Na Bolsa de Nova Iorque, as cotações médias do arábica caíram 6,05%, em relação à cotação média de maio de 2006 (Contrato C, segunda posição). Na Bolsa de Londres, o robusta registrou leve alta de 0,33% (igualmente para a segunda posição). No mercado de futuros da BM&F, o preço do arábica teve baixa de 7,81% (segunda posição). O indicador OIC-Composto diário apresentou baixa de 4,40% em relação à média do índice de maio (gráfico 1).
Fonte: Gazeta Mercantil
Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2004 a 2006.
O diferencial entre as cotações observadas na BM&F e em Nova Iorque cresceu para US$ 15,76 a saca, superior em 9,14% à média do mês anterior, devido à maior oferta de origem no mercado de Nova Iorque. Esse diferencial nos últimos doze meses pode ser verificado no gráfico 2.
Fonte: Gazeta Mercantil
Gráfico 2 - Cotações médias mensais do café arábica, segunda posição, nos mercados de Nova Iorque e BM&F (São Paulo), 2005-06.
As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram tendência contínua de queda durante todo o mês de junho, apresentando alguma recuperação apenas na última semana do mês (gráfico 3).
Fonte: Gazeta Mercantil
Gráfico 3 - Cotações diárias em junho de 2006 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição.
Na Bolsa de Londres, o mercado de robusta apresentou comportamento diferenciado ao observado em Nova Iorque, ao mostrar forte flutuação sem tendência definida e forte alta na última semana do mês, devido a informações de menor oferta do produto do Vietnã (gráfico 4).
Fonte: Gazeta Mercantil
Gráfico 4 - Cotações diárias para o café robusta, segunda posição, na Bolsa de Londres, no mês de junho de 2006.
Na BM&F, a evolução dos preços do arábica, segunda posição, cotados em dólar por saca em junho, indica variação negativa acumulada de 8,29% no ano de 2006 e de 17,57% nos últimos doze meses. No mercado de Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição, tiveram queda de 2,04% no ano de 2006 e de 14,55% no acumulado dos últimos doze meses.
Por sua vez, as cotações do robusta no mercado de Londres, segunda posição, tiveram variação acumulada de baixa de 5,69%, nos últimos doze meses, e de alta de 2,04% em 2006. Já a estimativa do OIC-Composto apresentou perda acumulada de 0,62%, em 2006, e de 10,65% nos últimos doze meses.
Quanto às cotações médias do café no primeiro semestre de 2006, comparadas às cotações médias anuais de 2000 a 2005, verifica-se que no caso de Nova Iorque, para o arábica, a média do primeiro semestre de 2006 é apenas 0,30% inferior à média do ano de 2005. Isto indica que as cotações, apesar de fortes flutuações, têm se mantido estáveis nos últimos 18 meses, ao contrário do robusta na Bolsa de Londres cuja média de 2006 é 16,30% superior à média de 2005 (gráfico 5).
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
Gráfico 5 - Cotações médias anuais de Café, nos diferentes mercados, no período de 2000 a 2006.
Na cafeicultura paulista, as cotações médias em junho do café arábica caíram 3,84% em relação à média de maio de 2006, em função das cotações em baixa do produto no mercado internacional e da maior oferta interna, reflexo das boas condições climáticas para o desenvolvimento da colheita. Houve, portanto, quedas acumuladas de 21,85% nos últimos doze meses e de 6,02% em 2006 (gráfico 6).
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
Gráfico 6 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002 a 2006.
Ao comparar os preços médios recebidos pelos cafeicultores paulistas no primeiro semestre de 2006, em relação aos preços médios recebidos em 2005, verifica-se que caíram 8,57% em termos nominais e 12,60% em valores deflacionados. Isto indica o efeito da maior oferta e da valorização do real na cotação do café (gráfico 7).
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
Gráfico 7 - Preços médios anuais recebidos pelos cafeicultores paulistas, no período de 2000 a 2006.
Afinal, cadê todo esse café?
Os agentes de mercado formaram uma errônea impressão de que os estoques somados às safras pendentes são suficientes para o pleno abastecimento do mercado. Por mais otimistas que sejam os números utilizados nas previsões elaboradas, o cenário futuro é de grandes limitações na oferta com rápido enxugamento dos estoques. No Brasil, por exemplo, os estoques já se situam em nível próximo ao de 1996/97 quando a geada e a seca da safra 1994/95 reduziram de maneira acentuada a colheita da safra seguinte. No resto do mundo, também, não há existência de estoques capaz de fazer frente a qualquer distúrbio climático que venha a comprometer o abastecimento no médio prazo como secas, geadas, inundações e furacões.
A aposta dos agentes de mercado é a de que, com leve sinalização nas cotações, surja café das diferentes origens, recuperando os estoques existentes, fenômeno que realmente ocorreu entre dezembro de 2004 e março de 2005. Todavia, o contexto atual é muito mais restritivo em termos de oferta, pois muitas zonas ainda não se recuperaram do ciclo de crise e os investimentos realizados são escassos e insuficientes diante da necessidade mundial do produto.
Apenas no Brasil ainda ocorrem algumas inversões na atividade como a ampliação das áreas sob irrigação e o permanente empenho na melhoria da qualidade (introdução de descascadores, por exemplo). No restante do mundo, são totalmente inexpressivos tanto a ampliação das áreas cultivadas quanto o surgimento de novas fronteiras para a cultura. Em algum momento o blefe praticado pelos agentes do mercado será desnudado e as cotações poderão saltar para patamares muito elevados.
Desinteligência e covardia: razões da atual crise
Surpreende a inusitada apatia das lideranças do segmento. O resultado é o acentuado desinteresse das autoridades governamentais em implementar, urgentemente, um programa de ordenamento da oferta via lançamento de venda de contratos de opções para café arábica da safra 2005/06, com prazos de resgate de 6, 12 e 18 meses associados a pequeno subsídio ao prêmio pago para cada título comercializado (com finalidade de exercício de função educativa do mercado).
A venda de volume de contratos equivalentes a 4 a 5 milhões de sacas sinalizaria a todo o mercado que o governo brasileiro tem real compromisso com a defesa da renda de seus cafeicultores e, em conseqüência, de todo o agronegócio café. Devido à desinteligência e à covardia, a renda do cafeicultor novamente será transferida para os segmentos a jusante dessa cadeia, em particular as traders e as torrefadores internacionais.
O mais impressionante é a existência de experiência anterior de lançamento de contratos de opções que, além de coberta de êxito, forçou uma recuperação das cotações e rendeu excepcionais resultados para os cofres públicos, em particular ao Fundo de Defesa da Cafeicultura (FUNCAFE). Ademais, o momento atual é muito oportuno para a aposta em títulos financeiros, como é o caso das opções. Não existe analista do mercado de café que deixe de apontar para os fundamentos favoráveis ao incremento das cotações no médio prazo, com possibilidade de perdurarem durante os próximos três anos. Isto, mesmo considerando números inflados como a previsão estadunidense e sendo bastante conservador nas indicações sobre a evolução do consumo mundial.
A colheita ainda está em andamento, havendo espaço para que seja desenhada política pública capaz de trazer mais realidade às cotações vigentes nos mercados. Celebrar nossa liderança na produção, exportação e em breve no consumo não passa de panacéia se as ações estratégicas não se mostrarem arrojadas e eficazes.
Artigo publicado originalmente, em 21/07/06, em www.iea.sp.gov.br
Publicado no CaféPoint mediante autorização.