMUEL HENRIQUE FORNARI

SÃO JOSÉ DO RIO PARDO - SÃO PAULO - DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS (CARNES, LÁCTEOS, CAFÉ)

EM 24/08/2012

Celso,



Tenho visto cooperativas incentivarem o produtor a fazer a tal retenção. Recebe-se hoje, 260/280/300 reais por saca antecipadamente, com vencimento em janeiro e março. Fundos de investimento vendendo contratos aos montes em ny, já beirando os 25000 lotes.( CFTC que separa os fundos de índice). Será que essa retenção não pode ser um tiro no pé? Afinal, o mercado saberá que em janeiro e março haverá grande entrega e fixação para saldar esse compromisso de retenção assumido podendo retardar um possível raly nos preços. Gostaria de saber sua opinião sobre o assunto!!!



Abraço
PAULO HENRIQUE LEME

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 23/08/2012

Caro Celso,



O problema talvez sejam os pesos na balança deste jogo de empurra. A questão é quanto tempo mais as grandes indústrias conseguirão segurar suas compras... A minha impressão é que elas estão comprando por atacado em um curto espaço de tempo. Ou seja, esperam baixar o preço e compram muito, o preço sobe e elas param de comprar, esperando a nova queda.



É possível segurar este jogo até quando?



Abs!



PH
CLAUDIO F VASCONCELOS

MACHADO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 23/08/2012

Congratulações ao Celso Vegro, por ser uma das poucas pessoas no setor cafeeiro capaz de expressar a verdade.   De uma forma ou de outra, a maioria dos produtores de café estão perdendo a oportunidade de se estruturarem por estarem vendendo café para  quitar os altos custos de colheita.    Quanto a estratégia das maiores Tradings de manipular as informações projetando  "super safra", ou seja, dizer que teríamos 55,7 milhões de sacas de café, levianamente acrescentando mais 6,5% sobre a margem de erro superior do levantamento da Conab, a qual fez uma avaliação bem feita, porém, sobre uma boa florada que não vingou totalmente. Isto era sabido desde o início do ano e os produtores já estimavam um safra muito inferior ao divulgado.  O que precisamos daqui para frente é transmitir ao mercado mundial que a única entidade com estrutura operacional e técnica existente no Brasil capaz extrair informação "in loco" é a Conab.  O resto é chute e especulação, ou melhor, manipulação!   Esperamos também, que a Conab melhore o levantamento para o café, uma vez que o período de florada até o pegamento dos frutos pode ocorrer grandes variações, como a desta última safra.



Claudio F. Vasconcelos

Machado - MG   
MARCOS

VILA VELHA - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 22/08/2012

Concordo com o artigo em gênero, número e grau ! Realmente as coisas do mercado do café precisam mudar, pois quanto mais se tenta entender mais sujeira se encontra. Eu mesmo ralei durante 1 ano para conseguir fazer um "bebida dura" ( é talvez o máximo de qualidade que eu consiga na minha condição geográfica ) não consigo vender meu café pelo preço dessa bebida porque o mercado não compra. Estão justificando " empurrando " até com roubo e sumiço de amostras para análise. Cambada !
EDUARDO HERON SANTOS

SÃO PAULO - SÃO PAULO

EM 22/08/2012

Parabéns pelo excelente artigo Celso! Análise simples, objetiva e reflexiva. Entendo, que preço e qualidade devem caminhar juntos, proporcionando uma remuneração melhor à aqueles que da fato se empenham para atender as exigências do mercado internacional - o produtor. Entretanto, o que estamos observando é uma disparidade entre preço e qualidade, em razão do referido jogo de empurra, tornando-se necessário uma política pública mais eficaz.
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 22/08/2012

Prezados João Carlos e Samuel Fornari


Grato pelo prestígio. Estudar mercados complexos como os de commodities é tarefa que exige muito treino e olhar perspicaz. Lamentavelmente, tais produtos são escassos nos âmbitos decisórios desse país.


Att


Celso Vegro
FREDERICO DE ALMEIDA DAHER

VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/08/2012

      Meu Caro Celso Vegro;

      Que artigo bem elaborado!

      Verdade,as condicionantes de mercado sinalizam preços ladeira acima,embora as sucessivas quedas nos mesmos no momento presente.Concordo que a retração nas aquisições pelos agentes de mercado,cautelosos e expectantes,poderia ser contornada pelo anúncio de uma política de opções clara e realista atenuando o problema dos preços em queda.

      No mais ,caro amigo,é continuar trabalhando pois é com trabalho bem planejado e perseverante que conseguiremos superar os  obstáculos naturais na caminhada.

      Grande abraço

       Frederico de Almeida Daher
SAMUEL HENRIQUE FORNARI

SÃO JOSÉ DO RIO PARDO - SÃO PAULO - DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS (CARNES, LÁCTEOS, CAFÉ)

EM 22/08/2012

Parabéns Celso,

Não há realmente certeza na explicação, trata-se de um verdadeiro jogo de empurra!!!

Tenho a impressão que pagamos hoje o preço da credibilidade. Nos últimos anos apresentamos ao mercado números totalmente incoerentes de produção. Nesse sentido acredito que a safra recorde divulgada pela conab é uma tentativa de melhora desses números. A noção que temos aqui próximo ao campo é de uma safra menor que a de 2010, mas hoje sabe-se que a safra de 2010 foi bem superior ao divulgado pela conab. Hoje passamos ao mercado informações de uma safra cheia de problemas ( qualidade e quantidade) e o mercado la fora faz o jogo de empurra descrente de nossas informações.

É ter paciência e  esperar que logo eles enxerguem " com seus próprios olhos" o tamanho do estrago que foi a safra deste ano!!!
JOÃO CARLOS REMÉDIO

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 21/08/2012

Parabéns pelo artigo. Estamos abastecendo o mundo com café barato por falta de uma política governamental que beneficie a cafeicultura e consequentemente o Brasil. Em um ano como esse com as coisas não dando muito certo, os preços eram para ser no mínimo remuneradores. O mercado sabendo da nossa fragilidade está se fartando de café para daqui a pouco os preços explodirem. Estamos sendo blefados e mais uma vez vamos pagar essa conta . É uma pena!

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