Fonte: Elaborado a partir de dados básicos de https://data.theice.com
A volatilidade média das cotações entre julho e agosto de 2014, manteve-se acima dos 45%, indicando que os agentes de mercado (investidores/especuladores) ainda não são capazes de interpretar com objetividade as repercussões da quebra de safra brasileira. Altistas e baixistas se revezam na formulação de argumentos convincentes que, por efeito manada, conduzem a amplificação da volatilidade.
Os riscos possuem sua taxonomia3, ainda que ambos trafeguem pelo espaço das expectativas (ou de sua frustração). Os riscos estão mais associados às possibilidades de cálculo estatístico considerando séries temporais (por exemplo: cotações, oferta, estoques, etc..), enquanto na incerteza não existem parâmetros mensuráveis. No risco existe algum conhecimento pregresso enquanto na incerteza nada sabemos. Conhecimento incompleto é manancial para erros de julgamento. Disso resulta o ofício cotidiano dos economistas na tentativa em trazer para o campo dos riscos, a incerteza que o futuro intrinsecamente carrega.
Fechando esse longo parêntese, o curso dos eventos é afetado tanto pelo risco quanto pela incerteza, sendo que nesse último não há hipótese para o cálculo racional. A falibilidade e a contingência determinam o porvir, por isso é totalmente incerto. Os pioneiros da ocupação dos cerrados, por exemplo, trilharam a estrada da incerteza, na medida em que, não havia história pregressa sobre a cafeicultura comercial naquela zona agroecológica.
O salto no patamar da volatilidade é sintomático de fenômeno que pautará, crescentemente a formação dos preços da commodity, qual seja: aumento substancial dos riscos e incertezas envolvidos nesse negócio4. Na atual conjuntura, a anomalia tem determinado a flutuação das cotações, mas a partir da normalização do clima nos cinturões produtivos brasileiros, o negócio não se afastará dos limites da incerteza, mas, pelo contrário, com ela terá que conviver ainda mais.
A cafeicultura brasileira marcha inexoravelmente rumo à profissionalização. Regiões como a dos Cerrados (mineiro e baiano) e a Alta Mogiana atestam a excelência (em produtividade e qualidade) que nos mercados granjeia essas origens. Essa especialização produtiva robustece a competitividade sistêmica do segmento, entretanto, carreia consigo imenso incremento do estoque de capital alocado na atividade (muito mais máquinas, equipamentos – irrigação - e infraestruturas) capaz de suportar o ritmo impresso pela tecnologia adotada na base física (lavoura/terra). Esse aumento do estoque de capital empregado no sistema produtivo torna as explorações mais atreladas aos humores do mercado financeiro, justamente o segmento econômico que maior e mais amplos riscos oferece5.
A macroeconomia global (excesso de liquidez; patamar das taxas de juros básicas; paridades cambiais; políticas soberanas de expansão ou retração fiscal), criam contextos que promovem amplas flutuações sobre o potencial de valorização do capital (sua razão de ser). Crise, como a de 2008, promoveu dilapidação do estoque de capital que procura se reinventar na ânsia por buscar novos espaços de valorização. Paradoxalmente, queima de capital é custosa, exigindo longo tempo para recuperação.
No percurso da trajetória de euforia financeira os agentes econômicos exibem tremenda preferência pela mercadoria que é imediatamente substituída, quando do colapso, pela preferência pelo dinheiro. A economia contemporânea se caracteriza pelo encurtamento desses ciclos, instabilizando os mercados e suas bases produtivas.
A procura por resultados no curto prazo (atualmente curtíssimo prazo no ambiente dos algoritmos) incrementa excessos do sistema, negligenciando riscos calculados e promovendo clima para instauração da incerteza nos negócios6, consequentemente, para a cafeicultura que se alicerça em capital.
O futuro para a cafeicultura acena com mais incerteza. Nesse contexto de instabilidades a adoção de estratégias medidas preventivas são crucialmente importantes. Por exemplo, devo adquirir uma colhedora ou contratar esse serviço? Comprar terra para iniciar uma lavoura ou arrendá-la? Posicionar o negócio em contratos de longo prazo ou se autofinanciar por meio do reinvestimento de excedentes? Enfim, expor-se aos humores da economia internacional, incrementando o estoque de capital exige extrema cautela.
1 Entenda-se por anomalia conjunto de fenômenos climáticos: estiagem; temperaturas médias (dia e noite) elevadas e alta incidência de radiação solar (seguidos dias sem nuvens).
2 É controversa a crença na capacidade dos fundos e grandes operadores de influenciar positiva ou negativamente a formação dos preços distanciando-se dos fundamentos que o produto contempla. Talvez exista uma maior intensidade nas flutuações que, porém, estão primeiramente correlacionadas com os fundamentos. Para detalhes ver:
SERIGATI, F & POSSAMAI, R. Formação dos preços agrícolas – fundamentos ou atividade especulativa? Agroanalysis, ago.2014. 13-15p.
ANDRADE, R. A construção do conceito de incerteza: uma comparação das contribuições de Knight, Keynes, Shackle e Davidson. Nova Economia, v.21, n.2. May/Aug.2011.
3 Riscos podem ser de: produção, mercado, contratuais, jurídicos, institucionais, tecnológicos, de liquidez. A natureza da incerteza (ausência de conhecimento) a torna exclusiva de si própria.
4 Vale aqui a analogia:
As atividades econômicas estão sujeitas ao risco.
Cafeicultura é atividade econômica.
Cafeicultura possui riscos.
5 A atividade agrícola é intrinsecamente uma ilha rodeada por riscos. Entretanto, para produção e preços há mecanismos protetores (seguro, hedge). Descartam-se os riscos: institucional (tabelamento de preços); tecnológicos (introdução imediata das nanotecnologias, por exemplo) e contratuais pela baixa probabilidade de vir a ocorrer no horizonte do provável.
6 POLMAN, P & ROTHSCHILD, L. de. A ameaça capitalista ao capitalismo. Jornal Valor Econômico. 27/05/2014.
Conter-se, quando os outros enlouquecem, é o último poder da razão.
Renato Janine Ribeiro – Filósofo
Por Celso Luis Rodrigues Vegro, engenheiro agrônomo e pesquisador científico VI - Instituto de Economia Agrícola - celvegro@iea.sp.gov.br