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Diferenças entre preços regionais do café e hedge no Mercado Futuro

POR CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

E FÉLIX SCHOUCHANA

CELSO VEGRO

EM 21/12/2015

4 MIN DE LEITURA

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Por Celso Luis Rodrigues Vegro, engenheiro agrônomo e pesquisador do IEA, e Félix Schouchana, economista, professor e consultor

Quando o gestor de cooperativa de cafeicultores efetua o hedge do produto na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) a pedido de seus cooperados, conhece de antemão que não irá receber o valor integral do contrato de café arábica negociado no mercado futuro, a menos que deposite seu café em armazém credenciado no ponto de entrega definido pela Bolsa (município de São Paulo).

As cooperativas de café possuem armazéns em suas respectivas regiões de atuação. Assim, ao contratarem o hedge na Bolsa, irão receber pela cotação no vencimento do contrato, menos a chamada “base”, constituída pela diferença entre o preço regional à vista e a cotação na Bolsa, do primeiro vencimento em aberto.

Os fatores determinantes na formação da cotação base são: a diferença de qualidade do café nos diversos cinturões produtores e frente ao padrão do contrato da bolsa (tipo 4/5, ou melhor, bebida dura para melhor), o frete entre a região e o ponto de entrega da bolsa, momento de safra (frete mais caro) e entressafra (frete menos caro), ou eventuais problemas logísticos nas respectivas regiões.

A base consiste em média dos últimos cinco dias antes do vencimento do contrato futuro. Para descobrir quanto oscila a base, calculou-se o desvio-padrão da base (risco de base) nesses mesmos cinco dias antes do término do contrato futuro, para cada vencimento da bolsa.

Exemplificando, supondo que uma cooperativa localizada no Cerrado de Minas Gerais queira fazer o hedge da cotação do café na BM&F para o vencimento futuro em março de 2016, sob esses parâmetros, em 27/11/2015, a cotação de ajuste para março/2016 foi de US$151,35/sc. Assim, quanto receberá a cooperativa, se fizer o hedge na bolsa, na sua região (Cerrado) no vencimento do contrato (sétimo dia útil antes do final de março/2016)?

Para calcular a base do Cerrado, tomou-se o período entre janeiro de 2013 e setembro de 2015 e respectivos meses de negociação de futuros de arábica. Em seguida, calculou-se a diferença entre o preço diário a vista do Cerrado (apurado pela ESALQ para a mesma qualidade de café do contrato futuro) e o primeiro vencimento em aberto do café na BM&F, para cada vencimento negociado na bolsa. A tabela 1 apresenta os resultados do primeiro vencimento da série.

Tabela 1 - Exemplo de Cálculo da Base e de seu Risco para o Cerrado, Estado de Minas Gerais, com Vencimento em Março/2013



Reproduzindo o cálculo para os demais vencimentos consecutivos até o mais recente (setembro/2015), obtêm-se os resultados da base e do risco de base do café no Cerrado (Tabela 2).


Tabela 2 - Cálculo da Base e do Risco de Base, Café Arábica, Cerrado, Estado de Minas Gerais, Vencimentos de Março/2013 a Setembro/2015


As diferenças obtidas tiveram expressiva oscilação no período em foco, com a base na mínima de R$18,78/sc. em março de 2013, até a máxima de R$108,40/sc. em maio de 2015.

Assim, no caso exemplificado, o preço recebido esperado no vencimento do contrato de US$151,35/sc. (preço hedgeado na bolsa) será aquele obtido por meio da retirada da base calculada e do desvio-padrão da base (na pior hipótese). Ademais, levando-se em conta o dólar futuro negociado na BM&F no dia 27/11/15 para março de 2016 na Bolsa (R$3,888), o preço em reais do café para março/2016 seria de R$588,45/sc. ou US$151,35. Deduzindo-se a base obtida em setembro/2015, de -R$92,00/sc., e o risco de base de -R$8,44/sc., chega-se a um preço de R$488,00/sc. no Cerrado. Para efeito de comparação, no dia 27/11/15 o preço à vista do café no Cerrado foi cotado a R$472,56/sc., para café da mesma qualidade do contrato futuro da bolsa.

Para os demais cinturões cafeicultores (sul de Minas, Zona da Mata, Garça e noroeste do Paraná), calculou-se igualmente a base e o risco de base médio no período de janeiro de 2013 a setembro de 2015 (Tabela 3).



O café do Cerrado apresentou a menor base entre as cinco regiões. A razão disso é que provavelmente nessa região se produz um café de qualidade mais próxima ao padrão definido pela Bolsa brasileira.

Resultado interessante obtido foi o de risco de base nas cinco regiões, que se mostrou bem próximo um do outro, entre R$6,00/sc. e R$6,68/sc., na média.

No outro extremo, no noroeste do Paraná, encontra-se a maior base negativa, de -R$84,22/sc., talvez devido à qualidade inferior do café em relação ao padrão da Bolsa e ao elevado frete entre essa região e o município de São Paulo.

Outro resultado a ser destacado consiste no expressivo aumento da base na região do Cerrado entre dezembro/2014 e maio/2015, superando os -R$100,00/sc. Essa alta se repete nesse período em anos anteriores, embora não na mesma magnitude. A hipótese é de que nesse período há uma grande quantidade de café sendo exportada e, por isso, o frete do café se eleva de forma pronunciada. Adicionalmente, nova legislação sobre o trabalho dos caminhoneiros pode ter contribuído em parte para esse aumento no frete.

Concluindo, o conhecimento da base e do risco de base do café permite ao produtor calcular o quanto irá efetivamente receber na sua região ao fazer o hedge na Bolsa. Além disso, ele pode saber com antecedência o quanto pode deixar de desembolsar, caso opte contratar o frete fora do período de alta desse serviço.

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Pesquisador Científico VI do IEA-APTA/SAA-SP

FÉLIX SCHOUCHANA

Economista, Pós-Graduação em Economia, com especialização em Mercados Agrícolas, Diretor da BM&F de 2003 a 2008, Atualmente na Market FS Consultoria e Treinamento Ltda.

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CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 14/01/2016

Prezado Marcelo Gusmão

Grato pelo prestígio.

Att

Celso Vegro
MARCELO A. B. DE GUSMÃO

JUNDIAÍ - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 24/12/2015

Excelente matéria. Ensina até os mais antigos.

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